Cultura

Eduardo Kobra lança “Coexistência – Memorial da Fé por todas as vítimas do Covid-19″

O conhecido muralista Eduardo Kobra inaugurou no dia 6 de maio, o mural “Coexistência – Memorial da Fé por todas as vítimas do Covid-19”, feito inicialmente em uma tela, no ano passado. O mural de 28 metros de largura por 7 metros de altura, fica na rua Henrique Schaumann, em frente à Igreja do Calvário (na esquina com a rua Cardeal Arcoverde), na zona Oeste da cidade de São Paulo. A obra traz uma mensagem de fé e de esperança, ao mesmo tempo em que lembra as vítimas do Covid-19 e destaca a importância da Ciência, simbolizada pelo fundamental uso de máscaras.

Kobra retrata no mural crianças de cinco religiões – Islamismo, Budismo, Cristianismo, Judaísmo e Hinduísmo. “Da mesma forma que Deus deu ao homem o dom da arte, também dotou o ser humano da capacidade da produzir Ciência. Por isso não há qualquer contradição em acreditar em Deus e, também, seguir as recomendações dos especialistas no combate ao Covid-19”, diz o muralista, que trabalhou no mural durante 20 dias, atrás de tapumes, para evitar aglomerações.

Mural retrata esperança, fé e ciência (Felipe Del Valle)

Estiveram presentes no lançamento, além de Kobra, representantes das cinco religiões e convidados de diversas outras religiões. Os líderes religiosos fizeram orações voltadas às vítimas do Covid-19 e também destacaram a importância da ciência, além da fé. Entre eles, Dom Odilo Pedro Scherer, cardeal arcebispo da Arquidiocese de São Paulo; o padre Norberto Donizete Brocardo, da Paróquia São Paulo da Cruz (Calvário); o padre Leudes Aparecido de Paula, superior provincial dos passionistas; Michel Schlesinger, rabino da Congregação Israelita Paulista (CIP), e o monge Ryozan, sensei na comunidade Zen Budista.

Também participaram do evento o sheik Jihad Hammadeh, vice-presidente da União Nacional das Entidades Islâmicas (acompanhado da esposa, Nadia Hussein, diretora do Instituto Cinco Pilares); Sri Prem Baba, mestre espiritual e herdeiro da linhagem de yogues indianos Sachcha; pastor Gustavo Schmitt, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB); Iyalorixa Carmen de Oxum (Mãe Carmen de Oxum) e o Babalorixá Karlito de Oxumarê, sacerdotes do Ilê Olá Omi Ase Opo Araka, do Candomblé. Foi colocada por Kobra, no lado direito do mural, uma caixa para que as pessoas deixem bilhetes com pedidos, agradecimentos e orações.

“Este singelo painel, de autoria do renomado artista Eduardo Kobra, acentua o altruísmo de homens e mulheres que se unem, no mundo inteiro, para minimizar tanta dor, tanta morte e tanto pranto. O Covid-19 traz uma dor que flagela a humanidade, exige uma resposta da ciência e ao mesmo tempo lança um apelo às nossas religiões”, disse na apresentação do lançamento o padre Norberto Donizete Brocardo, da Paróquia São Paulo da Cruz (Calvário), que cedeu o mural para o artista.  

“O mural do Kobra é uma linda manifestação artística de nosso desejo de sair desta pandemia com uma sociedade de diálogo e respeito fortalecidos”, afirmou o rabino Michel Schlesinger, que complementa: “erra quem acredita que existe uma oposição, uma briga, uma contradição entre ciência e religião. Ciência e religião são aliadas, cada uma na sua área. O que uma faz a outra não consegue fazer. Quando elas se reúnem em harmonia, em respeito, todos nós ganhamos como sociedade”.  

