Trazer luz para as vozes de pessoas LGBT+ idosas é o propósito do livro “O Brilho das Velhices LGBT+”. A publicação, lançada pela Associação EternamenteSOU em outubro de 2021 com a editora Hucitec, conquistou, em dezembro, o prêmio POC AWARD 2021 na categoria Literatura. A premiação, promovida pelo portal de notícias Gay Blog BR, do aplicativo SCRUFF, elege anualmente instituições e personalidades brasileiras comprometidas com a comunidade LGBTQIA+.
O livro foi organizado por Luís Baron, presidente da EternamenteSOU; o prof. dr. Carlos Eduardo Henning, da Universidade Federal de Goiás, e a profa. dra. Sandra Ortiz, da Universidade São Judas Tadeu. Saiba mais sobre a obra nesta entrevista com Luís Baron, que também é palestrante e criador do canal @topassado_.
Nova Maturidade: Como surgiu a ideia do livro “O Brilho das Velhices LGBT+”?
Luís Baron: A ideia do livro veio naturalmente, como fruto da experiência que a EternamenteSou foi adquirindo ao longo dos anos. Sempre foi uma questão recorrente para nós, onde estão as pessoas LGBT Idosas? O que elas pensam? A partir dessa ideia de trazer à luz estas vozes, foi que se pensou num livro com pessoas LGBT+ idosas, contando suas histórias, mas não como pessoas pretéritas, e sim, vivas e atuantes de alguma forma.
NM: Como foi a elaboração do livro?
Baron: Com esta ideia na cabeça, a EternamenteSOU começou a articular com nosso conselheiro prof. dr. Carlos Eduardo Henning, coordenador do programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFG (Universidade Federal de Goiás), que imediatamente se encantou com a ideia.
O projeto também foi apresentado para uma parceira que sempre nos apoia, a Universidade São Judas (USJ), na pessoa da profa. dra. Sandra Ortiz, que também se encantou e logo colocou o pessoal das Ciências do Envelhecimento da USJ no projeto. Ali nasceu um grupo coeso, democrático e que tornou o livro possível e com a qualidade que ele apresenta.
NM: Como foram escolhidos os depoimentos? Você participou da seleção?
Baron: A escolha das pessoas que prestaram os depoimentos teve alguns critérios etnográficos, levando em conta a raça, identidade de gênero, orientação sexual, condição socioeconómica e localização geografia. Outra condição para a escolha é o vínculo que cada depoente poderia ter com a EternamenteSOU e sempre com pessoas pertencentes à sigla LGBT+.
Tendo estes direcionamentos, participei integralmente na escolha das pessoas depoentes, sempre acompanhado pelos meus colegas das universidades. Eles têm o olhar técnico e eu a obstinação e a vivência como pessoa LGBT+ idosa.
NM: Quanto tempo desde a ideia do livro até a finalização da obra? O trabalho foi afetado pela pandemia?
Baron: Um ano se passou desde a coleta do primeiro depoimento até a entrega dos livros pela editora. A pandemia teve impacto sobre a forma como coletamos os depoimentos, visto que nada poderia ser presencial, e assim foi. Gravamos mais de 56 horas de depoimentos com as 20 pessoas depoentes.
Algumas prestaram seu depoimento pelo celular, outras pelo computador. Tivemos depoimentos que precisaram ser gravados em dois dias por problemas de conexão. Porém, isso nos possibilitou um material muito rico, gravado em vídeo.
NM: Na sua opinião, qual a principal mensagem que o livro traz?
Baron: Como escrevi no prefácio do livro, as experiências narradas ali, poderiam ser as minhas, as suas e a de muitas pessoas que sofreram e sofrem para serem quem são. Mas não é um livro de dores apenas, ao contrário, o livro traz à luz a vivacidade e o brilho que essa população tem e representa, por isso o nome “O Brilho das Velhices LGBT+”.
NM: Quais os planos da EternamenteSOU para 2022?
Baron: Neste momento, passamos por uma reformulação nas nossas atividades e na estrutura da associação. Claro que nosso talento e objetivo principal segue o mesmo, o cuidado psicossocial das pessoas LGBT+ 50+. Promoveremos o V Seminário de Velhices LGBT+, queremos mais trabalho na luta por políticas públicas inclusivas para as velhices, em especial para as velhices LGBT+.
Vamos atrás de uma sede, um lugar onde possamos socializar, ter nosso ponto de encontro e de acolhida, além do atendimento presencial, quando isso for possível. Estamos nos renovando, trabalhando com mais transparência, profissionalismo e a dedicação de sempre. As pessoas LGBT+ idosas tem voz, um mar de possibilidades nas suas existências diversas e estão muito vivas e atuantes!
(Imagem principal: https://pixabay.com/pt/users/nancydowd-1169283/)