Nova Maturidade

Em vez de assumir falhas, ministro culpa a longevidade

A longevidade é um desafio para os países, mas não deve ser considerado como encargo econômico e social, e sim como uma janela de oportunidades. A fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, no dia 27 de abril, em reunião do Conselho de Saúde Complementar, expõe o desconhecimento das potencialidades do envelhecimento populacional, de um longeviver que ele mesmo faz parte aos 71 anos.  

Como divulgado por diversos veículos de comunicação, como o G1 e a Folha de S.Paulo, o ministro afirmou no dia 27 de abril em um encontro do Conselho de Saúde Complementar: “Todo mundo quer viver 100 anos, 120, 130 [anos]”, e “não há capacidade de investimento para que o estado consiga acompanhar” a busca por atendimento médico crescente. Fala que revela o preconceito etário, chamado de idadismo, de quem não se reconhece enquanto pessoa idosa e ainda responsabiliza uma importante e crescente parcela da população pelo despreparo e problemas de gestão do próprio governo.

O ministro afirmou ainda que não foi a pandemia de covid-19 que tirou a capacidade de atendimento do setor público, mas sim “o avanço na medicina e “o direito à vida”. Em outras palavras, a longevidade da população. O direito à vida é garantido pela Constituição e no Estatuto do Idoso é considerado dever do Estado, família e a sociedade, assim como à saúde, educação, alimentação, cultura, esporte, lazer, trabalho, cidadania, liberdade, dignidade, respeito e convivência familiar e comunitária.

É preciso, como afirmou prontamente o Movimento Vidas Idosas Importam por meio de cards deixar “o povo longeviver”, garantindo direitos e investindo na redução das desigualdades por meio de políticas públicas e gestão de recursos eficiente. Quem não quer uma vida longa, com acesso à educação e saúde de qualidade, inserção no mercado de trabalho, entre outras conquistas que certamente vão refletir no crescimento do país?

Longeviver

A nota de repúdio divulgada pelo Movimento Vidas Idosas Importam ressalta “a talvez desconhecida pelo ministro, força e importância social, econômica e política dos idosos atualmente”, sendo que “a fonte de renda de 59,64% é a aposentadoria da Previdência Social, o restante tem renda própria”. Os 60+ são empreendedores, geram renda e também movimentam o consumo de produtos e serviços. Além de representarem 20% do eleitorado nacional.

A Associação Nacional dos Membros do Ministério Público de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e Idosos (AMPID) se manifestou a favor da longevidade, com nota de repúdio à fala de Guedes, assim como o Coletivo de Direitos da Pessoa Idosa.

A postura do ministro da economia, segundo a nota divulgada pela Associação Brasileira de Gerontologia (ABG), com apoio do Grande Conselho Municipal do Idoso de São Paulo (GCMI) e da Associação dos Cuidadores de Idosos da Região Metropolitana de São Paulo (Acirmesp), “reforça a crença de que os velhos são e serão os responsáveis pela falência do setor público. Assim, o preconceito etário contra os mais velhos vai ficando cada vez mais forte no imaginário da sociedade”. E conclui: “cabe a observação ao ministro que, aos 71 anos de idade, aos olhos de uma população jovem, ele também poderia representar um entrave para o Brasil poder decolar, segundo suas próprias declarações”.

No artigo “Declarações de Paulo Guedes soam sinistras”, publicado pela Folha de S. Paulo, Alexandre Kalache e Karla Giacomin, presidente e vice-presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-Brazil), alertam que “a má gestão da coisa pública é que é o problema, não a longevidade”. Para os autores, não faz sentido considerar a população que envelhece um ônus para o país, é preciso parar de tratar as pessoas idosas como descartáveis.

Sociedade para todos

O blog Nova Maturidade, assim como as entidades citadas acima, também se manifesta a favor da longevidade, contra a fala preconceituosa do ministro. Guedes vai contra si mesmo, um 70+, e contra aqueles que tanto contribuíram e contribuem para o país. Assim como fez recentemente a deputada estadual por São Paulo, Janaína Paschoal, que defendeu a priorização de recursos na pandemia para jovens. O momento deve ser de inclusão e não exclusão. Uma sociedade que acolhe e abre espaço para as potencialidades da pessoa idosa é uma sociedade melhor para todos.

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