Nova Maturidade

Envelhecer é mais que sabedoria, são vivências

Uma das associações comuns ao envelhecer é que as pessoas se tornam mais sábias, mas nem sempre é o que ocorre, embora seja uma alusão comum na mídia. A série “Sabedoria do Tempo, com Papa Francisco “, disponível no Netflix, baseada no livro “La Sabiduria del Tiempo”, escrito pelo papa, talvez devesse adotar o título em inglês “Histórias de uma geração”.

Não se trata de uma série religiosa, mas com boas reflexões sobre amor, sonhos, luta e trabalho, reunindo jovens cineastas e homens e mulheres com mais de 70 anos de diferentes países, com vivências completamente diferentes. Um pecado da série é a falta de diversidade, afinal as questões LGBTQIA+ ainda são um tabu para boa parte da Igreja Católica. Mas vale a pena assistir!

São quatro episódios com histórias emocionantes, entrecortadas por reflexões do papa. Particularmente, acho que esse papa tem um astral bom, parece realmente preocupado com o próximo, em compartilhar amor, mesmo com os todos os dogmas que vem com a religião católica, como a própria questão LGBTQIA+. Ele até já disse que o Brasil “não tem salvação, é muita cachaça e pouca oração”. Não está muito errado (risos).

Sabedoria do Tempo - Papa Francisco - Scorsese - Netflix

Na série, o amor maduro vivido pelo cineasta Martin Scorsese (na imagem ao lado da filha mais nova, Francesca), que se tornou pai pela terceira vez por volta dos 50 anos. Sua esposa Helen S. Morris tem parkinson. A série mostra essa história de amor, que se mantém, enfrentando a doença. Ele também fala dos desafios da carreira, dos não recebidos no começo, e como seguiu em frente e construiu sua vitoriosa carreira no cinema, com clássicos como Taxi DriverOs Bons CompanheirosOs Infiltrados, entre outros.

Ao longo dos episódios, histórias como de Estela Barnes de Carolotto, fundadora do Movimento das Mães da Plaza de Mayo, que teve a filha grávida presa pela ditadura argentina e só encontrou o neto mais de 30 anos depois. E Vito Fiorino se redescobriu pai ao salvar crianças africanas de um naufrágio próximo da ilha de Lampedusa, na Itália. A primatologista Jane Goodall, de 87 anos, que continua trabalhando pela conservação e proteção de animais.  

Destaque também em “Sabedoria do Tempo” para a história da mulher, que foi uma das primeiras crianças negras a frequentarem uma escola para brancos nos Estados Unidos, e viajou o país para encontrar a mulher hoje proprietária da fazenda onde seus ancestrais viveram escravizados. E ainda a paraquedista de 88 anos que vive se aventurando, em homenagem ao filho falecido.

Mostrando ainda que não se trata de uma questão religiosa, há o depoimento de um chef judeu de Jerusalém, e de uma artista nigeriana, que fugiu ainda adolescente de um casamento arranjado, e volta ao seu local de origem para ensinar o trabalho com tecidos e a criação de estampas, e viver a sua fé em sua religião africana.

Uma série muito bacana que traz diferentes vivências e culturas, reforçando que são muitas as velhices, como também a vivida pelo papa Francisco, que tem 85 anos. 

*Artigo especial de Katia Brito, jornalista, especialista em Gerontologia e responsável pelo blog Nova Maturidade, publicado originalmente na revista digital Magazine 60+ – edição 33

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