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Envelhecimento pode acentuar desigualdades

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O último evento do ano da USP Aberta à Terceira Idade em parceria com a Unibes Cultural teve como tema “Envelhecimento e desigualdade: como a desigualdade impacta no nosso envelhecer”. Quem palestrou foi Jorge Félix, professor de Economia no curso de Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, doutor em Ciências Sociais e comentarista de longevidade no “Bem-Estar”, quadro do programa “Encontro com Fátima Bernardes” (Globo).

Jorge Félix está lançando o livro “Economia da Longevidade – O envelhecimento populacional muito além da Previdência” (106 Editora) e abordou temas do livro na palestra. O livro pode ser adquirido em grandes livrarias. Segundo o professor, a nova dinâmica demográfica traz consigo fatores que fomentam as desigualdades. A tendência com o envelhecimento, segundo ele, é que a renda caia, uma vez que os gastos devem superar os ganhos. O exemplo dado foi a França onde o envelhecimento da população está acentuando as desigualdades, o que deve se replicar em outros países.

Outra questão é a queda da taxa de natalidade. O filho único, por exemplo, concentra a herança do que foi acumulado por duas pessoas. Para Jorge Félix, não cabe dizer que os países mais desenvolvidos ficaram ricos e depois envelheceram e o contrário ocorre com o Brasil. Esses países já eram ricos e a conjuntura após a Segunda Guerra deu início a construção de um Estado de Bem-Estar Social, baseado no pleno emprego. A partir daí foi criada uma ampla rede de serviços públicos, que atualmente envolve também cuidados de longa duração. Cuidado que, em alguns países, já conta com mão de obra vinda de países pobres.  

A presença do Estado, de acordo com o professor, tinha a função de impedir os efeitos naturais do envelhecimento sobre as desigualdades. Porém, atualmente prevalece o modelo econômico com protagonismo exacerbado das finanças. Jorge Félix explicou que nesse novo cenário até mesmo o patrimônio social de países como Estados Unidos, Reino Unido e França está ameaçado, acelerando o processo de desigualdade.

A economia baseada em finanças se reflete também na redução da participação das indústrias no Produto Interno Bruto (PIB). As empresas, segundo Jorge Félix, estão fragilizadas pela obrigação da rentabilidade, do retorno pelo capital investido. Com consequências no mercado de trabalho para aqueles com mais de 40 anos. A tendência de aumento da participação da população mais velha no mercado, segundo ele, não é comprovada.

Quem vai pagar a conta?

Na “geopolítica do envelhecimento”, como denomina Jorge Félix, há uma nova corrida dos países mais ricos para descobrir caminhos para sustentar o processo demográfico atual, mantendo o mínimo do Estado de Bem-Estar Social. Ou seja, tentam descobrir “quem vai pagar a conta pelo envelhecimento de quem?”.

Jorge Félix trouxe ainda o exemplo do Chile, que destaca no livro. O país vive hoje uma convulsão social. A gota d’água foi o aumento da tarifa do transporte público, mas o problema maior está na Previdência, que passou para a capitalização no governo de Augusto Pinochet. Além de grande exportador de cobre, o país se tornou um importante exportador de capital. Os recursos obtidos pelas Administradoras de Fundos de Pensão (AFP), que inicialmente eram 12 e hoje são cinco, têm sido exportados para outros países. Saiba mais sobre o trabalho do professor no site Economia da Longevidade. Clique aqui.

Diante do que foi apresentado pelo professor Jorge Félix, a conclusão é que um dos principais desafios para os países hoje é manter um patrimônio social mínimo em um novo modelo econômico baseado nas finanças, diante do envelhecimento acelerado da população e a queda da taxa de natalidade. (Katia Brito / Foto: Wanderlei Rodrigues Silva)  

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