O Seminário Velhices LGBT, realizado nos dias 12 e 13 de agosto pela Associação EternamenteSOU em parceria com o Sesc Pompeia, terminou com a expectativa de uma quinta edição presencial ou no formato híbrido. Além do anúncio de uma novidade: o lançamento em outubro do livro “O Brilho das Velhices LGBT”. O segundo dia do evento debateu temas como gênero, raça, sexualidade e diversidade intergeracional.
Rogério Pedro, presidente da EternamenteSOU em destaque na imagem principal, ressaltou como vem surgindo um novo olhar sobre as velhices LGBT, entrando na pauta inclusive do Congresso Nacional. E a necessidade que o debate vá além do seminário e abra caminhos para ideias de criação de políticas públicas, inquietando governos e pessoas.
No segundo dia do seminário, Tchaka Drag Queen deu as boas-vindas na primeira mesa para Barbara Silva, poeta, dramaturga, uma das fundadoras da Padê Editorial, selo independente de publicações de pessoas LGBT+ e mulheres negras; e Liliane Rocha, CEO e fundadora da Gestão Kairós, consultoria em Sustentabilidade e Diversidade.
A mesa também contou com Ale Mujica, doutora em Saúde Coletiva e pesquisadora nos campos das questões Trans (transexualidades, travestilidades e transgeneridades), saúde LGBT, gênero e saúde. O debate foi centrado nas questões de gênero, raça e envelhecimento.
Liliane destacou que embora se fale mais e mais sobre diversidade, o percentual em cargos de alta liderança nas empresas não aumentou mas caiu de acordo com um levantamento recente. Para ela, há um “delay” entre a informação e conscientização e a ação nas empresas. Trouxe ainda a expressão “gaytriarcado”, que hegemoniza as questões LGBT dentro de uma sistemática do homem gay branco, e salientou que é preciso atenção ao que hegemoniza a narrativa e conta uma história única.
Potencialidade e acolhimento
Ale Mujica frisou a abordagem fisiológica quando se fala em envelhecimento e saúde LGBT, deixando de lado as questões psicossociais, sem pensar na potência do corpo que envelhece, e pode encontrar outras formas de afeto, desejo, prazer e movimento. Um reconhecimento de que nem todos corpos são da mesma forma.
Outro ponto foi a necessidade de um acolhimento diferenciado, construído por e com a população LGBT. Espaços de dignidade e pluralidade para pensar o envelhecimento, o cuidado e sexualidade. Semelhante à própria pele que permite o intercâmbio com diferentes espaços, mas também é uma camada protetora.
Sexualidade
Cláudia Reis, mestra em Educação pela UNIRIO e pesquisadora do Laboratório GESER: Estudos em Gênero, Sexualidade e Raça, comandou a última mesa do evento com Luís Baron, vice-presidente da EternamenteSOU; Mariana Aguiar, assistente social com experiência em cuidados paliativos, e João Doescher, coordenador de programação do Sesc Registro, cidade do interior de São Paulo.
A necessidade de dados e números sobre a população LGBT+ para que sua existência tenha valor social propriamente dito, foi um dos pontos destacado por Claudia. Assim, deixa-se de simplesmente existir e resistir para uma cidadania plena.
Luís Baron falou sobre “Libido, tesão e opressão”. Luís acredita que não existem modelos de relacionamentos, existem sim as pessoas e suas demandas íntimas. A luta é para que a velhice seja mais confortável, não seja um peso tão grande. E perguntou: “como a comunidade LGBT+ vai lidar não só com a velhice, mas com questões internas e externas?”
O vice-presidente da EternamenteSOU destacou que cabe às pessoas velhas entender as demandas novas da comunidade e o movimento dessa sociedade. “Ficar mais velho não é ignorar o que é mais novo, ao contrário, o novo sempre vem, e não quer dizer que eu tenho que me retirar”, concluiu.
Gênero e raça
Mariana Aguiar frisou a imposição da heterossexualidade e as categorias inter-relacionadas, como a raça. As pessoas idosas LGBT vivenciam diferentes formas de desigualdades de experiências, assim como a população negra, majoritariamente mais pobre e mais propensa a doenças físicas e mentais. Quando esses dados se cruzam, verifica-se que as pessoas idosas negras LGBT morrem mais cedo, ou seja, não chegam ao envelhecimento.
Há pessoas, de acordo com Mariana, que vivenciam ao mesmo tempo o etarismo, a invisibilidade, o racismo e a lgtfobia. Além dos direitos sociais perdidos a cada momento, a rede de suporte social é frágil, geralmente houve o rompimento com familiares com a expulsão do lar, o que aumenta as vulnerabilidades e as condições de adoecimento. É preciso dar voz a essas pessoas, fazer pesquisas para fortalecer a energia vital destinada apenas para se manter vivo e resistir.
Diversidade
“Sexualidade e diversidade intergeracional” foi o tema de João Doescher, que falou sobre os padrões corporais, ligados ao imaginário acordado na sociedade, uma forma única que dificulta a promoção da diversidade. E o resultado para quem não consegue atingir o corpo divulgado socialmente, é rejeição e não pertencimento.
João apresentou o conceito de corpo sociocultural, que permite uma visão critica do corpo e do papel da sociedade e quebra o estereótipo do corpo padrão. E o papel da educação e cultura como proposta para esta transição. É preciso bater de frente com padrão, atento as possibilidades além do que está estabelecido.
Sobre intergeracionalidade, João destacou a importância da interação e mediação entre gerações e grupos para a promoção de novos acessos e respeito à diversidade e contribuindo para ruptura de um único padrão. Uma aproximação que pode ter atritos, mas também nas divergências é possível pensar na coletividade colaborativa para melhorar o contato entre grupos e gerações.