Tecnologia a favor do envelhecimento bem-sucedido, não só na forma de equipamentos, mas também de estratégias e conceitos. Esta é a proposta da Gerontecnologia. E entre os dias 10 e 12 de outubro pude participar do III Congresso Brasileiro, promovido pela Sociedade Brasileira de Gerontecnologia (SBGTec), no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo.
“O III Congresso Brasileiro de Gerontecnologia é um encontro bastante importante para juntar pessoas interessadas no assunto da tecnologia com foco a apoiar o envelhecimento da sociedade, apoiar a longevidade de uma forma mais focada nas questões de engajamento, de prevenção de saúde e também no apoio ao cuidado. Nesse evento a gente está discutindo sobre estratégias, metodologias e equipamentos também”, explicou ao blog a profa. dra. Carla da Silva Santana Castro, presidente da SBGTec (foto principal).
O primeiro dia foi dedicado a workshops como o ministrado pela arquiteta Flávia Ranieiri (leia uma matéria com ela aqui) sobre “Design de ambientes para idosos: Pensar o espaço de viver”. Participei de outro sobre “Realidade virtual voltada às práticas gerontológicas”, com a participação de José Eduardo Pompeu, coordenador do curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP; as pesquisadoras Jéssica Maria Ribeiro Bacha, Juliana Magalhões Silva e Michelle Didone dos Santos; Daniel Donadio Mello, especialista em psicologia cognitiva, e a gerontológa e coordenadora da pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social, Thaís Bento Lima da Silva. Na foto, Juliana, José Eduardo, Daniel, Jéssica, Michelle e Thaís.
Na teoria e na prática foi possível aprender sobre o potencial de jogos para o estímulo cognitivo e motor, sejam comerciais como o Wii Fit (Nintendo) e o Kinect (Xbox), ou especialmente desenvolvido para esta finalidade. Com a devida atenção os efeitos colaterais (cybersickness em inglês) em idosos, principalmente em jogos imersivos que podem provocar conflitos com os sistemas sensoriais.
Em comparação às terapias convencionais, a reabilitação com realidade virtual, apesar do maior custo, é uma terapia lúdica que trabalha a intergeracionalidade, transfere habilidades adquiridas para a vida cotidiana, estimula a prática de exercício físico e ainda atendem diferentes demandas motoras e cognitivas.
Na terapia cognitiva, por exemplo, segundo Daniel Mello, a realidade virtual auxilia em pequenos enfrentamentos diante de fobias e quadros de depressão. Thaís Bento alertou para que os projetos sejam feitos com e não para os idosos, tendo a família como coparticipantes desse processo. Segundo ela, o trabalho com a realidade virtual ajuda a quebrar o estigma em relação à tecnologia e à capacidade de aprendizagem.
Palestras
Na sexta-feira, dia 11 de outubro, primeiro dia de conferências, a professora palestrou sobre “Gerontecnologia: Desafios e oportunidades para o Brasil”. Segundo ela, a tecnologia está também no modo de fazermos as coisas. “No fundo a gente fica achando que o robô não se aplica a nossa realidade e a nossa realidade não é uma só, ela é muito diversa. A gente tem que imaginar a tecnologia mesmo como estratégia, especialmente englobando a questão da organização do cuidado, das tecnologias assistivas, com o uso por exemplo de sensores para melhor iluminação, questões de mobilidade, é muito amplo. Eu acho que a gente tem que focar nessa diversidade”, ressaltou.
Conforme definição da Sociedade Internacional de Gerontologia, trazida por Carla em sua apresentação, o campo de conhecimento da Gerontecnologia envolve a pesquisa, concepção, desenvolvimento e aperfeiçoamentos de novas técnicas, produtos e serviços voltados ao público idoso. Uma área multi e interdisciplinar. Para a presidente da SBGTec, o Brasil está diante de um grande desafio que é ampliar o financiamento para produzir, implementar e ampliar o uso de tecnologia com foco no idoso. Saiba mais no site da SBGTec.
Envelhecimento
O presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Geriatria (SBGG), Carlos Uehara, também esteve presente e destacou a “Tecnologia na atenção à pessoa que envelhece: questões postas aos profissionais de geriatria e gerontologia”. Uehara abordou o contexto do envelhecimento brasileiro como o aumento de múltiplas doenças e agravo de doenças crônicas não transmissíveis, o que diminui a capacidade funcional e há maior demanda por cuidado.
Diferente de outras faixas da população do Brasil, segundo Uehara, o número de idosos é o que mais cresce, em torno de 4% nos 60+ e 6% nos 80+. E é grande o impacto das desigualdades sobre o envelhecimento populacional, como a falta de acesso a saneamento básico e a violência que reduz em até 20 anos, por exemplo, na cidade de São Paulo, a idade média ao morrer de acordo com o bairro em que se vive.
Em sua apresentação no Congresso de Gerontecnologia, o presidente da SBGG destacou que as pessoas não envelhecem de acordo com a idade, mas segundo sua origem social e o tipo de atividade exercida ao longo da vida. Por isso a necessidade de uma transição do modelo de cuidado que foque a heterogeneidade, seja de longo prazo e multidisciplinar. Uma cultura do cuidado baseada na comunicação, continuidade, comunidade e centrada na integralidade.
À distância
“A tecnologia para a continuidade do cuidado à distância” foi o tema apresentado pela profa. dra. Rosimere Santana, da Universidade Federal Fluminense (UFF). O simpósio satélite encerrou a primeira manhã de palestras do Congresso de Gerontecnologia na sexta-feira, dia 11. Ela apresentou o projeto “Central de Telemonitoramento de Idosos: Tele Idoso Rio”. Pacientes que passavam pela cirurgia de catarata eram acompanhados por meio de ligações telefônicas.
Com o menor tempo de internações, segundo Rosimere, o tempo também é menor para fornecer informações ao paciente e as orientações acabam sendo mal absorvidas e mal compreendidas. O resultado do projeto destacou a importância para a independência e autonomia do idoso que por meio das orientações se recupera no menor tempo possível. Projeto semelhante foi feito com pacientes de cirurgias cardíacas mas com uso do WhatsApp. O trabalho agora visa os pacientes com demência e cuidadores. Veja mais sobre o III Congresso Brasileiro de Gerontecnologia no link. (Katia Brito)