A oitava edição do Fórum Internacional da Longevidade começou na quinta-feira com o tema Envelhecimento 2020 – Virando a Página. Como disse Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional da Longevidade (ILC-BR, sigla em inglês), entidade responsável pelo evento, o momento é de virar a página, mas com segurança, de modo que o futuro seja mais saudável e ativo. No dia anterior, ele participou de um diálogo entre entidades da sociedade civil com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus
A primeira sessão do evento, que tem patrocínio da Bradesco Seguros e apoio institucional da Unibes e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) – Rio de Janeiro, destacou a Década do Envelhecimento Saudável, proposta pela OMS. Haverá mais três sessões nas próximas quintas-feiras de novembro, a partir das 11 horas, com transmissão ao vivo pelo link www.livebseguros.com.br. Não há necessidade de inscrição prévia.
Lely Guzman, do escritório de Brasília (DF) da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), representante regional da OMS, foi a primeira palestrante e destacou resoluções e ações desenvolvidas na região que contribuíram para a Década, como a Convenção Interamericana sobre os Direitos das Pessoas Idosas, aprovada em 2015. Segundo Lely, a região tem mais de 600 cidades e comunidades certificadas como amigas das pessoas idosas, sendo 186 reconhecidas apenas no ano passado. Na imagem principal, Lely e Kalache.
As Américas, de acordo com a palestrante, tem um índice de envelhecimento superior a outras regiões, além do aumento da expectativa de vida ao nascer e do número de pessoas idosas dependentes que deve triplicar até 2050, chegando a 227 milhões. Mesmo diante desses dados, é baixa a percepção de prioridade para a temática do envelhecimento.
A proposta da Década, segundo ela, é uma aliança através dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, incluindo o envelhecimento nessa agenda. A iniciativa prevê década dez anos de trabalho colaborativo, sustentado e ratificado pelas Nações Unidas, com o objetivo de unir governos, organizações internacionais, profissionais, mídia, setor privado e instituições acadêmicas para que a vida das pessoas idosas, suas famílias e toda comunidade seja melhor. Confira na imagem as áreas de atuação da Década.
Uma resposta apropriada para as necessidades da população idosa e garantir sua inclusão e acesso não apenas no setor de saúde, mas nos sistemas de transporte, cultura, educação, entre outros, é o principal objetivo da Década. Isso por meio de uma aliança com outros setores para reduzir impactos sobre o setor saúde, adaptar legislações e normas, eliminar preconceitos e discriminações, mobilizar um pacto social pelo envelhecimento saudável e ativo, e colocar o tema na agenda política.
Saúde
A segunda palestra foi de Marília Louvison, da Faculdade de Saúde Pública da USP. Ela ressaltou a importância da Década em responsabilizar governos, sociedades, universidades, mídia e setor privado para a promoção da melhoria da qualidade de vida das pessoas idosas e o combate ao preconceito, mas alertou para a necessidade de pensar em como produzir efetivamente políticas públicas.
O tema da fala de Marília (foto) foi o Fortalecimento dos sistemas de saúde. Os sistemas de saúde precisam de visibilidade e o Sistema Único de Saúde (SUS), que faz toda a diferença no enfrentamento da pandemia de Covid-19, é necessário para envelhecer bem, pensando a vida como direito e não pela lógica de mercado do setor privado. A estratégia fundamental, segundo ela, é colocar a lente do envelhecimento e pensar as necessidades do envelhecer, de forma integral e intersetorial, escutando e incluindo as pessoas idosas.
Para a palestrante, o SUS precisa de financiamento, vontade política e um olhar para que a velhice seja um bem de todos e não para cada um de nós. É preciso um pacto societário para um bem comum. A revolução da longevidade exige revolução nos cuidados.
Atenção Primária
O médico de família Eberhart Portocarrero Gross (foto), que atua na favela da Rocinha , no Rio de Janeiro, falou sobre A importância da atenção primária à saúde. Nesse primeiro acesso à saúde, profissionais com formação adequada que permita dar resposta às questões mais comuns vão poder avaliar também a construção das relações familiares e como emergem os problemas de saúde mais variados. Assim, o que for mais comum vai ser conhecido e resolvido, e o incomum referenciado para outro profissional.
Os quatro atributos da atenção primária foram destacados pelo médico. O primeiro é acesso, ou seja, a oportunidade de acesso fácil à saúde que dê uma boa resposta para cuidados continuados; e o segundo, a integralidade, que é a ideia de ver a pessoa como um todo, seus aspectos biológicos, psicológicos e sociais, com um olhar afiado para reconhecer como interagem na saúde e doença e como agir sobre esses aspectos para melhorar isso.
Outro ponto é a longitudinalidade, que é acompanhar as pessoas ao longo do tempo, permitindo um acúmulo de conhecimento para um cuidado que é claramente superior. O médico alerta que esse acompanhamento deve começar cedo para que quando pessoa envelhecer tenha alguém que conhece e a conhece, tendo um envelhecimento ativo e um fim de vida digno.
A coordenação também foi um dos atributos destacados. Trata-se da organização do sistema, da necessidade de um maestro para essa orquestra complexa formada por vários profissionais de saúde, alguém que tenha a visão do todo. Eberhart salientou que é comprovado por estudos que uma atenção primária eficiente reduz o número de internações, o custo do sistema, a mortalidade e aumenta a satisfação. Um atendimento centrado na pessoa com base em confiança e compromisso.
Pandemia
A sessão terminou com os palestrantes, com exceção de Lely Guzman, representada no final do evento por Bernardino Vitoy, também da OPAS, e comentários de Karla Giacomin, vice-presidente do ILC-BR e coordenadora Frente Nacional de Fortalecimento às ILPIs (instituições de longa permanência para idosos).
Para Karla, a pandemia “colocou a nu todas as nossas fragilidades”, principalmente em relação aos idosos institucionalizados mais vulneráveis e negligenciados. Ela ressaltou a necessidade de diálogo entre o SUS e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) para superar as lacunas de atuação e enfrentar juntos os problemas, como também de coesão social.
Kalache também lembrou que 74% das mortes por Covid-19 no Brasil foram de pessoas com mais de 60 anos. Para ele, a Década não basta ser voltada para o Envelhecimento Saudável, tem que ir além porque com doenças crônicas controladas é possível continuar ativo. “Sinto falta que se fale mais em direito a uma vida com dignidade, direito a ser cuidado”, afirmou.
Segunda sessão
A próxima sessão do Fórum Internacional da Longevidade, no dia 12 de novembro, terá como tema Construindo solidariedade, empatia e compaixão. O vídeo completo da primeira sessão está no link www.livebseguros.com.br.
(Katia Brito)