Década do Envelhecimento Saudável - OMS
Iniciativas & Projetos

OMS lança Década do Envelhecimento Saudável

Um dos marcos desse mês de outubro foi o anúncio da Estratégia Global da Organização Mundial da Saúde (OMS), que liderará a Década do Envelhecimento Saudável 2020-2030, alinhada a agenda 2030 das Nações Unidas e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A inciativa foi divulgada no dia 1º de outubro, Dia Internacional da Pessoa Idosa.

A Década, segundo a entidade, será um esforço mundial para alcançar vidas mais longas, mas também saudáveis. As áreas de ação serão o combate ao preconceito etário, ambientes amigáveis aos idosos, alinhamento de sistemas de saúde e cuidados de longo prazo.

Os dez anos de colaboração sustentada serão centrados nos próprios idosos, e devem reunir governos, sociedade civil, agências internacionais, profissionais, academia, mídia e setor privado em ações para melhorar a vida dos idosos, de suas famílias e comunidades. Leia o texto completo da Década do Envelhecimento Saudável no link.

Simpósio virtual

A iniciativa foi um dos temas do Simpósio Virtual Latino-Americano de Envelhecimento Ativo e Saudável, promovido pelo Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR, sigla em inglês), entre os dias 19 e 21 de outubro. Segundo Alexandre Kalache, referência mundial em envelhecimento, presidente do ILC-BR e mediador do evento, “ainda se fala do envelhecimento como fardo, mas é a grande conquista social”.  Por isso, seu mantra sobre se preparar para o envelhecer: “quanto mais cedo melhor, nunca é tarde demais, sempre haverá ganhos”.

Um dos palestrantes foi Bernardino Vitoy, especialista em saúde familiar e comunitária, que atua no departamento de gênero, família e curso de vida da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), substituindo Lely Guzman, coordenadora da OPAS no Brasil. Segundo ele, embora boa parte dos países tenha alguma estratégia ou plano na área da saúde da pessoa idosa, o tema ainda é de baixa prioridade e é colocado da forma que deveria. Vitoy destacou a necessidade de transformar o paradigma do envelhecimento em vez de problema em oportunidade.

Para o especialista, a proposta da Década mostra que é um trabalho de todos e não apenas do setor saúde. Assim, é preciso pensar também em transporte, moradia, acesso aos serviços, previdência, segurança social, formando um conjunto de iniciativas coordenadas por meio de alianças estratégicas. Medidas que ultrapassem os territórios, respondam a necessidades reais da população idosa e propiciem a participação, incluindo ainda familiares e cuidadores.

A saúde, na opinião de Vitoy, pode liderar este processo, mas precisa construir e trabalhar com outros setores, pois problemas complexos requerem a participação de muitos atores com olhares diferentes, criando um grande pacto de mobilização social pelo envelhecimento ativo e saudável. Com esperança e otimismo, ele acredita que a Década vai permitir a construção de uma agenda positiva para um futuro próspero com envelhecimento saudável e ativo e ampla participação das pessoas.

Políticas públicas

Outra palestrante foi Marilia Louvison, professora Faculdade de Saúde Publica da USP e integrante do conselho diretor da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Para ela, se as políticas públicas fossem mais acertadas não teríamos tantos idosos mortos pela Covid-19 no país.

Houve décadas de grandes avanços municipais e estaduais, na avaliação de Marília, mas é preciso uma revolução do cuidado que responda a revolução da longevidade, o que demanda financiamento, redes de cuidado, atenção aos cuidadores e aos cuidados de longa duração.

Outro ponto importante é o combate ao preconceito. A professora afirmou que o idadismo está na centralidade das políticas e o idoso não pode ser considerado o algoz, enquanto ele é a parte vulnerável que precisa ser cuidada e protegida. Ela acredita que olhar para as necessidades da população idosa é colocar recursos e vontade para constituir políticas públicas que reconheçam a transversalidade do envelhecimento.

Alexandre Kalache e Marília Louvison - Simpósio Virtual Latino-Americano

Integração

Cristina Hoffman, assessora da área da Saúde para Pessoa Idosa do Ministério da Saúde, falou sobre a Década do Envelhecimento Ativo e Saudável e o grande desafio de viver mais com qualidade de vida. Há, segundo ela, uma série de questões e ações necessárias para que cheguemos nessa Década com sistemas integrados por diferentes setores. Cristina reforçou a necessidade de inserir o  tema do envelhecimento nas agendas técnica e política.

As pessoas, de acordo com a assessora do ministério, vivem nas cidades, nos bairros, nas comunidades, por isso é importante que esses ambientes atendam suas necessidades. Os desafios está em uma mudança do paradigma do cuidado, focado em menos cura e no atendimento de doenças, e pensando de forma longitudinal. Para ela, é fundamental que os idosos possam manter a autonomia e independência pelo maior tempo possível.

A importância do combate ao preconceito e dos estigmas em relação à pessoa idosa também foram defendidos por Cristina. Para ela, falta o reconhecimento do papel social do idoso e os próprios idosos por vezes têm falas de preconceito por não querer se identificar com a visão de doença e dependência. Embora, em torno de 70% seja autônoma e independente.

Saúde

Maísa Kairalla, médica geriatra e presidente da comissão de imunização da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, também participou do evento e destacou a imunização no contexto de prevenção. Segundo ela, a vacinação atua como fiel da balança para que o equilíbrio seja mantido diminuindo risco de doenças infectocontagiosas e, reduzindo assim o número de internações, reinternações e de letalidade.

Lessandra Michelin, diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia, falou sobre a doença pneumocócica, seus custos e imunização.  Segundo ela, pacientes com doença pulmonar têm mais chance de desenvolver um quadro grave de pneumonia. É recomendado que as pessoas acima de 60 anos tomem as vacinas pcv13 e ppv23, porém, apenas a segunda está disponível na rede pública para casos específicos. Lessandra destacou a necessidade de aumentar a cobertura vacinal e focar em ações também em instituições de longa permanência, imunizando residentes e funcionários.

LLessandra Michelin - Simpósio Virtual Latino-Americano

Mônica Perracini, professora da pós-graduação em fisioterapia da Unicid e consultora em cuidados de longa permanência da OMS abordou a prevenção de quedas. Segundo ela, perguntas sobre quedas e declínio da mobilidade devem estar presente em todas as oportunidades possíveis nos serviços de saúde seja qual for a especialidade.

Para a prevenção efetiva de quedas, a especialista recomenda a revisão de medicamentos, avaliação da visão, exercícios multimodais, avaliação do ambiente domiciliar e o suporte a cuidadores familiares de idosos com declínio cognitivo grave (demências) ou mobilidade comprometida (Parkinson ou sequelas de AVC – Acidente Vascular Cerebral).

A preocupação de Mônica, porém, é deixar claro que a queda não é normal na velhice, por isso é importante se manter física e mentalmente ativo pelo maior tempo possível, e monitorar a segurança do ambiente e questões  comportamentais com educação para a prevenção de quedas. Da mesma forma, as cidades precisam ser seguras e acolhedoras a todos.

Acompanhe o primeiro dia completo do Simpósio Virtual Latino-Americano no canal do YouTube do ILC-BR.

No ano passado, o blog Nova Maturidade acompanhou o Simpósio Internacional Envelhecimento Ativo – Promovendo saúde, prevenindo doenças, que também reuniu especialistas do Brasil e de países vizinhos.

(Katia Brito)

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