Tecnologia, redes de proteção e acolhimento, protagonismo e valorização foram os eixos do I Fórum Nacional da Pessoa Idosa: “Envelhecimento e seus Desafios no Brasil”. O evento reuniu, entre os dias 13 e 16 de abril, profissionais e especialistas da área do envelhecimento e da longevidade. As palestras e mesas de debate estão disponíveis no Facebook e Youtube do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
A abertura foi feita por autoridades na terça (13), e as palestras e mesas redondas começaram na quarta (14). A primeira palestra foi “Telemedicina: desafios e perspectivas”, com o gerente da área de telemedicina do Hospital Albert Einstein, Eduardo Cordioli. A Lei n° 13.989, de 15 de abril de 2020, autoriza o uso da telemedicina durante a crise causada pelo coronavírus.
Embora uma realidade distante ainda para muitos, o médico listou os benefícios da tecnologia para o exercício da medicina à distância, que contribui inclusive para reduzir os riscos de contágio neste momento de pandemia de covid-19.
O exercício da medicina, segundo ele, é a convergência entre o aprendizado teórico e aquilo que se aprende ao longo da vida. O uso da tecnologia, com plataformas adequadas e profissionais treinados, potencializa a capacidade de atendimento médico, contribui para melhorar a experiência do paciente, o acompanhamento e consequentemente a adesão aos tratamentos, especialmente de doenças crônicas.
No Einstein, o número de atendimentos por telemedicina subiu de 60 para mil por dia no período da pandemia, enquanto os presenciais caíram. Pelo Einstein Conecta, são mais de dois milhões de pessoas com acesso, mais de 250 mil atendidos sem nenhum evento adverso, abrangência de mais de 200 municípios em todos os Estados e mais de 250 médicos. A experiência com pacientes acima de 65 anos, segundo o especialista, revelou um alto grau de satisfação e uma flexibilidade para este tipo de consulta.
Saúde conectada
Em seguida, Chao Lung Wen, médico, doutor em Informática Médica e livre docente em Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, falou sobre “Telessaúde de cuidado biopsicossocial sênior”. O especialista apresentou o conceito de saúde conectada, fundamentada tanto nos serviços por meio digitais como no atendimento presencial.
Não se trata apenas de videochamadas, segundo o médico, mas um conjunto de equipamentos e dispositivos que permitam o acompanhamento e monitoramento dos pacientes, investindo em uma abordagem biopsicossocial. Serviços que devem ser devidamente fiscalizados e norteados por guias de boas práticas com foco nas pessoas e não apenas na tecnologia.
O médico também destacou os benefícios da chegada da tecnologia 5G, por exemplo, que poder tornar o sistema de saúde mais ágil e eficiente, aumentando a conectividade e permitindo inclusive o acesso à realidade virtual e interação com robótica.
Um estudo apresentado pelo especialista trouxe evidências do telemonitoramento em doenças crônicas para idosos, como redução de 15% em visitas de emergência, 20% de admissões hospitalares, 14% de dias no leito hospital e principalmente, de 45% nas taxas de mortalidade.
O foco, porém, precisa ir além das doenças, centrado na promoção da saúde, em estilos de vida mais saudáveis não só para o paciente, mas para a família, estimulando o conhecimento e o autocuidado apoiado nas tecnologias assistenciais.
Valorização
“As novas tecnologias como instrumentos de promoção da saúde da pessoa idosa” foi o tema de Patrícia Cardoso Dias, mestre em Ciências Jurídicas Processuais e professora da Universidade Autônoma de Lisboa (UAL). A especialista destacou a necessidade de tecnologias que atendam as características específicas daquele que envelhece, primando pela adaptabilidade, de forma intuitiva e de fácil utilização, sem deixar de lado a privacidade e segurança de dados.
Patrícia repudiou os estereótipos ligados ao envelhecimento e a discriminação baseada na idade, e ressaltou a necessidade de valorização e inclusão dos idosos nos processos decisórios. Uma luta pela independência, participação e em defesa da diversidade, como também para que as inovações sociais e tecnológicas permitam a qualidade de cuidados prolongados e que as pessoas idosas possam se manter e continuar participativas na própria comunidade (ageing in place).
