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Livro sobre velhices LGBTI+ reúne mais de 20 autores

livro “Introdução às Velhices LGBTI+”,

Junho foi marcado por diversos momentos importantes como a celebração do Dia Internacional do Orgulho LGBT, no dia 28. Mesmo dia do lançamento do livro “Introdução às Velhices LGBTI+”, uma parceria da ONG EternamenteSOU e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – seção Rio de Janeiro (SBGG-RJ). Além do Centro Internacional da Longevidade Brasil (ILC-BR), presidido por Alexandre Kalache, autor do prefácio.

São 24 autores trazendo questões como saúde mental, moradia, dependência, cuidado, violência, direitos, sexualidade, participação social, entre outras. Acesse o livro completo pelo link: http://www.sbggrj.org.br/rj/wp-content/uploads/2019/09/Livro-Introducao-as-velhices-LGBTI.pdf

Os organizadores do livro são Carolina Rebellato, terapeuta ocupacional, professora do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG-RJ; Margareth Cristina de Almeida Gomes, professora adjunta da UFRJ e componente da Comissão de Articulação Técnica Científica da SBGG-RJ, e Milton Roberto Furst Crenitte, médico geriatra, pesquisador sobre envelhecimento LGBT e diretor de projetos da EternamenteSOU. Eles são os entrevistados do blog Nova Maturidade sobre o lançamento desta importante publicação.

Nova Maturidade: Como surgiu a ideia do livro?

livro “Introdução às Velhices LGBTI+”,

Carolina Rebellato: A SBGG-RJ entendeu que a discussão das velhices LGBTI+ deveria ser abordada com tenacidade por uma sociedade científica. Em novembro de 2020, realizamos o 1° Simpósio Virtual sobre o Envelhecimento LGBTI+, que contou com a participação do Centro Internacional de Longevidade – Brasil (ILC-Brasil) e do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS-UERJ). A ideia do livro surgiu após a experiência do simpósio. Inicialmente o projeto era construir uma cartilha. A SBGG-RJ convidou a ONG EternamenteSOU e o ILC-Brasil para participarem da sua concepção e organização, com sugestões de temáticas, de autores e revisores. Todo o processo foi realizado em tempo exíguo, mas a construção foi leve, com troca de conhecimento e afetos. Um verdadeiro encontro!

Milton Crenitte: A gente queria reunir muitas pessoas que estão por aí, publicando, pesquisando e montar um material nacional que reunisse o pensamento dessas pessoas. O livro nasce idealizado pra ser uma cartilha de promoção à saúde. Primeiro a gente queria fazer um material que fosse seja para profissionais da saúde, militantes da área do envelhecimento e da área da saúde LGBTI+, que tivesse acessível nas unidades de saúde, nas faculdades, nas formações em gerontologia para versar sobre promoção da saúde, em pensar em como levar o envelhecimento saudável, o envelhecimento ativo para todos, heterossexuais, cisgênero e também incluindo a população LGBTI+. Nasce assim como uma cartilha, mas a partir do momento que ele vai crescendo, a gente percebeu que se tratava na verdade dessa produção mais vultosa.

Margareth Gomes: O livro surge baseado nessa ideia de ser uma cartilha que as pessoas pegam, manuseiam e facilmente podem fazer uso dos conceitos, aplicar no dia a dia e foi crescendo. Esse crescer foi justamente para que a gente pudesse dialogar com muitos públicos e pegar diferentes das velhices LGBTI+. O campo da gerontologia LGBT é um campo que já tem uma certa produção nas áreas de antropologia social, ciências sociais, ciências da saúde, psicologia, ciências humanas. Porém, aqui no Brasil, não se, não se tem notícia de uma produção que fale, especificamente, das velhices LGBT, no que tange a como cuidar destas pessoas.

NM: Qual o público-alvo?

