Depois que comecei a me interessar pela temática do envelhecimento busquei um curso que pudesse ampliar meus conhecimentos e me dar a certeza que eu queria me dedicar a este segmento. Encontrei tudo isso no Curso Básico de Gerontologia do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) José Ermírio de Moraes. Essa semana pude ampliar meus conhecimentos e aprender mais novamente por meio do IPGG. Na segunda e terça, dias 4 e 5 de novembro, o Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, recebeu o XI Simpósio de Geriatria e Gerontologia do instituto. Saiba mais sobre o IPGG e o curso de Gerontologia no site.
Com o tema “Cuidado geriátrico-gerontológico centrado na pessoa: potências e desafios de envelhecer na comunidade”, o Simpósio do IPGG foi aberto com apresentações de dança e do grupo de Coreografia do instituto. Depois foi a vez do prof. dr. Wilson Jacob Filho (foto principal). O médico geriatra e professor da disciplina de Geriatria da Faculdade de Medicina da USP destacou a mudança do cenário coletivo e individual diante do envelhecimento da população.
A situação brasileira foi comparada aos países que oferecem menos e mais oportunidades para envelhecer no mundo. Serra Leoa (41,4 anos) e Japão (80,4 anos), respectivamente. Os dados correspondem a expectativa de vida ao nascimento 1999-2001. E no Brasil (70,2) ou mesmo na cidade de São Paulo a esperança de vida ao nascer pode representar estes dois extremos.
Segundo o médico geriatra onde se vive mais se perde menos tempo doente, enquanto o contrário acontece onde se vive menos, com maior tempo dependendo de alguém ou de um sistema para sobreviver. No Japão, este período é estimado em cerca de seis anos, no Brasil 11 e em Serra Leoa mais de 15 anos. Estes são o Daly Médio entre a expectativa de vida ao nascer e a expectativa de vida saudável. O Daly mede os anos de vida não saudáveis e os perdidos por morte prematura.
O desafio para Jacob Filho é a sustentabilidade do envelhecer diante das demandas assistenciais, dos novos cenários sociais e também dos sistemas previdenciários. O ideal, segundo ele, é que o indivíduo possa dar conta de si mesmo, mantendo sua autonomia e independência. E ter uma ou mais doenças não é sinônimo de ser doente.
Para o público que lotou o auditório do Simpósio do IPGG, a pergunta: “Estamos preparados para envelhecer?”. Para o médico geriatra, nossa sociedade não está, mas estamos avançando. Como exemplos o aumento do limite de idade para doação de sangue que passou dos 60 para 69 anos, como também para o transplante de órgãos. Hoje o limite de idade é de 75 anos para rins, 70 para fígado e 65 para peles, ossos e válvulas cardíacas. Para córneas não há limite.
Quedas
O segundo conferencista do Simpósio do IPGG foi o prof. dr. Sérgio Márcio Pacheco Paschoal, também da Faculdade de Medicina da USP, com o tema “Estamos negligenciando este gigante geriátrico-gerontológico em todas as modalidade do cuidado?”. Para o professor quedas têm efeitos devastadores sobre a velhice, sendo uma causa importante de morbidade e mortalidade.
A queda como síndrome geriátrica pode ser um marcador de uma doença aguda, como uma infecção; manifestação de uma doença crônica como demência, ou estar relacionada ao envelhecimento, associada à visão, marcha, equilíbrio, entre outros fatores. Os impactos são sociais em famílias cada vez menores que precisam se organizar para o cuidado, e econômicos com custos de internação e consultas.
A melhor estratégia para a prevenção de quedas, segundo Paschoal, é uma avaliação multifatorial para uma intervenção multidimensional, envolvendo diferentes setores, profissionais e especialidades. De forma a minimizar riscos sem comprometer a mobilidade e funcionalidade do indivíduo. Para ele, uma semana de prevenção de quedas no mês de junho não é suficiente, é preciso que a prevenção seja rotina.
O professor defende que apenas a segurança ambiental (calçadas, acessibilidade) e no domicílio não resolve a questão, é preciso cuidar da saúde de forma integral para prevenir a ocorrência de quedas. E nos serviços de saúde e instituições de longa permanência envolver e preparar profissionais e gestores na construção de uma linha de cuidado de queda. Derrubando pré-conceitos como “atender idoso é semelhante a atender adulto” e o mais comum “cair é normal na velhice”.
Sarcopenia
“A correlação entre sarcopenia e quedas” foi o tema abordado no Simpósio do IPGG pelo professor de Geriatria da Santa Casa de São Paulo e da Faculdade de Medicina do ABC, dr. Marcelo Valente. A sarcopenia é a perda de força e massa muscular, sendo uma das dimensões da síndrome de fragilidade e fator de risco para quedas. Em conjunto com a perda de força óssea (osteopenia) pode levar a ocorrência de fraturas que podem levar a incapacidade e aumentar o risco de morte.
O professor destacou a abordagem preventiva e terapêutica, incluindo a necessidade de exercícios físicos orientado por profissionais com atividades resistidas, aeróbicas, de equilíbrio e flexibilidade; suporte nutricional proteíco e suplementação de cálcio (entre as fontes naturais leite, iogurte, queijos, brócolis, ovo, peixe e feijão) e vitamina D (obtida na exposição ao sol sem protetor solar e em fontes naturais como salmão, atum, sardinha e cogumelos).
Alta hospitalar
“Do hospital para casa: o que há de se cuidar nessa transição?” foi o tema da dra. Fernanda de Carvalho Affonso, diretora técnica do Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II, pertencente à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Segundo ela, vem caindo o número de hospitais, de leitos e da média de permanência em internações. Porém o tempo é maior para pessoas de acima de 75 anos, em torno de oito dias, enquanto para pessoas entre 60 e 74 anos, é de aproximadamente cinco.
Fernanda ressaltou no Simpósio do IPGG a necessidade de uma alta estruturada e personalizada que reduz o tempo de internação e o risco de uma nova internação em um curto período de tempo. Ações que já estão previstas em manuais do Ministério da Saúde e na Política Nacional de Atenção Hospitalar de 2013 (acesse aqui).
No artigo 16 da Política Nacional de Atenção Hospitalar, a alta hospitalar responsável, entendida como transferência do cuidado, prevê orientação de usuários e familiares/cuidadores, reforçando a autonomia do sujeito, proporcionando o autocuidado, e a articulação com os demais pontos de atenção das redes de atenção à saúde, em particular à atenção básica.
A manhã do primeiro dia do simpósio do IPGG terminou com a conferência “Anticoagulação e arritmias no idoso”, do prof. dr. Argemiro Sctaolini Neto, da Santa Casa de São Paulo. Segundo ele a fibrilação arterial aumenta com a idade, com maior risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) Isquêmico ainda mais associada a doença vascular, hipertensão e diabetes.
O uso de aspirina, segundo o médico, não é mais recomendado para a prevenção de AVC em pacientes com fibrilação. Os anticoagulantes recomendados atualmente são varfarina e se os pacientes foram elegíveis o melhor seriam os anticoagulantes orais diretos (DOACs). Leia sobre a tarde do primeiro dia do evento aqui. Em breve mais matérias sobre o simpósio no blog. (Katia Brito)