Amadurecimento foi um dos temas do segundo dia de palestras do Festival InFINITO, realizado semana passada em São Paulo. Saiba mais sobre o evento aqui no blog (acesse o link). Quem abriu a programação na sexta-feira, dia 6 de setembro, foi o dr. Daniel Neves Fortes, especialista em medicina intensiva e paliativa, coordenador dos cursos de especialização e aperfeiçoamento em cuidados paliativos e gerente de projetos de humanização e cuidados paliativos do Hospital Sírio-Libanês.
As oportunidades e riscos dos cuidados paliativos e o envelhecimento populacional brasileiro foram abordadas pelo dr. Daniel. Segundo ele, um dos problemas é o modelo mental dos profissionais de saúde sobre o que são cuidados paliativos, acreditando serem cuidados de fim de vida ou para uma doença incurável. O especialista ressalta que para os cuidados paliativos é preciso conhecimento técnico sobre o controle de sintomas e não intuitivo.
Para o dr. Daniel, os profissionais devem cultivar a consciência do prognóstico e a capacidade de lidar com as emoções, criando conexões e vínculos de segurança para discutir objetivos e planejamento dos cuidados. O tratamento, segundo ele, deve ser centrado na pessoa, e os cuidados continuam mesmo depois da morte do paciente, trabalhando o luto da família.
No Brasil, são apenas 177 equipes de cuidados paliativos, enquanto nos Estados Unidos há mais de 1.800. Saiba mais sobre o que são cuidados paliativos na entrevista com a médica paliativista e autora do best-seller “A morte é um dia que vale a pena viver” (Editora Sextante), da dra. Ana Cláudia Quintana Arantes, que já foi entrevistada pelo blog (leia a matéria no link).
Ciclos da vida
O primeiro ciclo da vida abordado no Festival inFINITO foi a maturidade, começando pelo painel “Influenciadores – perdas e ganhos na maturidade”. Layla Vallias, cofundadora da consultoria Hype60+ e especialista em economia prateada, recebeu os influenciadores digitais Rosângela Marcondes (@it_avó e @domingoacucarado; o Domingo Açucarado tem mais de 150 mil seguidores no Faceboook), Flavia Aidar (canal Ávida, com mais de oito mil seguidores no Facebook) e Dimas Barros Moura (canal Mais50, mais de cem mil inscritos no YouTube).
Para Rosângela, o que ela faz hoje é mostrar o oceano grisalho, os novos velhos, participando, colaborando, divulgando e inspirando outros velhos. As perdas e ganhos, segundo ela, fazem parte desse processo, e é bom ter a oportunidade de viver tudo isso. Já Dimas abandonou o mundo corporativo há dois anos e meio. Sua proposta é compartilhar suas vivências e falar de coisas boas para o público do Mais50, de acordo com os pilares que definiu: propósito, felicidade e finanças, e viajando por lugares onde é possível viver com pouco e com muita felicidade.
No Ávida, Flavia Aidar, que já foi professora de história, vem contando como as histórias se constroem, sensibilizando as pessoas sobre temas da longevidade e envelhecimento. Para ela, a gente envelhece como vive, por isso é preciso viver o mais próximo possível do que se deseja, do que se é realmente.
Economia
Layla Vallias também esteve no palco com Willians Fiori, especialista no mercado senior, e Maria Fonseca, dos segmentos de futurismo e tecnologia de impacto social, no painel “Economia Prateada e Morte” do Festival inFINITO. Segundo Mariana, há uma brecha (gap, expressão em inglês) no mercado, que trabalha com o público (target) de até 45 anos. Entre as oportunidades do mercado da longevidade, ela destacou as fintechs para a gestão financeira da morte com foco em pessoas idosas e familiares e a gestão da memória para, por exemplo, o armazenamento de documentos.
Idealizador do projeto Gerocultura, que reúne profissionais de diferentes setores para discutir o envelhecimento populacional e do podcast Gerocast, Willians apontou outras opções como a necessidade de democratização do acesso a advogados e tecnologia. Segundo ele, não se trata apenas de criar algo novo, mas algo que faça sentido para este público, tendo empatia e entendendo suas demandas e necessidades.
Mãe do pai
A experiência da jornalista mineira Natália Dornellas trouxe sua experiência com o pai de 80 anos, diagnosticado com degeneração corticobasal, doença neurodegenerativa progressiva e rara com sintomas do Parkinson. Há cerca de um ano ela começou a escrever sobre a história dos dois nas redes sociais. A Mãe do Pai tem página no Facebook e perfil no Instagram (@amaedopai).
Natália conta que tem a oportunidade de retribuir parte do amor que recebeu ao longo de sua vida e vem aprendendo muito. O pai passa parte dos dias com ela, e parte em uma instituição para idosos. Ela agora está criando o projeto de 80 a 100, com vídeos e fotos de 21 idosos. Segundo Natália, a ideia é fazer “barulho” com a história deles.
O adoecer
O ciclo seguinte abordado pelo Festival inFINITO foi o adoecimento, que começou com a palestra “Quando a vida começa a terminar – considerações sobre os cuidados para quem adoece no Brasil” da médica paliativista dra. Ana Cláudia Quintana Arantes (foto principal). Segundo ela, de cada dez pessoas nove vão passar pelo diagnóstico de uma doença que ameaça a vida. E a doença não chega quando se espera, não tem idade, não é uma escolha, mesmo para quem bebe ou fuma bastante. Estas pessoas, de acordo com a médica, apenas escolheram um caminho de vida que as colocam em risco de adoecer. Com o diagnóstico da doença que ameaça a vida, chega o momento de caminhar com os próprios pés, cada pessoa tem uma jornada diferente ao adoecer.
Para a especialista, quando a vida começa a terminar pelo adoecimento, a história muda, há uma nova perspectiva de tempo, um tempo não planejado. E a negação, a incapacidade de enfrentar o que é difícil, a tentativa de minimizar o que está ocorrendo podem fazer com que o cuidado seja negligenciado e assim agravar o processo de adoecimento. Da mesma forma por parte dos familiares e pessoas próximas, que em vez de suporte, há quem opte por culpar quem adoeceu pela doença.
Aos profissionais de saúde, segundo Ana Cláudia, cabe estabelecer uma relação de confiança para que o paciente encontre em seus olhos a coragem que precisa, tenha a certeza que vai ter o cuidado necessário e que é capaz de viver e enfrentar os desafios do tratamento.
Letramento em saúde
O médico Rogério Malveira Barreto, criador da empresa de saúde e tecnologia Pulsares, apresentou um termo desconhecido para mim: healty literacy, ou seja, letramento em saúde, como o sexto sinal vital da medicina. Os outros cinco são temperatura, pulso, respiração, pressão arterial e dor. A proposta é transformar a comunicação em saúde, o conhecimento em ação.
Segundo o especialista, os profissionais de saúde superestimam o que o paciente é capaz de entender do que ele recomenda. E sem este entendimento, é grande o impacto social e econômico na população. A ideia da startup Pulsares é tornar mais eficiente a comunicação em saúde e uma das inovações é um novo formato de receita com imagens, linguagem fácil, organizada em horários, podendo ser usada por qualquer profissional. Saiba mais em no site.
Rede
Como no início do segundo dia de palestras do Festival inFINITO, os cuidados paliativos voltaram a ser tema de palestra com o dr. José Roberto Ortega Júnior. Ele vem construindo na cidade de Bauru, no interior de São Paulo, uma verdadeira comunidade em cuidados paliativos, com a participação de hospitais e faculdades. (Katia Brito)