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Saúde & Bem-estar

Arteterapia acessa emoções e memórias de afeto

O distanciamento social impacta as pessoas de forma diferente durante a pandemia de Covid-19. Situação que reforça a necessidade de escuta, ou seja, de parar e ouvir as pessoas, de acolher principalmente idosos, também o resgate de emoções e histórias que revelam as potencialidades de cada um. Uma imersão que pode ser feita por meio da arteterapia, como explica Jane Barreto.

Pela definição da American Art Terapy Association (Associação Americana de Arterapia), a arteterapia é uma proposta de práticas terapêuticas, que consistem em utilizar diferentes recursos expressivos presentes nas linguagens da arte, facilitando aos praticantes o acesso ao universo simbólico, real e imaginário, possibilitando novas descobertas e o autoconhecimento.  

Para Jane, a arteterapia consiste em recorrer ao universo interior, às emoções, trilhando um caminho até o inconsciente, percebendo sentimentos e emoções, construídos do nascimento e antes dele, por meio de uma imersão nas artes, utilizando técnicas da linguagem artística, corporal, visual e também musical. Ela cita o exemplo de uma vivência arteterapêutica corporal realizada em parceria com Deise Alves, educadora e bailarina, que foi diretora cênica do grupo Barbatuques.

“A proposta era a percepção e expressão do corpo até chegar a prática de uma dança. A dança aconteceu no final e entrei com a linguagem da fotografia. Tinha pedido aos participantes fotos de quando eram bebês. Um exercício de buscar na memória afetiva o corpo que via na foto, que revela a essência de uma mesma pessoa, mas não é o mesmo corpo de hoje na vida adulta madura, passou por transformações, construindo uma nova identidade, mas mantendo memórias de afetos”, explica.

O movimento para a construção de uma nova identidade, segundo a especialista, acionou o hipocampo, parte do cérebro responsável pelo equilíbrio corporal e a memória curta e longa de afeto. “Foi uma imersão nesse corpo que já foi um bebê acalantado, no acolhimento materno. As pessoas foram se enxergando, lembrando que tinham uma história. Um resgate da história, da identidade, de referências”, complementa a arteterapeuta.

O resultado de vivências como esta, de acordo com Jane, vai além do impacto do momento: “Trabalho com corpo, música, artes visuais e outras linguagens. Ações que não param em um exercício, continuam no dia a dia. Sou uma fonte, só trago um pouco de conhecimento que permite ao participante, por exemplo, olhar ao redor, contemplar um prato de comida de forma sensível, perceber texturas, sons, aromas, cores… ser alimentado na sua alma, como também mudar a percepção sobre o mover-se em casa, respirar”. Uma experiência que possibilita desacelerar as toxinas do cérebro e ativar a neuroplasticidade, algo tão importante para superar este momento de pandemia.

Carreira

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Arteterapeuta, pedagoga, psicopedagoga e mestre em Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão social, Jane Barreto (foto/Divulgação) é idealizadora e professora do curso Criativa Idade na ESPM (leia mais no blog Nova Maturidade). Foram muitos anos trabalhando com o público infantil e jovem, até que, em 2012, iniciou o mestrado focado na reabilitação de pessoas a partir de 60 anos que sofriam de desequilíbrio corporal.

As pesquisas com arteterapia então se voltaram aos idosos e a aproximaram de diferentes realidades, com a participação em ações de impacto social direito em comunidades e associações, como também com grupos de maior poder aquisitivo como é o caso da ESPM. Experiências que têm em comum reunir diferentes gerações, a intergeracionalidade. Uma das ações com fundamentos arteterapêuticos no Criativa Idade, por exemplo, é a preparação para produção de uma música para uma instituição parceira que atende crianças, além do trabalho de apadrinhamento.

No ano passado, a música foi “A Casa”, de Vinícius de Moraes

Com as atividades presenciais do Criativa Idade suspensas, a própria Jane precisou aprender a superar as dificuldades e ser criativa para lidar com a tecnologia: “Minhas atividades sempre foram presenciais, atuo como mediadora, olho no olho, de forma afetiva, e agora tive que buscar ferramentas para aprender e reinventar”.

Um desafio que também vem sendo superado pelos idosos: “Esse público está indo atrás de novas possibilidades e aprendizados. Muitos não se intimidam diante das ferramentas. Quando querem aprender, correm atrás de possibilidades, participam de palestras, oficinas, aprendem juntos. Claro que há um grupo completamente excluído, que estamos tentando trazer para perto, ajudando, colocando jovens em contato. Ações que estão impactando vidas em todas as criativas idades”, conclui. (Katia Brito / Imagem de Stefano Ferrario por Pixabay )

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