Uma das profissões que mais cresce no Brasil, mesmo com o veto à regulamentação mantido recentemente pelo Congresso, é cuidador de idosos. “O idoso requer de fato um profissional qualificado que saiba e entenda o que é envelhecer e não envelhecer de forma senescente (saudável), mas de forma senil com uma série de alterações físicas, cognitivas, comportamentais”, explica Jane Liliane Gonçalves Cruz, monitora do Curso para Cuidadores de Idosos oferecido gratuitamente pela Central Nacional Unimed (CNU) em parceira com o Senac.
Enfermeira de formação, Jane cursa o mestrado em Gerontologia e desde 2002 trabalha com cuidadores de idosos. No Senac Tiradentes, na região central de São Paulo, ela está desde 2016 e a partir deste ano com as turmas da CNU. “É uma satisfação enquanto pessoa e profissional, porque é uma área que eu gosto e eu penso que na educação nós temos que escolher algo que contribua de fato com a sociedade. O curso traz isso. Você permite oportunidades de ascensão, de buscar uma nova profissão, mas ao mesmo tempo qualifica pessoas para servir a sociedade de forma adequada”, avalia.
O Curso para Cuidadores de Idosos faz parte do programa Unimed Ativa assim como o Núcleo de Qualidade de Vida (veja matéria aqui). O programa aberto à comunidade é voltado ao bem-estar e qualidade de pessoas com mais de 60 anos. Um dos eixos é o Curso para Cuidadores de Idosos com uma carga horária de 80 horas. São 60 horas por educação a distância com 16 módulos e 20 horas presenciais, divididas em três sábados.
As turmas são formadas 40 alunos que aprendem sobre diferentes aspectos do cuidado como medicação, Estatuto do Idoso, primeiros socorros, higiene bucal, banho no leito, finitude, morte, entre outras questões. A última turma na capital encerra as aulas em outubro, e o curso retorna em março. Acompanhe a agenda de inscrições pelo link.
Os inscritos devem ter 18 anos e ensino fundamental completo. Não é preciso ser beneficiário da Unimed. No processo seletivo, segundo o analista de sustentabilidade da CNU, Gabriel dos Santos Francez, é dada preferência para quem já atua como cuidador e não tem formação, depois para aqueles que procuram se reciclar e para quem quer mudar de área e se profissionalizar. Também há reserva de vagas para indicações de colaboradores da Central Nacional Unimed.
Expansão
De acordo com Gabriel, o Curso para Cuidadores de Idosos começou em 2013 e este ano cumpriu a meta de formar aproximadamente 1.600 cuidadores espalhados por 32 localidades do país. Entre as cidades contempladas, estão também Salvador (BA), Brasília (DF), São Luís (MA), Manaus (AM), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Rio de Janeiro (RJ) e Goiânia (GO).
“Tem uma procura muito grande. Em algumas localidades a gente chegou a ter 500 inscrições. A gente fez a seleção e a análise de abertura de outras turmas. Houve localidades em que estavam previstas duas turmas e a gente acabou estendendo para quatro”, conta. No Senac Tiradentes, por exemplo, foram nove turmas. Para o próximo ano, a expectativa é chegar a cidades da Região Metropolitana de São Paulo e estar presente em todos os Estados do país. A meta é capacitar três mil pessoas, mantendo a parceria com o Senac.
Atuação
Para a monitora do curso no Senac Tiradentes, há um amplo campo de trabalho para os cuidadores que não se restringe ao atendimento domiciliar. O cuidador, segundo ela, pode estar inserido em um spa, hotel, espaço dia, centro dia, centro de convivência ou ainda instituições de longa permanência. E é preciso que os empreendedores despertem o olhar para o público idoso. “Se é um ramo de hotelaria o que tem de diferencial para que aquela família vá para aquele hotel? De repente ter um espaço em que a família possa contar com um cuidador alocado naquele serviço, por que não?”, sugere.
Entre os alunos dos Cursos para Cuidadores de Idosos, Jane conta que há desde gestores a senhoras que trabalharam como empregada doméstica, exercendo a função de cuidadora sem qualificação, além de profissionais como enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos. E a idade varia dos 18 aos 74 anos. “O assistente social, por exemplo, não vem necessariamente para atuar como cuidador. Ele quer agregar valor nesse cenário porque no serviço vai trabalhar com esse público, a mesma coisa o terapeuta e o psicólogo”.
A perspectiva é de crescimento da profissão, que, embora não regulamentada, é reconhecida na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) desde 2002. “Eu falo com os alunos: ‘a CBO reconhece enquanto profissão. Você não tem uma regulamentação, um conselho que rege, mas tem um reconhecimento. Isso você não perdeu’. Nós já estamos há mais de uma década com esse reconhecimento e a sociedade ainda está lenta nesse processo de entender qual é a função do cuidador”, salienta.
Para Jane é a qualificação que fará com que a sociedade valorize estes profissionais. “Agora eu tenho um profissional qualificado em casa que não é mais aquela senhora ou aquele senhor que trabalhava como empregado doméstico, fazia as tarefas de casa e tinha que conciliar com o cuidado. Você é exclusivo para o cuidado. Eu me reconheço enquanto profissão, então eu faço com que a sociedade também me reconheça e entenda que o cuidado é essencial”, completa. (Katia Brito)