*Tania Machado
Em um momento em que temos falado tanto sobre envelhecer com dignidade e com saúde precisamos lembrar o quanto a medicina e a ciência avançaram na promoção e prevenção à saúde e bem-estar, é impossível não se indignar quando vemos algumas coisas indo tão no sentido oposto.
Não sou médica, mas atuo nesse segmento da saúde há 21 anos e vejo os esforços. Além disso, recentemente criei juntamente com minha sócia, nossos embaixadores amigos e especialistas um movimento chamado Somos 60+ que tem como premissa principal garantir que essa fatia tão relevante da nossa população seja vista e atendida, com carinho, compreensão, respeito e inclusão. Por isso, mais do que um desejo, vejo-me na obrigação de opinar.
A iniciativa de incluir a velhice na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), mantida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi destaque na imprensa, nos levando a inúmeras reflexões e, principalmente, preocupações.
Desde 1975 até 2025 estamos vivendo a “Era do Envelhecimento” de acordo com a ONU. É fato que o mundo está envelhecendo. Menos pessoas nascendo e a longevidade aumentando. Até 2050 serão cerca de 2 milhões de pessoas com idade acima de 60 anos e 80% viverão em países em desenvolvimento. No Brasil, hoje são mais de 34 milhões de idosos. O mundo está sim ficando mais maduro e grisalho e as pessoas com mais idade mantêm-se ativas
É incontestável que isso é sim fruto de tudo o que foi trabalhado, pesquisado, implementado e que temos tentar enraizar na nossa sociedade. Os direitos (e deveres) das pessoas idosas passaram a ser analisados por cientistas jurídicos e sociais, e a velhice passou a ser entendida como direito fundamental, representação do próprio direito à vida, nos últimos anos. E temos isso garantido na Constituição Federal.
Apesar de saber que na prática isso não acontece, os direitos da pessoa idosa, que envolve saúde, trabalho, assistência social, educação, cultura, esporte, habitação e meios de transporte, estão regulamentados pela Política Nacional do Idoso e, também, pelo Estatuto do Idoso.
CID e o direito de envelhecer
É inevitável não pensar no risco que criar um CID para “senilidade” traz. Isso inclui vários aspectos, como mascarar problemas de saúde reais, aumentar o preconceito contra idosos e interferir no tratamento e na pesquisa de problemas de saúde e na coleta de dados epidemiológicos, que tanto ajudam na promoção e na prevenção da saúde.
Partilho da visão da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) de que é inadmissível colocar a velhice como uma doença. O envelhecimento é um processo natural e, em hipótese alguma, pode ser considerado passível de “cura”.
Conquistamos o direito de envelhecer e isso precisa ser celebrado em paralelo a construção de políticas e projetos capazes de prover a esperada qualidade de vida para a geração longeva. Estimulando a autonomia a independência do idoso e não o colocando como doente. Isso é etarismo, preconceito, e é tudo o que a gente tem lutado contra.
Sabemos que existem iniciativas mundiais, como a do epidemiologista Alexandre Kalache, do Centro Internacional de Longevidade e também presidente da Aliança Global de Centros Internacionais da Longevidade; da Federação Internacional do Envelhecimento (IFA), a Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria e a HelpAge International questionando essa decisão da OMS. E nós do Somos 60+, assinamos em baixo.
*Tania Machado
É sócia do Movimento Somos 60+, plataforma de conteúdo e inclusão que gera informações relevantes e conecta pessoas que se dedicam a ofertar serviços e produtos para essa parcela da população.
(Fonte: SC Comunicação e Conteúdo / Associação Brasileira dos Profissionais de RH / Imagem principal: Carro foto criado por freepik – br.freepik.com)