Protagonismo e valorização da pessoa idosa foram os temas do último dia do I Fórum Nacional da Pessoa Idosa. O terceiro eixo trouxe temas como testamento vital, mercado de trabalho para pessoas 50+ e conexões e relações na comunidade. Na Mesa de Debate, a participação especial da ativista da velhice, Marie Claire Eshkenazy, que no dia 17 de abril completou 82 anos. A mediadora do dia foi a juíza Monize Marques, coordenadora da Central Judicial do Idoso (CJI) do Distrito Federal.
A abertura do eixo 3: “Protagonismo da pessoa idosa e mecanismos de valorização” foi com Luciana Dadalto, coordenadora do Comitê de Bioética da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). O tema abordado foi “O testamento vital como instrumento de protagonismo da pessoa idosa”. A especialista destacou que apesar de pouco conhecido, o testamento vital é um documento extremamente importante para manifestar a vontade e escolher os tratamentos desejados ou não no fim de vida.
Para a especialista, o debate sobre a morte é interdependente a todas as discussões sobre o envelhecimento, pois assim como o ideal é que todos envelheçam de modo ativo, também no momento da morte é fundamental ser o protagonista da própria história. Segundo a especialista, não se trata de um formulário pré-fabricado, mas algo que reflita a história de vida da pessoa, trazendo seus valores e desejos diante de uma situação de adoecimento.
O documento, que não precisa ser registrado em cartório, pode ser feito por qualquer pessoa a partir dos 18 anos enquanto perdurar a capacidade de discernimento. O testamento deve ser datado e assinado, sem a necessidade de testemunhas. A recomendação é conversar com profissionais de saúde de confiança para alinhar o desejo e o que é possível do ponto de vista da medicina. Importante também a conversa com os familiares e amigos para que tenham ciência do documento e das vontades que ele expressa.
Mercado de trabalho
“O mercado atual de trabalho para os 50+” foi o tema da segunda palestra, ministrada por Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi. Segundo ele, embora estejamos vivendo a revolução da longevidade e 57% da força de trabalho em 2040 deve ser composta por pessoas com mais de 45 anos, há muitos mitos e preconceitos que precisam ser vencidos.
Viver mais tempo não se trata apenas do acesso à saúde, mas a necessidade de se manter por mais no mercado de trabalho. Para Mórris, a pandemia escancarou o preconceito etário, que foi ou será sentido por todos. A perda de emprego dos maduros também foi acelerada e, mesmo com a volta das contratações, as vagas são destinadas aos mais jovens.
O empreendedor ressaltou a necessidade da quebra de paradigmas, mudando a percepção de empresas, líderes, gestores, Recursos Humanos (RH). A missão da startup Maturi é transformar a relação entre os 50+ e o mercado de trabalho, dentro e fora das empresas. Segundo ele, é preciso espaços para que as pessoas possam continuar trabalhando até quando queiram, não até quando digam que elas possam.
Conexões e comunidade
Paulo Borges Junior, presidente do Instituto Total Educação e Cultura, apresentou a palestra “Da vida, o fluxo – A consciência de comunidade nas usas conexões e relações”. Formado em engenharia civil e na área teológica, destacou que para melhorar a comunicação entre gerações é preciso estar atento à qualidade da comunicação entre as partes envolvidas, se há quebra ou obstrução que comprometa esse fluxo.
Paulo também ressaltou a diferença entre comunidade – conjunto de organismos que habitam meio ambiente comum e se inter-relacionam, e a coletividade – associação entre iguais, ou seja, um conjunto de indivíduos reunidos para um fim ou interesse comum. Segundo ele, a tendência brasileira é a criação de ambientes coletivos e a mobilização de iguais, e não a promoção e construção de pensamentos e ambientes comunitários.
Outra questão apontada por ele é se estamos construindo pontes ou erguendo muros de separação. As pontes de comunicação promovem a formação das comunidades diferentes, proativas, engajadas, ou seja, que tomam para si a responsabilidade de transformação. Enquanto os muros reforçam a segregação social e a militância. O desafio é que as questões ligadas ao envelhecimento brasileiro sejam tratadas de forma comunitária, estimulando o protagonismo, sem segregação.
Idadismo
A mesa de debate que encerrou o Fórum Nacional teve como tema “O impacto da comunicação do idadismo X a valorização do envelhecer”. A jornalista especializada em saúde e longevidade Lina Menezes, da TV Faz Muito Bem, conduziu a conversa com Willians Fiori, especialista em longevidade e criador do Gerocast, e a ativista da velhice Marie Claire Eshkenazy.
Lina destacou que a forma como nos comunicamos impacta e constrói, e pode incentivar a formação de pontes, como disse o palestrante anterior, criando verdadeiros laços sociais. E a tecnologia torna cada pessoa corresponsável para o bem ou para o mal por essa comunicação, como visto na pandemia com memes e fake news.
Para combater o idadismo e a desigualdade, promovendo a inclusão de todos, Lina aponta o caminho da educação e do aprendizado. O envelhecimento deve então ser discutido desde a infância, com estimular à intergeracionalidade para mudar a cultura em relação à jornada da vida que é o envelhecimento.
Para Willians Fiori, o envelhecimento, a longevidade é uma construção. Quando a pessoa chegar aos 60 anos, pode viver mais 40 anos, ou seja, viver outra vida. E nesta época da pandemia, a pergunta é: você tem medo de morrer ou de não viver?
Na economia da longevidade, ele destaca que há produtos e serviços que precisam ser específicos, mas soluções universais atendem a todos, idosos ou não. O desafio para o mercado e para a criação de políticas públicas é dar voz ao idoso, para que ele seja inserido dentro do que já existe. A chave para Willians também está na educação, que começa dentro de casa, com os filhos e netos, desenvolvendo uma cultura gerontológica que permita se colocar no lugar do outro e ter empatia.
Protagonismo
Ativista da velhice, blogueira, escritora, Marie Claire afirmou que viver tem potencial engrandecedor e o ato de existir é uma condição essencial de todo ser humano. Ela chegou ao Brasil aos 12 anos, fugindo com a família do Holocausto, e até os 68 anos, nunca tinha se preocupado com as palavras, idoso ou velhice. Foram os golpes da vida que a fortaleceram e ela decidiu se tornar protagonista de sua própria história.
Ao longo do caminho, a ativista foi se descobrindo e ressignificando a vida, como ocorreu na pandemia. Segundo ela, “todo idoso tem aspirações e deseja ser protagonista da própria vida, mas muitas vezes isso lhe é vedado. Envelhecer não é tão fácil assim, mas a única escolha possível é viver com todas as maravilhas e dores.”
Para Marie Claire, vencer o preconceito contra a pessoa idosa vai levar gerações. Infelizmente sempre vai existir quem não entende a necessidade do protagonismo do idoso. Ela mesma passou por situações desagradáveis, e por vezes a pessoa idosa evita o desgaste de certas situações. Mas ela segue amando a vida e aprendendo sempre.