Mais que a jornada de uma menina em busca do seu lugar no mundo, a série “Anne with an E”, com três temporadas na Netflix, fala também sobre velhices. É o que estudar Gerontologia faz com você, tudo ganha uma nova perspectiva, e o foco rapidamente muda para as pessoas idosas, suas demandas e desafios. A produção canadense é baseado no livro “Anne de Green Gables”, de Lucy Maud Montgomery.
No final do século XIX, a adolescente Anne Shirley (Amybeth McNulty) é adotada pelos irmãos Marilla (Geraldine James) e Matthew Cuthbert (R.H. Thomson). Já idosos, eles pedem a um orfanato um menino para ajudar nos afazeres da fazenda, e recebem Anne, uma adolescente ruiva, muito falante e curiosa.
A menina desperta os irmãos para a vida. Depois da morte do irmão mais velho e da depressão da mãe, Marilla e Matthew passaram anos juntos, se apoiando, mas abandonando sonhos. Um perfeito cemitério de esperanças enterradas, como a frase gravada em uma das árvores da abertura da série. Enquanto Anne para fugir de uma realidade de pobreza e violência, deu asas à imaginação. Na foto principal, a jovem e os irmãos.
A vinda da menina também movimenta a comunidade, que a recebe com preconceito por ser uma órfã, pelos cabelos avermelhados e pela idade dos pais adotivos. Curiosamente, um dos primeiros julgamentos vem de um grupo chamado de Mães Progressistas. Em um evento da nova família, as perguntas eram se os irmãos estavam senis ou precisavam de alguém que cuidasse deles na velhice.
Vida nova
Aos poucos os preconceitos vão sendo vencidos, assim como o coração dos irmãos amolece e abre espaço para a nova integrante da família. Como diz em uma ocasião Rachel Lynde (Corrine Koslo), amiga de Marilla, Matthew depois da morte do irmão entrou no celeiro da família e nunca mais havia saído de lá, assim como a irmã enfrentou a vida com rigidez.
Anne muda tudo na vida dos irmãos e também da comunidade preconceituosa e machista. Matthew descobre um amor diferente, que faz com que abra mão até de uma nova chance ao lado da independente Jeannie Pippett (Brenda Bazinert).
Falando em velhices, Rachel é idosa e tem um casamento feliz com Thomas (Philip Williams), com quem teve dez filhos. Ativa nas atividades da comunidade, convivendo com as diferentes gerações, ela também gosta de cuidar da vida alheia. Como todos, se adapta às novidades, abrindo seu caixão mental para, por exemplo, a chegada do primeiro homem negro na cidade, Sebastian “Bash” LaCroix (Dalmar Abuzeid).
E grandes palavras são necessárias para expressar grandes ideias, também frase da abertura de “Anne with an E”. São ideias de liberdade, de poder ser quem se quer ser, como a tia Josephine (Deborah Grover), outra idosa com uma trajetória completamente diferente. Ela viveu um grande amor ao lado de outra mulher, em um tempo em que não era permitido. As duas se apresentavam como amigas que viviam juntas para a família.
Desafios para a idade, desafio para as mulheres em um tempo em que eram criadas para serem damas, esposas e mães. Mas o mundo se transforma. São muitas as velhices, porque são muitas as possibilidades, sem certo ou errado. “A vida curta e o mundo é grande”, diz a tia Josephine em um dos episódios. A não mais tão rígida Marilla também afirma que a mudança é a única maneira de crescer e aprender. Aprender com as novas gerações, com o mundo, com a vida. (Katia Brito / Foto: Divulgação)