Comunidade, acesso e rede foram os principais temas do segundo dia (5 de novembro) do Simpósio do IPGG (leia mais sobre o evento aqui). A primeira mesa foi comanda pela profa. dra. Rosamaria Rodrigues Garcia do IPGG, que entre outras atividades coordena o Curso Básico de Gerontologia. Participaram as profas. dras. Maria Elisa Gonzales Manso do Centro Universitário São Camilo e Áurea Eleotério Soares Barroso, mestre em Gerontologia Social e doutora em Serviço Social pela PUC-SP integrante da Pastoral da Pessoa Idosa que completou 15 anos no dia 5 de novembro. Saiba mais sobre a pastoral no site.
A profa. Maria Elisa falou sobre “Síndromes demenciais: viabilizando o cuidado na Atenção Básica”. Ela destacou, conforme diretrizes da Organização Mundial da Saúde para redução do risco de declínio cognitivo e demências, fatores como a importância da manutenção da edição e do apoio aos cuidadores.
Outro ponto ressaltado pela professora foi que não há evidências de que o uso de medicamentos para depressão reduza o risco de declínio cognitivo e/ou demência. E o principal, a necessidade da atenção à saúde da pessoa idosa com déficit cognitivo e/ou demência deve incluir os preceitos do cuidado centrado na pessoa bem como o respeito à sua dignidade e direitos.
O ponto de vista familiar e dos serviços de atenção à pessoa idosa na questão da comunidade, acesso e rede foi abordado pela profa. Áurea. Segundo ela, a vida em comunidade é mediada por conflitos e é a noção de pertencimento que nos faz participar, criando vínculos e compartilhando a construção do coletivo. A comunidade surge ainda como uma possibilidade diante dos novos arranjos familiares.
Áurea destacou os estudos do sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman, autor de livros como “Modernidade Líquida” e “Comunidade – A busca por segurança no mundo atual”. Em um dos trechos, ele afirma que as uniões atuais são de curto prazo e destituídas de perspectivas porque estabelecer e solidificar laços toma tempo. Mesmo as relações de trabalho e de estudo estão sempre recomeçando, se reinventando.
Diante da cultura do imediatismo, conforme Bauman, da individualização que identifica a visão da felicidade com o aumento do consumo, o desafio é compor uma vida que não seja reduzida a adicionar episódios agradáveis. Por isso o reforço ao conceito de aging in place, criado nos Estados Unidos, que significa a capacidade de viver na própria casa e na comunidade pelo maior tempo possível com segurança e independência em casa.
Para a mesa, as professoras trouxeram um estudo de casa que reflete a situação atual de muitas pessoas idosas. Uma mulher diagnosticada com Alzheimer sendo cuidada pela irmã também idosa, que apresentava declínio cognitivo. A solução foi encontrada na comunidade com o apoio de vizinhas que permitiram que a cuidadora participasse de um Centro de Convivência. Segundo Rosa, é necessário apoio institucional para o cuidado e a manutenção do idoso no domicílio pelo maior tempo possível.
Cuidados paliativos
A palestra seguinte foi sobre “Cuidados paliativos em pacientes não oncológicos” com a profa. dra. Maria Goretti Sales Maciel, coordenadora do Programa de Residência em Medicina Paliativa do Iamspe e diretora do Instituto Paliar. O primeiro conceito de cuidados paliativos da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1990, era focado em pacientes com câncer “fora da possibilidade de cura”.
O conceito, de acordo com a professora, evoluiu e hoje em vez de doença terminal se fala em doença avançada e em progressão, incluindo além do câncer, a demência com incapacidade motora, sequelas neurológicas, infecções de repetição e falência funcional decorrente, e doença crônica fora de controle e com falência funcional. Cada uma delas necessitando de sutileza no diagnóstico para adequar a assistência às necessidades do paciente com atenção também à família e aos cuidadores.
Para Maria Goretti, o ideal é que o paciente chegue ao fim da vida com os sintomas previamente controlados. A função dos cuidados paliativos, segundo ela, é proteger. “Eu cuido porque você é importante, independente de quem você seja e como você esteja”, disse ao final da palestra.
