Nova Maturidade

Juntando Pontas capacita primeiros empreendedores do cuidado social

Profissionais de diferentes áreas com talentos na culinária, artesanato, jogos, entre outros, e até poliglotas, fazem parte da primeira turma de empreendedores do cuidado social do projeto Juntando Pontas, abraçado pela Associação Beneficente e Cultural B’nai B’rith. A formatura dos 76 primeiros empreendedores foi realizada na sede da instituição em São Paulo no dia 12 de fevereiro.

A iniciativa, idealizada e gerenciada por Silvia Scagliarini, une duas pontas importantes: o estímulo ao empreendedorismo e reinserção de profissionais acima de 40 anos, capacitados como empreendedores do cuidado social, e pessoas idosas que podem contar com um atendimento qualificado com base nos pilares do envelhecimento ativo:  participação, segurança, saúde e educação ao longo da vida. O blog participou do lançamento do Juntando Pontas em setembro de 2019 (leia mais aqui).

O balanço da primeira etapa do projeto é positivo, segundo Silvia: “Qualificamos aproximadamente 80 profissionais que são graduados em diversas áreas do conhecimento. São advogados, assistentes sociais, enfermeiras, e todos passaram pela formação de 120 horas como empreendedor do cuidado social conhecendo a pessoa idosa. É uma satisfação muito grande por parte B’nai B’rith, do projeto Juntando Pontas, poder colocar no mercado profissionais qualificados para atender os idosos.”

Formatura empreendedores do cuidado social juntando pontas silvia scagliarini
Silvia convida os idosos e familiares a se cadastrarem

A próxima etapa é divulgar o projeto para famílias e pessoas idosas que tenham interesse no atendimento gratuito. O Juntando Pontas atende os bairros paulistanos de Pinheiros, Consolação, Lapa, Santana e Vila Clementino. Basta entrar no site – juntandopontas.com.br – e preencher o cadastro. “O familiar ou a pessoa idosa vê qual a região mais próxima da residência e faz o cadastro para ele ser atendido gratuitamente. Vamos avaliar qual a necessidade do idoso e o tipo de profissional que mais se adapta”, explica Silvia.

Capacitação

A capacitação dos empreendedores do cuidado social foi coordenada por Marília Sanches, terapeuta ocupacional especialista em Gerontologia, que atua na capacitação de cuidadores desde 2009. “Nós gerontólogos, especialistas da área, costumamos dizer que ainda é uma população invisível. A sociedade ainda não reconhece as pessoas idosas, não só como detentoras de muitos saberes pelas histórias de vida que construíram, mas também não conseguem reconhecê-las nas suas necessidades. Então o que a gente vê muitas vezes, de modo muito recorrente, são essas pessoas envelhecendo isoladas nos seus domicílios”, contextualiza.

Para ela, o projeto Juntando Pontas beneficia não apenas as pessoas idosas como também familiares sobrecarregados com o cuidado, principalmente mulheres. “O projeto beneficia pessoas de todas as idades. Embora o grande foco do projeto seja o idoso, os familiares também vão se beneficiar. Mulheres que estão com sobrecarga de cuidado poderão ter momentos de respiro, o que é muito importante”.

O curso, segundo a coordenadora, equivale a uma extensão em gerontologia. “Se nós formos pensar de modo simplista podemos dizer que o empreendedor do cuidado social vai ser um acompanhante cultural, mas a gente precisa estar capacitado para poder olhar essa população. Sem essa capacitação a gente não enxerga, primeiro as potências de vida que ainda estão nessas pessoas, e depois a gente não consegue identificar possíveis necessidades ou sinais que possam ser alertas de agravos em saúde ou de outras necessidades”, afirma.

Os conteúdos abrangeram, por exemplo, síndromes geriátricas: “São situações clinicas que não são exatamente doenças, mas importantes na vida dos idosos, como quedas. Um empreendedor do cuidado social, por exemplo, que chega na casa de um idoso e naquele momento ele está cadeirante porque se recupera de uma fatura de quadril, vai entender qual é o impacto que essa fratura gera no declínio funcional. Quando ele está capacitado tem a sensibilidade de olhar para estas questões e presta um atendimento de excelência”.

