Cássia Elisa Rossetto Verga e Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva*
A forma como uma sociedade compreende o processo de envelhecimento, e se comporta frente a este, reflete nas suas próprias concepções de envelhecer. Para Robert Butler (1969), o idadismo refere-se às atitudes e práticas negativas generalizadas em relação aos indivíduos baseadas na sua idade. Caso não haja mudanças nas sociedades em geral, não será possível aproveitar a vida ao máximo durante o processo de envelhecimento.
Verifica-se que, no Brasil, o preconceito etário também é vivenciado nos sistemas de saúde, visto que os profissionais, em algumas situações, desconsideram as demandas dos idosos, dando preferência para questões de saúde de pacientes mais jovens, como no caso da COVID-19.
Ao contrário de outros tipos de enfermidades, as doenças infecciosas têm mais chances de mobilizar preconceito ou estigma direcionados a certo grupo porque, nesses casos, estão mais presentes o medo e a possibilidade de culpabilização. Entretanto, por meio da pandemia, foi possível perceber, de forma mais expressiva, o preconceito que a sociedade tem com os idosos e o quanto isso é naturalizado.
Deve-se refletir que a longevidade não é um problema, e sim um triunfo da saúde e da medicina moderna. O verdadeiro problema é a concepção que se tem sobre as pessoas idosas. Além disso, o preconceito em relação à idade serve como justificativa para o abandono que as pessoas idosas sofrem na sociedade.
Há ainda uma ideia de que envelhecer bem é envelhecer com uma aparência jovem e com uma saúde perfeita. Esse tipo de pensamento nega o envelhecimento, pois temos sim que pensar em envelhecer com qualidade de vida, porém com dignidade humana e respeito que ultrapassa qualquer tipo de discriminaçao e mudanças que ocorrem na senescência ou até em meio às comorbidades.
Impactos
Nesse contexto, o idadismo pode ter um impacto de longo alcance sobre qualidade de vida geral dos idosos e pode também afetar aspectos específicos de seus bem estar. Por exemplo, o idadismo pode levar a isolamento social, solidão e restrição à sexualidade de pessoas mais velhas. O Idadismo também pode estar associado entre pessoas mais velhas com maior medo do crime e um risco aumentado de experimentar violência e abuso.
Além disso, o idadismo aumenta os comportamentos de risco à saúde, afeta negativamente a saúde física e mental, acelera o declínio cognitivo, retarda a recuperação da deficiência e reduz a longevidade. Os impactos do idadismo se estendem além do corpo, minando os relacionamentos sociais e contribuindo para as pessoas mais velhas socialmente isoladas e solitárias, e pode aumentar o medo do crime e risco de ser alvo de violência e abuso.
Sensibilização
Mesmo se as intervenções para reduzir o idadismo fossem para ter apenas pequenos efeitos, eles podem levar para grandes melhorias na vida das pessoas mais velhas e grande economia para os países.
É necessário construir uma sociedade onde os desafios possam ser superados pela solidariedade, pela compaixão, pelo apoio à ciência, pelo exercício da cidadania e por uma defesa incansável da democracia e do valor de cada ser humano, independente de sua idade.
A sensibilização deve ser notória na responsabilidade de pensar o envelhecimento de forma coletiva, e ainda mais: o envelhecimento e velhice como “nós” e não como “eles”, pois todos estamos em processo de envelhecimento e em constante mudanças que são naturais no ciclo de vida, porém cada um, com suas individualidades e singularidades.
Autoras
Cássia Elisa Rossetto Verga
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP 60 + nas oficinas de música e letramento digital. Participou como assessora de Projetos e Recursos Humanos na Empresa Geronto Júnior entre os anos de 2019 a 2020.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.
Referências:
CASTRO, Beatriz Rodrigues et al. A expressão do idadismo em tempos de Covid-19: Uma reflexão teórica. Revista Kairós-Gerontologia, v. 23, p. 479-497, 2020.
DE OLIVEIRA TEIXEIRA, Selena Mesquita; DE SOUZA, Luana Elayne Cunha; MAIA, Luciana Maria. Ageísmo institucionalizado: uma revisão teórica. Revista Kairós-Gerontologia, v. 21, n. 3, p. 129-149, 2018.
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