Defensoria
“O papel da Defensoria Pública no acesso às tecnologias pelas pessoas idosas” foi apresentado pela defensora pública do Estado do Pernambuco, Silma Dias Ribeiro Lavigne. Segundo ela, o papel da Defensoria é fazer com as mudanças e as tecnologias existentes cheguem a todos, dando vez e voz aos mais excluídos. A atuação se dá por meio da judicialização, acordos de cooperação e na educação em direitos, levando conhecimento e informação à sociedade.
A defensora acredita que a tecnologia traz benefícios para a qualidade de vida da pessoa idosa, maximizando a autonomia e independência. Porém, a pandemia evidenciou a falta de acesso às tecnologias, o que é ainda pior quando se trata da população idosa. Segundo ela, é uma nova vulnerabilidade: a desigualdade digital, dificuldade que precisa ser enfrentada. E para um futuro melhor, é preciso envolver a todos para uma longevidade mais saudável e com equidade.
Tecnologia no INSS
Alessandro Roosevelt Silva Ribeiro, diretor de Benefícios do INSS, abordou “O uso da tecnologia para os beneficiários do INSS”. Segundo ele, entre aposentadorias, pensões e benefícios de prestação continuada (BPC), que contemplam em sua maioria a população idosa, são pagos perto de R$ 45 bilhões por mês. A dependência de benefícios previdenciários, infelizmente, acaba se tornando uma desculpa para a violência contra a pessoa idosa.
Desde 2000, o órgão promove mudanças para melhor atender a população com a implantação de novos canais, como o atendimento telefônico pelo número 135 e a criação do portal e aplicativo Meu INSS. Ribeiro disse que o INSS busca alternativas para cada universo, já que há realidades muito diferentes pelo país, principalmente em localidades distantes dos grandes centros.
Inovações e inclusão
O encerramento do primeiro dia foi com a Mesa de Debate: “Inovações tecnológicas e barreiras para a inclusão digital”. Os convidados, em destaque na imagem principal, foram Egídio Dórea, coordenador da USP60+; Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) São Paulo; Sérgio Duque Estrada, representante da Aging2.0 para a América do Sul, e Wilson Jacob Filho, médico e professor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Sérgio destacou que apesar da tendência de crescimento da população 60+, os setores de bens e serviços, embora o cenário venha mudando, ainda não estão preparados para atender essa faixa etária. Pessoas que mais que novas oportunidades de trabalho, podem contribuir em projetos intergeracionais e desejam empreender.
Egídio ressaltou a importância do aprendizado ao longo da vida, um dos pilares do envelhecimento ativo, e o trabalho desenvolvido pela USP60+, criada em 1993. Com a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia, as atividades foram transferidas para plataformas online no segundo semestre de 2020 com uma resposta muito positiva dos idosos, inclusive de outros estados, que se engajaram nos cursos.
Diante de um panorama complexo e amplo das muitas velhices, segundo o coordenador da USP60+, é preciso diferenciar os letrados digitalmente e os não incluídos. Pessoas que de forma geral não estão preparadas, não tendo acesso ou dispositivos adequados, além das próprias limitações do envelhecimento. Com o apoio adequado, porém, são pessoas que conseguem se inserir e podem usufruir desse meio digital.
O protagonismo foi salientado por Wilson Jacob. Para ele, é fundamental a equidade em relação a outras faixas etárias, com a possibilidade de atender diferentes segmentos de maneira mais equivalente possível. Iniciativas que contribuam para que a pessoa idosa se sinta participativa, protagonista, não sendo apenas alvo das ações, mas parte de sua construção. Afinal o que é bom para o idoso se estende para toda a sociedade.
Acompanhe no Blog Nova Maturidade a cobertura dos demais dias do evento com os eixos Redes de Proteção e Acolhimento e Protagonismo da Pessoa Idosa e Mecanismos de Valorização.