De acordo com Sri Prem Baba, “aprendemos as maiores lições quando atravessamos grandes desafios de dor e perda. Essa manifestação por meio da arte traz um valoroso ensinamento: é hora de transcendermos definitivamente os preconceitos que nos afastam para podermos então nos acolhermos e nos ajudarmos”.

Já o sheik Jihad Hammadeh, afirmou: “Deus diz no Alcorão sagrado: ‘não coloquem suas vidas em risco, com as próprias mãos!’ A preservação da vida é uma obrigação de todas as pessoas e é uma das maiores adorações a Deus. Portanto, cuidar da própria saúde e dos outros, é preservar a vida de todos. O Islam e a Ciência são inseparáveis! Cuide-se e cuide dos outros”.

Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, pediu as bênçãos de Deus para a humanidade, principalmente a todos que sofrem com as consequências da pandemia, aos profissionais da Saúde envolvidos nos atendimentos, aos que se dedicam à pesquisa e produção de medicamentos e vacinas e, também, aos governantes, “para que façam uma boa gestão neste momento de crise”.

Campanhas    

Na primeira ação do recém-criado Instituto Kobra, que tem como base a premissa de que a arte é um instrumento de transformação, Eduardo Kobra transformou um cilindro de oxigênio, em desuso, de 1m30, na obra de arte “Respirar”.  Através da ONE, do Grupo VG, parceiro para onde Kobra desenvolve todas as peças do Grafite Garden, o movimento UniãoBR tomou conhecimento da iniciativa e resolveu adquirir a obra “Respirar’, unindo cotas de seis famílias. Os recursos obtidos foram aplicados integralmente na construção de duas usinas de oxigênio, entregues à Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas.

No ano passado, Kobra também utilizou seu talento para uma campanha que ajudava famílias em situação de vulnerabilidade agravada pela pandemia do Covid-19. Uma serigrafia do painel “Coexistência”, onde mostrava crianças de cinco religiões – budismo, cristianismo, islamismo judaísmo e hinduísmo – em oração e vestindo máscaras, foi sorteada entre pessoas que fizeram doações. Com o valor arrecadado, foram produzidos e distribuídos 20 mil kits. Pouco depois, com o leilão da tela “Ao Líbano com Carinho” beneficiou vítimas da explosão ocorrida na zona portuária de Beirute, capital libanesa.

Instituto Kobra

Eduardo Kobra no lançamento do mural (Felipe Del Valle)

Em fevereiro de 2021, nasceu o Instituto Kobra, entidade que acredita na arte como instrumento de transformação social de adolescentes e jovens em estado de vulnerabilidade no Brasil. Fundada e presidida pelo artista Eduardo Kobra, a instituição deverá promover ações, prioritariamente em comunidades periféricas, levando manifestações artísticas — não só das artes plásticas e do grafite, mas também da música, do teatro e da literatura — àqueles que costumam ter menos acesso a museus e centros culturais.

O Instituto Kobra surge também para funcionar como um espaço para promoção de causas por meio da arte — principalmente aquelas que fazem parte dos princípios do muralista, como a defesa do meio ambiente, o discurso pacifista, a pauta antirracista, o respeito entre os povos e a luta pela liberdade. Para viabilizar esses projetos, o Instituto Kobra está aberto a firmar parcerias com empresas e outras entidades que queiram promover ações culturais junto a adolescentes e jovens de periferia.

Kobra, de 45 anos, começou como pichador, tornou-se grafiteiro e hoje se define como muralista. Seu talento brota por volta de 1987, no bairro do Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo, com o pixo e o graffiti, caros ao movimento hip hop, e se espalha pela cidade e pelo mundo. Com os desdobramentos que a arte urbana ganhou na capital paulista, derivou – com o Studio Kobra, criado em 95 – para um muralismo inspirado em muitos artistas, especialmente os pintores mexicanos e norte-americanos. Hoje, os murais de Kobra estão em cerca de 35 países e em diversas cidades e estados brasileiros.

(Fonte: Airton Gontow / Gontof Comunicação)

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