O envelhecimento há mais de 20 anos vem sendo trabalhado na Apae de São Paulo. A instituição promoveu nos dias 19 e 20 de setembro o I Seminário Internacional sobre o Envelhecimento da Pessoa com Deficiência Intelectual (sobre o evento clique aqui). O trabalho, coordenado por Leila Castro, atualmente atende 168 pessoas, sendo que 20 delas têm 60 anos ou mais.
A estimativa do IBGE é que haja 2,6 milhões de pessoas com deficiência intelectual, sendo 537 mil acima dos 60 anos. Especialista em envelhecimento da área de Ensino, Pesquisa e Inovação da Apae de São Paulo, Leila Castro foi entrevistada pelo blog no Seminário Internacional.
Segundo a especialista, no fim da década de 1990, diante do surgimento de sinais de envelhecimento de pessoas que frequentavam a Apae de São Paulo, começaram as conversas sobre o tema e o desenvolvimento de programas de atenção para este público. Mas foi a partir de 2010 que o trabalho passou a ser focado em envelhecimento e não só para pessoas idosas como também para adultos. Estudos indicam que pessoas com deficiência intelectual envelhecem precocemente a partir dos 45 anos. “O adulto que apresenta sinais sugestivos de envelhecimento vai ter uma atenção diferenciada no processo deste envelhecer com ações de promoção de saúde objetivando sua manutenção de funcionalidade”, explica.
O trabalho focado no envelhecimento é desenvolvido apenas na Apae de São Paulo com protocolos e metodologias próprias, baseados em serviços de outros países. “Nos inspiramos nesses serviços que estão na Europa e nos Estados Unidos, por isso que a gente trouxe estes especialistas (para o seminário). Com isso a gente criou a nossa metodologia, adaptamos protocolos que também são aplicados para a pessoa idosa para este público específico para acompanhar essa autonomia e independência”, conta Leila.
Diferenciais
As atividades voltadas ao envelhecimento incluem atividades como dança, atividades física e aquática, jogos cognitivos e corporais, artes plásticas, música. O diferencial, segundo Leila, está no diagnóstico do envelhecimento e a partir de então a aplicação dos protocolos e acompanhamento da evolução ou não em cada caso.
“A gente aplica uma avaliação multidimensional adaptada e identificando todas essas questões para fazer um planejamento de vida, elaborar quais são as ações que precisam ser feitas. Bem antes de pensar na atividade fim, você tem que saber qual a área da vida necessita de uma atenção maior”, afirma Leila. Se na avaliação forem identificadas questões que não cabem a Apae de São Paulo, o caso será encaminhado à área indicada, como saúde e jurídica por exemplo.
Para Leila, o principal papel da Apae de São Paulo é fomentar a inclusão e interação social para que a pessoa possa se manter autônoma e independente dentro do que sempre foi. “Ele deve sim estar com seus pares, com as pessoas que são iguais, mas a gente procura fomentar neles e na família de que a interação tem que ocorrer fora da instituição. Estar também em outros espaços promove a longevidade. A gente entende que ele também ganha como qualquer outra pessoa”, ressalta.
A inclusão era uma das dificuldades junto às famílias, segundo Leila, mas o cenário mudou: “A equipe aos poucos foi trabalhando com esse familiar e a própria pessoa com deficiência entendendo o seu empoderamento e que tem de ter a autogestão. Assim ele começou também a encontrar espaços para estar e conviver com outras pessoas”.
Longeviver
A Apae de São Paulo, de acordo com Leila, busca que as pessoas com deficiência intelectual tenham a oportunidade de longeviver. “Vamos ter longevidade dentro de uma proposta de um envelhecimento bem-sucedido, de acordo com a realidade da deficiência intelectual, porque a gente não pode comparar a deficiência intelectual a um envelhecimento típico, ela tem uma particularidade, mas dentro da sua particularidade ela tem respostas muito verdadeiras, muito deles também”, salienta. Saiba mais sobre esta iniciativa no site. (Katia Brito)