Os múltiplos aspectos do envelhecer despertaram o interesse de Abrão Jacó Goldfeder, de 73 anos, nos últimos anos. Aposentado do setor elétrico, ele fez parte da Associação dos Aposentados da Fundação Cesp e atualmente preside o Instituto Adecon. Abrão foi um dos integrantes da terceira turma do projeto Profissão Repórter 60++ e tem sua história retratada no livro “Focas Experientes – Histórias de Vida e Jornalismo no Profissão Repórter 60+”. Confira no blog a reportagem sobre esta importante iniciativa.
Paulistano, Abrão tem descendência judaica, estudou em colégios israelita e estadual e fez curso técnico em Máquinas e Motores. Em 1970, se formou em Administração de Empresas na Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Trabalhou por 27 anos na Cesp, a Companhia Energética de São Paulo, passando por diferentes áreas como compras e administração de materiais, administrativo e transportes.
A aposentadoria veio de forma precoce aos 50 anos em 1996, quando o governo do Estado iniciou o processo de privatização do setor energético e diante da indefinição da questão da previdência no governo de Fernando Henrique Cardoso. A primeira venda de parte da companhia ocorreu no ano seguinte. Em outubro de 2018, um consórcio de empresas, incluindo a Votorantim Energia, arrematou o controle acionário do restava da empresa por R$ 1,7 bilhão. “Hoje eu me arrependo, deveria ter ficado mais cinco anos pelo menos porque estou tendo uma série de problemas pelo fato de ter me aposentado com 30 anos de contribuição ao INSS”, conta.
Novos ares
Mas ele não ficou em casa, Abrão foi trabalhar com seguros, deu aulas de tênis e em 2007, foi trabalhar na Associação dos Aposentados da Fundação Cesp ao lado de seu primeiro chefe na empresa, que conta com aproximadamente 28 mil associados. Inicialmente ficou responsável pela parceria com o Sesc, divulgando as atividades das unidades. “O Sesc tem um trabalho muito forte na área de envelhecimento. Há mais de 50 anos faz cursos, palestras, uma série de coisas voltadas para a terceira idade. Foi aí que eu comecei a tomar um contato maior com a área de envelhecimento saudável, ativo”, explica. Em 2008, passou a participar dos seminários do Sesc voltados para a área de envelhecimento, com a presença tamb&eacu te;m de profissionais de outros países.
Por duas gestões, Abrão participou da associação, auxiliando também em uma parceria com o Sebrae. “Nós fizemos durante dois anos um trabalho chamado Oficina de Planejamento Participativo, com reuniões com os membros das respectivas diretorias das regionais. Foi muito interessante, cresci muito”, destaca. Essa experiência foi levada para o Instituto Adecon, formado por administradores, economistas e contadores ativos e aposentados da Cesp, entidade para a qual retornou em 2011 como diretor cultural.
Envelhecimento
O interesse pelo envelhecimento era crescente e ele conheceu a gerontóloga e mestre em Neurologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Thaís Bento Lima da Silva. “Eu trouxe a Thaís para o Instituto Adecon e formamos uma turma de treinamento de memória. Há um ano e meio montamos outra turma”, destaca. As atividades são voltadas não apenas para associados, como também para parentes e cônjuges. As reuniões ocorrem quinzenalmente. O projeto também foi “exportado” para a Associação dos Aposentados, que Abrão participava, e hoje há turmas semanais comandadas por Thaís. O instituto tem parcerias com outros espaços como o Instituto para o Desenvolvimento Educacional, A rtístico e Cientifico (Ideac) e o Portal do Envelhecimento, que atualmente oferece cursos por meio do Espaço Longeviver.
E foi por meio de Thaís, que Abrão conheceu o projeto Profissão Repórter 60+. Sua experiência com jornalismo até então era restrita aos editoriais dos informativos publicados até o início do ano pelo instituto e a newsletter, que é enviada quinzenalmente aos associados e outros interessados com dicas culturais, de saúde, finanças e assuntos relativos ao setor elétrico. Algumas dessas informações ficam disponíveis no site do instituto e na página no Facebook. “Minha esposa (Marilda Teixeira Goldfeder, 69 anos) se inscreveu na segunda turma e gostou muito. Eu me inscrevi para a terceira turma, participei intensamente e achei excelente. É interessante porque mostrou outro ângulo do jornalismo. Hoje quando eu leio uma reportagem, uma entrevista, eu as v ejo sob outro aspecto, o que tem por trás da pergunta, como é que a pessoa respondeu. Você aproveita mais a reportagem”, avalia. Ele aprendeu a fazer lives no Facebook, e por meio de uma delas descobriu que um amigo tinha raízes chilenas.
O grupo formado por participantes da terceira turma do projeto se mantém ativo. Recentemente, 12 deles estiveram reunidos no Instituto Adecon para um workshop sobre mídias sociais e empreendedorismo, oferecido por uma das alunas, Renate Land. Um outro participantes também já pediu contribuições para um jornal que pretende criar e Abrão já se prontificou a participar com seus conhecimentos sobre envelhecimento ou a indicação de especialistas que conheceu nos últimos anos.
“São pessoas com mais de 60 anos, mas que estão em atividade, que foram para o projeto para se aperfeiçoar, para perceber outras coisas, ou que nunca fizeram nada e despertaram para fazer alguma coisa, isso é muito interessante. As pessoas com mais de 60 anos podem fazer sim acontecer muita coisa”, ressalta.
Integração
Para Abrão, o importante também é a socialização, algo que vem insistindo com os associados do Instituto, para que as pessoas não se isolem. Sobre o futuro, ele deve continuar na diretoria da entidade, mesmo deixando a presidência neste ano. Abrão alerta sobre a necessidade de uma nova perspectiva sobre o envelhecimento. “Você percebe que as pessoas não estão sensibilizadas com o assunto envelhecimento, mobilidade, moradia adaptada, mas pode e deve mudar, porque hoje não passa uma semana que não tenha um ou dois artigos de jornal sobre isso, e há muita gente mexendo com isso”, conclui. (Katia Brito / Foto: Ale Anselmi / Divulgação)