Humanização
“Humanizando o óbito em domicílio: assegurando a dignidade de morrer em paz” foi o tema da palestrante profa. dra. Letícia Andrade, assistente social do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e docente da Faculdade Paulista de Serviço Social.
Para uma morte digna, Letícia ressaltou a necessidade de concordância entre paciente e família sobre o local da morte, se será em casa ou não, e o conhecimento do diagnóstico e prognóstico com avaliação de risco e controle de sintomas. Destaque para a atenção ao cuidador ou familiar com preparo técnico e emocional, olhando para o real e não o ideal, reconhecendo as especificidades e assim definindo as intervenções necessárias.
Letícia salientou ainda o papel da comunidade que, sem dúvida, pode ajudar, mas pouco poderá fazer se for vulnerável. Outros pontos foram o cuidado com aspectos burocráticos e documentais, como quem vai assinar o atestado de óbito, o que faz com a família leve o paciente ao Pronto Socorro. E também a representação social do cuidado e da morte, que vão afetar a superação ou não do processo de luto.
Iatrogenia
Fechando a programação da manhã, o prof. dr. Milton Luiz Gorzoni, da Santa Casa de Misericória de São Paulo falou sobre “Iatrogenias: limites entre o poliatendimento, poliencaminhamento e polifarmácia como desafios do cuidado ambulatorial”. O professor destacou os gigantes da Geriatria: Incontinência, Imobilidade, Instabilidade (quedas), Declínio Intelectual e Iatrogenia.
“Como você vai me atender?”. Esta, segundo o professor, seria a pergunta que todo idoso deveria fazer aos profissionais de saúde. A iatrogenia consiste no dano, material ou psíquico causado ao paciente pelo profissional de saúde.
A prescrição de um medicamento deveria, de acordo com Gorzoni, é tão vital como uma cirurgia mal feita por isso é fundamental conversar com o paciente, demonstrar interesse, perguntar quais os medicamentos que o paciente já utiliza para avaliar a polifarmácia, possíveis interações e até mesmo a descontinuidade do uso.
Hospital Amigo do Idoso
O início da tarde do segundo dia do Simpósio do IPGG foi dedicado às experiências exitosas do programa Selo Hospital Amigo do Idoso, do governo do Estado de São Paulo. A coordenação coube a profa. dra. Claudia Fló, da área técnica de Saúde do Idoso da Secretaria de Estado da Saúde.
O selo tem como objetivo garantir maior resolutividade ao atendimento às pessoas idosas, de forma a trazer segurança e conforto, e aprimoramento dos conceitos e de valores geriátricos e gerontológicos. Saiba mais no site, onde é possível fazer uma autoavaliação da instituição e saber em qual nível do selo ela se encaixaria. São eles: inicial, intermediário e pleno.
Entre as iniciativas apresentadas ações do Ambulatório Médico de Especialidades (AME) Idoso Sudeste, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP, Hospital de Base de São José do Rio Preto, Hospital Emílio Carlos (Catanduva), Hospital Estadual de Ribeirão Preto, Hospital Estadual de Sapopemba, Hospital Estadual Vila Alpina, Hospital Geral de São Mateus, Hospital Geral de Taipas, Hospital Geral Santa Marcelina de Itaim Paulista, Hospital Regional de Presidente Prudente, Hospital São Judas Tadeu (integrante do Hospital de Amor, antigo Hospital de Câncer de Barretos), Santa Casa de Misericórdia de Barretos, Hospital Estadual de Américo Brasiliense, Hospital Universitário da USP, Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II, Hospital Hospital Vera Cruz e Albert Einstein.
Ações voltadas para intergeracionalidade, prevenção de quedas, autocuidado, a longevidade como uma janela de oportunidades, capacitação e sensibilização da equipe por meio, por exemplo, da participação no Curso Básico de Gerontologia, seja de forma presencial ou educação a distância.
Ao final do evento foram premiados oito dos trabalhos expostos durante os dois dias do simpósio. O encerramento coube a presidente do Conselho Estadual do Idoso, Vera Fritz, que destacou a importância dos Selos Hospital Amigo do Idoso e Cidade Amiga do Idoso, hoje na forma de decretos para que sejam transformados em projetos de lei para garantir sua continuidade mesmo que mude o governo. (Katia Brito)