Fatores de risco são maiores para o suicídio depois dos 70
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Idosos 70+ têm mais fatores de risco para suicídio

O suicídio é uma das principais causas de morte em todo o mundo, de acordo com as últimas estimativas divulgadas em junho pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Por isso a importância da campanha Setembro Amarelo e de falar sobre o tema, principalmente com a população idosa acima dos 70 anos que apresenta mais fatores de risco. O blog Nova Maturidade traz uma entrevista especial com Thiago Cantisano, psicólogo da Casa São Luiz, a mais antiga instituição de longa permanência para idosos, instalada no Rio de Janeiro.

O psicólogo, além do atendimento individual, promove encontros de grupos, trabalha a estimulação cognitiva e busca escutar os idosos para implementar atividades. O trabalho abrange também cuidadores, familiares e colaboradores da instituição. Thiago é instrutor certificado de Satria Yoga e conduz atividades para integração de corpo e mente, como yoga e meditação.

Nova Maturidade: Por que idosos acima de 70 anos têm mais fatores de risco para o suicídio? Para idosos mais jovens, entre 60 e 70 anos, a incidência é menor?

Thiago Cantisano: De fato, as taxas de suicídio em idosos acima de 70 anos são maiores do que em idosos mais jovens entre 60 a 70 anos. Isso acontece pelo fato de que, acima de 70 anos, há maior incidência justamente dos fatores de risco que estão relacionados ao suicídio em pessoas idosas.

Doenças terminais com dores incontroláveis ou sofrimento físico, impossibilidade de trabalhar por limitações físicas, cognitivas ou pela própria crise econômica, gerando empobrecimento de renda, perda de autonomia e de papéis sociais que conferiam ao idoso pertencimento e reconhecimento… Tudo isso gera no idoso uma morte social, simbólica, que o leva a temer um prolongamento da vida desprovido de sentido e dignidade.

NM: O que os impede de procurar ajuda ou retarda essa busca?

Cantisano: Infelizmente o cuidado com a saúde mental ainda é visto de forma estigmatizada, especialmente entre o público mais idoso. Mas isso vem mudando, todo contexto da pandemia tornou a importância da psicologia na promoção da saúde mental algo impossível de não ser reconhecido. 

NM: A pandemia contribui para o aumento de casos, não necessariamente apenas de suicídio, mas depressão e ansiedade, por exemplo?

Cantisano: Os níveis de ansiedade e a incidência da depressão têm disparado frente às incertezas diante da pandemia que vão desde a sobrevivência financeira e restrição da liberdade até o medo de perder pessoas próximas ou a própria vida. Além do prejuízo que trazem em si, são fatores de risco para ideação e tentativas de suicídio.

NM: Com as muitas mortes por covid-19, o luto também contribui para transtornos afetivos e até mesmo o suicídio? Como trabalhar este luto?

Cantisano: Com tantas mortes por covid, a sensação de proximidade da morte já comum na terceira idade, acaba se tornando algo ainda mais sensível. Além disso, muitas vezes o idoso se vê em meio à perda de entes queridos e o processo de luto é um período delicado onde é preciso desenvolver uma rede social de relações de suporte. O idoso precisa se ver não apenas acolhido mas tomar consciência que seu processo de luto não é exclusivo. Às vezes a dor da perda de alguém querido é uma oportunidade de estreitar os laços e fortalecer laços afetivos.

NM: Para idosos que vivem em instituições de longa permanência, o problema se agrava ou pelo contrário?

Cantisano: É preciso orientar familiares e cuidadores para a importância em se criar uma rede de relações sociais de suporte, onde haja para o idoso a chance de desenvolver um senso de participação comunitária, vínculos afetivos e o sentido de autoimportância e autocuidado. São pequenos gestos que possuem um poderoso efeito protetivo contra ideação suicida e atenuam os efeitos de possíveis transtornos afetivos.

(Imagem: Pessoas foto criado por rawpixel.com – br.freepik.com)

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1 comentário

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