Visibilidade

Um dos objetivos do curso é o entendimento das diferenças entre o ciclo de envelhecimento natural, chamado de senescente, e senilidade, quando há agravos e comorbidades (duas ou mais doenças). Para a coordenadora, os pontos fundamentais, porém, são a mudança na vida dos empreendedores e trazer visibilidade para as pessoas idosas. “É de uma riqueza, uma alegria e um orgulho muito grande para nós da equipe poder perceber que a formação trouxe não só todo o conteúdo mais aprofundado que eles precisavam para ter esse olhar mais sensibilizado, mais capacitado, mas também perceber como mudou o olhar e o posicionamento”.

Marília, que aos 55 anos vai cursar o mestrado em Gerontologia, ressalta a necessidade de sensibilizar a sociedade para o envelhecimento: “A gente só consegue mudanças, inclusive de politicas públicas mais efetivas, quando a sociedade entende essa necessidade e cobra”. Na foto principal parte da equipe do projeto e da turma de formandos.

Empreendedores

Um dos formandos do Juntando Pontas é Waldir Lorenz, de 65 anos, engenheiro elétrico de formação e atualmente aposentado: “O curso foi muito bom. Foram vários profissionais de varias áreas como gerontologia, nutrição, neuro, musicoterapia, arteterapia, então deu uma ideia geral do que a gente realmente pode desenvolver junto aos idosos. Bom tanto para os idosos quanto para mim o que dá o nome ao projeto Juntando Pontas. Da minha parte vou procurar levar uma alegria e felicidade, e também me fazer feliz junto com os idosos que eu vou atender.”

Representantes da B’nai B’rith fizeram a entrega dos certificados

A caçula da primeira turma é a jornalista Michelle Paz, de 39 anos. Embora sempre tenha tido uma boa relação com idosos, com o curso foi que ela parou para pensar nas necessidades dessa população. “Achei o curso maravilhoso. São vários profissionais diferentes. Uma turma muito boa com pessoas muito bem qualificadas e já recomendei pessoas para as novas turmas. É realmente uma área que está precisando, a população está envelhecendo. Eu espero que dê bons frutos e todo mundo tenha bons atendimentos e a gente possa fazer um bom trabalho”.

Damaris Roberto, 60, professora de História, pós-graduada em Política pública no Brasil e massoterapeuta, agora tem outro olhar sobre o próprio envelhecer. “O projeto nos ajudou muito, proporcionou uma imersão muito grande, diferente das nossas formações iniciais. Hoje nós podemos dizer que somos pessoas capacitadas para o cuidado com a pessoa idosa. Aprendemos a conhecê-los melhor e também a viver melhor como idosos”. A maioria dos participantes são profissionais com 50 anos ou mais.

Para Damaris agora é o momento de fazer a diferença. “Nós percebemos o quanto podemos contribuir para uma velhice ativa e aprendemos a falar para as pessoas que o ser velho não é pejorativo, é muito importante a pessoa envelhecer e viver feliz nessa fase da vida. Foi emocionante o curso, muito proveitoso, com certeza um aprendizado para muito tempo. Gostaria de incentivar outras pessoas a participarem”, destaca.

Segunda turma

As inscrições para a segunda turma de empreendedores do cuidado social já estão abertas e podem ser feitas pelo site do Juntando Pontas ou pela plataforma Maturijobs. “Estamos trabalhando no planejamento. Esse primeiro curso foi dado em tempo recorde para atender ao prazo do projeto. Agora nós estamos revendo várias questões para redimensionar e incluir outros conteúdos que os próprios alunos trouxeram como sugestão”, explica a coordenadora do treinamento Marília Sanches. A expectativa é que as aulas comecem no mês de março. (Katia Brito)

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