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Inês Rioto destaca desafios da habitação na esfera pública

Chamar a atenção para a questão da moradia para quem não tem condições de arcar com um condomínio ou uma instituição de longa permanência e a possibilidade de unir esforços públicos e privados em novos projetos foi o que fez Inês Rioto, de 66 anos, pesquisadora e consultora em moradia para pessoa idosa no evento “Moradia 60+ – Desafios, opções e tecnologias para longevidade”, promovido pela Aging 2.0 Brasil e a Ativen, na terça-feira, no auditório da Unibes Cultural, em São Paulo (veja a matéria sobre o evento no blog). Inês também mantém o site Plenitude Ativa, com conteúdo sobre moradia e envelhecimento, e prepara o livro Morar60mais. Confira a entrevista que ela deu ao blog no evento.

Nova Maturidade: Como você a importância de trazer este tema para o evento?

Inês Rioto: Nós achamos que era preciso chamar a atenção um pouco até deles mesmos (empresas do mercado imobiliário) para lembrar que nós estamos falando de públicos de pontas diferentes: aquele que tem condição e vai poder morar em qualquer lugar, e aquele que não tem, mas que a gente pode unir as duas coisas.

NM: Quanto a políticas públicas, o Estatuto do Idoso prevê a reserva de 3% das unidades residenciais em programas públicos, como o Minha Casa, Minha Vida, ou subsidiados.

Inês: A gente não sabe se isso acontece, porque no país ter lei é uma coisa, e a lei ser cumprida é outra. Não tem nada que a gente acompanhe para saber se isso realmente acontece. O Estatuto do Idoso diz, por exemplo, que preferencialmente as unidades devem ser no térreo e, obviamente, eu coloco que deveria ter acessibilidade, porque não é que é no térreo que você não tem que ter acessibilidade, como um banheiro com uma barra que é uma coisa tão simples e nada cara.

NM: Como as pessoas estão lidando com o envelhecimento?

Inês: O brasileiro não aceita que está envelhecendo, se criou aquela ideia tão grande que o pais é um pais de jovem, e a minha geração, eu tenho 66 anos, nós que somos os baby boomers (nascidos no período pós-guerra), é completamente diferente de que quem tinha 66 anos há dez, vinte anos atrás. A gente continua trabalhando, continua na ativa. Em uma aula há pouco tempo na Faculdade de Medicina, na disciplina de Residência Multidisciplinar, perguntei: ‘descreve pra mim o idoso’, e responderam: ‘o idoso é aquele velho enrugado que anda de bengala’. Você vê que mesmo o jovem que está na faculdade ainda tem essa ideia.

NM: E quando a questão é moradia?

Inês: Quando eu pergunto: ‘responde pra mim uma casa pro idoso’, a resposta é: ‘asilo, casa de repouso’. No Brasil a gente troca os nomes agora são comunidades, você não tem mais asilo, são instituições de longa permanência para idosos. O que me preocupa é que na classe AAA a família e a própria pessoa querem uma coisa boa, vão brigar para que aquilo funcione, e quando você pega o público, hoje em dia você aluga uma casa, coloca gente lá dentro, umas camas e acabou. Isso é preocupante porque cada vez vamos envelhecendo mais.

NM: Qual sua avaliação dos projetos públicos já existentes?

Inês: No Estado de são Paulo tem um programa que os outros estados não têm. A Paraíba tem uma vila que é parecida, o Cidade Madura. Em São Paulo, o Vila Dignidade está em 18 cidades e nós temos 645 municípios no Estado, é pouco, mas tem. Não dá só pra gente pensar na parte negativa, vamos achar que isso é ótimo e estimular para que continue e amplie. A Prefeitura de São Paulo tem a Vila dos Idosos no bairro do Pari. É ótimo, vamos estimular, acompanhar e ver se a gente não consegue fazer uma junto com a iniciativa privada, com as PPPs (Parceiras Público- Privadas).

NM: A situação é diferente em outros países?

Inês: Você tem iniciativas públicas na Holanda, nos Estados Unidos, na Espanha, no Reino Unido, também lá é pouco, só que lá eles se prepararam. O Brasil envelheceu muito rápido. Alexandre Kalache (referência em envelhecimento) vive falando que a França levou cem anos, aquilo que o Brasil levou dez. Acho que há muitos outros temas como esse, a gente precisa falar de moradia. Quanto mais a gente falar, mais a gente vai alertando as pessoas. (Katia Brito)

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