O mês de março tem uma data importante para a área do envelhecimento e longevidade. No dia 24 é celebrado o Dia do Gerontólogo, data que marca a colação de grau dos primeiros bacharéis em Gerontologia do Brasil. Segundo definição da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), onde o primeiro curso de graduação da área foi criado em 2005, são profissionais responsáveis pela gestão da atenção ao envelhecimento. A área estuda os aspectos biológicos, psicológicos e sociais da velhice.
Com formação multidisciplinar, os gerontólogos podem atuar em hospitais, ambulatórios, unidades de saúde, programas de assistência domiciliar, centros de convivência, e instituições de média e longa permanência, além da dedicação a pesquisa e a formação de outros profissionais.
A data está no calendário oficial da cidade de São Paulo, por iniciativa do então vereador Gilberto Natalini, com participação da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). “Desde então as comemorações são nossas mesmo. Fomos expandindo para outras universidades, para pessoas que fazem especialização e criamos a Semana da Gerontologia”, conta a presidente da ABG, Eva Bettine, que participou do Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia (CBGG), no dia 25 de março, no Fórum “Prática da Gerontologia em Diversos Cenários Educacionais”.
Eva salientou a importância da data: “Quando você tem uma data, seja ela qual for, obriga a pensar sobre o assunto. Então, se você nunca ouviu a palavra, mas hoje é dia do quê? Vem a pergunta. A gerontologia é uma profissão em formação da identidade do profissional e comemorar esse dia tem esse objetivo também”.
O Dia do Gerontológo deve se tornar nacional, quando for regulamentada a profissão. Um projeto de lei tramita hoje no Congresso. “Quando a Comissão do Idoso for montada na Câmara Federal, nós vamos voltar a conversar, porque infelizmente o nosso projeto de lei está mais tempo parado na Comissão do que todo tempo que ele andou no Senado, onde passou em várias comissões e tivemos os embates, com a Medicina, com a Assistência Social, Fisioterapia, todos eram contra a gente e fomos conseguindo vencer esses passos”, contou a presidente da ABG.
Além da Comissão do Idoso na Câmara, o projeto deve passar por mais três comissões, incluindo Constituição e Justiça.
Valorização do gerontológo
O desconhecimento da área é um desafio a ser vencido. “Na Associação Brasileira de Gerontologia, a gente recebe no fim do ano, na época de vestibular, alguns pais falando: ‘Meu filho quer fazer Gerontologia, mas quanto um gerontólogo ganha?’ A questão financeira pesa muito para trabalhar com velhos enquanto a nossa sociedade tiver esse preconceito, e também nas próprias famílias. Às vezes os alunos entram e falam que tiveram que vencer a resistência do pai e da mãe, porque eles queriam fazer Gerontologia, por conta dos relacionamentos com os avós, por exemplo, que é o que move muitos que começam”, conta Eva.
Para a presidente da ABG, é necessária uma ampla divulgação sobre a área, considerada uma das profissões do futuro, assim como os cuidadores: “A importância do gerontólogo é que ele passaria a trabalhar pelo processo do envelhecimento, a educação pro envelhecimento na sociedade para que a gente tivesse uma velhice mais tranquila, saudável, de preferência e que a gente precisasse menos de cuidados. Então para o Estado é bom, para toda a população também, mas é um desafio grande vencer esse preconceito”.
Mercado de trabalho
Há possibilidades de atuação do gerontólogo, tanto no poder público como na iniciativa privada. “A formação traz multipossibilidades, porque você tem aulas com multiprofissionais. A gerontologia cuida do processo de envelhecimento, então você tem que pensar na psicologia, na sociologia, e na biologia do envelhecimento, e quando você vai atuar, sempre vai encontrar”, destacou Eva.
Entre as possiblidades listadas por ela, estão o trabalho com políticas públicas, em instituições de longa permanência, centros dia, centros de convivência, e consultoria para famílias, avaliando se há necessidade de encaminhamento para uma instituição ou de um home care, por exemplo. Outra opção são operadoras de saúde que, segundo Eva, estão percebendo que o gerontólogo pode ser o primeiro atendimento antes do beneficiário passar por especialidades, fazendo uma avaliação ampla do paciente.
“Nós temos muitas pessoas da gerontologia trabalhando em diversas áreas. Se eles não estiverem trabalhando ninguém vai conhecer. Ainda é um salário baixo, ainda existe resistência das empresas, às vezes de outros profissionais, mas quando eles admitem uma pessoa, eles percebem o diferencial. Nosso desafio écolocar mais gente junto no mercado de trabalho e vencer o preconceito em relação ao envelhecimento”, conclui a presidente da ABG.
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