Nova Maturidade

Foliões 60 Mais animam o carnaval dos mogianos

Carnaval tem idade? Claro que não, e não é todo mundo que tem a disposição e alegria do bloco que abriu o desfile das escolas de samba da cidade de Mogi das Cruzes (SP). O Bloco 60 Mais Mogi brilhou na Avenida Cívica na noite de domingo, dia 23 de fevereiro, ao som de marchinhas. Criado em 2013 pelo então coordenador municipal do idoso, Nelson Albissu, o bloco virou tradição no carnaval da cidade reunindo pessoas idosas e outras gerações.

Georgina levou o estandarte

À frente do bloco, carregando o estandarte a alegria e elegância da imperatriz Georgina Aparecida Moreira, de 72 anos, 40 deles em Mogi das Cruzes. Eleita em 2017, o título é conferido a mulheres de 60 anos ou mais que participam da eleição da corte do carnaval, junto com o Rei Momo, rainha, princesas e o imperador. A cidade ficou sem carnaval por dois anos e este ano sem corte, então ela continua imperatriz. Título que, segundo ela, não existe em outras cidades do Estado de São Paulo.

Desde os 15 anos no carnaval, Georgina desfilou passou por várias escolas de samba e está desde o início do bloco 60 Mais Mogi. “É maravilhoso, é a gloria. O pessoal te abraça, bate palma, é muito bom”, conta. No concurso Miss e Mister Terceira Idade de 2019 da cidade, ela que já foi Miss Elegância ficou com o título de Miss Simpatia.

Acompanhe um trecho do desfile

Exemplo

Quem também chamou a atenção foi Aurélia Maria de Barros Campos, 91. Ao lado de Leila Tayama, integrante da Coordenadoria Municipal do Idoso responsável pela organização do bloco, Aurélia conquistou o público. Depois do desfile, ela ainda ia para curtir o carnaval no baile Centro de Convivência da Terceira Idade Renascer, também em Mogi.

Leila Tayama e Aurelia Maria de Barros Campos Bloco 60 Mais Mogi
Leila (de azul) e Aurélia conquistaram o público

Pela segunda vez no bloco, Aurélia contou ao blog Nova Maturidade que desde menina pula o carnaval. Já desceu avenida, subiu e desceu de bonde no Rio de Janeiro, onde uma irmã morava, e em Mogi, desfilava pela escola de samba Águia de Prata.

Alegria

Maria José fez a própria fantasia

Um exemplo de animação e alegria, assim como Maria José Souza Santos, 68, que antes mesmo do desfile nas arquibancadas sambava fantasiada de mulher das cavernas. Participou da ala das baianas da escola de samba Estação Primeira de Brás Cubas, conhecida como Brascubão, e abandonou as pesadas fantasias para se divertir no bloco 60 Mais Mogi.

Moradora do bairro Jundiapeba, participa das atividades do Centro de Convivência do Idoso. Apaixonada pelo carnaval, contou ao blog que fez toda a fantasia, incluindo a roupa, pulseira, colar e adereços. Aposentada para ela envelhecer tem sido prazeroso: “Melhor que quando eu tinha os meus 30, 40 anos. Estou adorando”.  

Disposição

Quem também sempre esteve envolvido no mundo do samba foi Norival Campos, 72, que desde os 14 anos frequentava a folia em São Paulo e até no Rio de Janeiro. Foi diretor e fundador da antiga escola de samba Mocidade do Tietê. Para ele, falta ao carnaval de Mogi uma maior participação. “O pessoal de Mogi precisa se juntar mais para abrilhantar o carnaval que já foi muito bom. Tinha que retornar aos velhos tempos, os blocos para crianças e adultos”, destacou, integrante do Pró-Hiper, espaço municipal voltado para a prática de exercícios por pessoas idosas.

Norival ficou oito anos longe do carnaval até que resolveu participar com o bloco 60 Mais Mogi, e tem planos se tudo der certo montar uma bateria de mulheres no próximo ano. “Eu falei: ‘ficar em casa pra quê?’. Precisa o povo se animar, e se convidar para qualquer coisa, um negócio sério, eu topo. Se tiver alguma escola de samba boa e me chamar, estou indo. É bom aproveitar a resistência que tá boa ainda”, brincou.  

Norival, Marlene e Cleusa antes do desfile

As amigas Marlene Lisboa, 59, e Cleusa Maria Pereira, 63, também animaram o desfile. “Quando a gente é mais jovem a gente curte sempre, depois quando fica liberada de filho e marido, a gente volta a curtir de novo. Para mim é muito importante participar porque a gente se sente sozinha, e nesses grupos a gente interage, conversa, passo o tempo e a gente não vê. Tem que manter a autoestima em cima”, afirma Cleusa, que participa de um Centro de Convivência no bairro César de Souza.  

Fora do bloco

E não foi só o bloco que animou o carnaval mogiano, depois desfilaram as escolas de samba Guerreiras de Fogo, Acadêmicos da Fiel, Unidos da Vila Industrial, Acadêmicos de São João e Estação 1ª de Brás Cubas. Entre as baianas da Guerreiras de Fogo, Neide Aparecida Martins, 66. “Eu amo o carnaval. Desde pequena, sempre frequentei. Toda minha família ama de paixão o carnaval. Acho que as escolas de Mogi são muito bem organizadas e o importante é o povo sair e se divertir”, disse ao blog. Quem levou o título foi a Vila Industrial.

Legado

Nelson Albissú, morto em dezembro de 2016, fez toda a diferença enquanto esteve à frente da Coordenadoria Municipal do Idoso, vinculada à Secretaria Municipal de Assistência Social. “Acho que é a preservação da memória e também do legado que o Nelson Albissú  deixou pra nós desde 2013. O bloco está na ativa graças a Leila (Toyama) que faz questão de manter e perpetuar este legado. O Nelson Albissú foi um grande historiador, escritor, ator e diretor. A cultura ficou muito fortalecida com o legado que ele deixou, principalmente com a pessoa idosa”, avaliou a secretária municipal de Assistência Social, Neusa Marialva.

Leila Tayama, 66, estar à frente do bloco é uma dádiva. “Nesse bloco todo mundo gosta de carnaval. São pessoas que têm mente boa, gente do bem, que só querem viver a vida e ser feliz. Eu sinto como uma dádiva divina ter caído na Coordenadoria do Idoso. Eu organizo os eventos, o bloco criado pelo Nelson Albissú. Infelizmente ele faleceu mas a gente continua”, destacou. Entre os integrantes do bloco, atletas que devem participar dos Jogos Regionais do Idoso em abril. (Katia Brito / Fotos: Wanderlei Rodrigues Silva)

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