Carolina: Está voltado para o público diverso: estudantes, profissionais, gestores e sociedade como um todo. A obra reúne 19 capítulos mais o pósfácio, produzidos por 24 autores, que versam sobre temas diversificados, como aspectos teórico-conceituais, direitos sociais e participação social, acesso à serviços de saúde, moradia, interseccionalidade de idade, raça e gênero, sexualidade, sorofobia e estigma na velhice. Produzido de forma cuidadosa, com linguagem simples e atual, o livro mescla evidências científicas e narrativas de vida.

Milton: Profissionais da área da gerontologia, da geriatria, militantes da causa do envelhecimento, militantes da causa LGBTI+, pessoas idosas. A gente tentou ao máximo sair de uma linguagem mais científica ou que fosse de difícil compreensão para uma linguagem acessível para todos, independentemente de uma pessoa estar na academia ou militando, ou se é um profissional de saúde ou uma pessoa que quer saber mais sobre o tema.

Margareth: É sabido que quando um público acadêmico se envolve na produção de um livro, normalmente, isso reflui numa produção que usa dos jargões científicos e que é voltada apenas para esse público. Mas, essa produção, diferente disso, tem essa possibilidade de atendermos um público maior. Isso se dá porque ela faz uso de muitas linguagens, desconstrói os jargões. Inclusive no livro a gente traz um glossário, fala do simples ao complexo. A ideia foi pegar essa diversidade, essa multiplicidade e alcançar pessoas em formação ou que têm interesse sobre o tema.

NM: Como foi a seleção dos autores convidados?

Carolina: Tentamos mesclar autores com experiência teórico-prática em geriatria e gerontologia e autores – pesquisadores e militantes do movimento LGBTI+. A busca pelos autores seguiu após a definição dos títulos provisórios dos capítulos.

Margareth: A seleção dos autores convidados se deu sobre a forma de articulação pela ONG e os nossos parceiros. Ao tratarmos com os parceiros, a gente foi estabelecendo diálogos e pensando: Qual é o público que a gente quer atender? O que a gente quer trazer como uma proposta de escrita? E também temas que sejam úteis pra pensar as velhices no plural. Quando a gente chama uma pessoa da academia, como eu, você vai ter uma narrativa em terceira pessoa, distanciada, competência neutra, mas, quando, ao mesmo tempo, a gente traz uma pessoa que vive uma experiência LGBTI+, como é o caso do Luiz Baron (vice-presidente da EternamenteSOU), a gente traz outro tom, uma narrativa em primeira pessoa, uma narrativa implicada, engajada.

NM: Como o livro deve contribuir para que a causa das velhices LGBTI+ ganhe a devida importância?

Carolina: A aproximação ao tema por profissionais e não profissionais que atuam em geriatria e gerontologia, ativistas, estudantes, gestores e sociedade como um todo pode contribuir para a quebra de barreiras atitudinais e para a garantia de direitos a todos que envelhecem. Apesar de ser apenas uma introdução às velhices LGBTI+, fica evidente a quebra de concepções conservadoras sobre a velhice e a necessidade de ampliação da discussão de forma colaborativa, com diferentes atores e instituições. O mote da atual gestão da SBGG-RJ é “Mais Fortes Juntos”, que possamos seguir fortes e juntos, com coragem, sensibilidade, conhecimento científico e responsabilidade social em prol de todas as formas de viver e envelhecer.

Milton: O aval e a divulgação de três entidades importantes no nosso cenário nacional: ONG EternamenteSOU, a SBGG-RJ e o ILC Brasil, traz uma dimensão muito grande para o nosso trabalho, para a voz dessas pessoas e para fazer com que esse tema saia da invisibilidade. Acho que esse é o primeiro ganho e vai ser muito importante para os próximos anos a gente pensar em reunir pessoas que não foram contempladas em uma segunda publicação. O livro pode contribuir para a formação de profissionais da gerontologia que tenham esse olhar para a diversidade também. Como o nome diz é uma introdução, o nosso objetivo não é terminar ou esgotar o assunto das velhices LGBT, é uma reflexão introdutória para fazer com que as pessoas se interessem mais sobre o assunto.

Margareth: Um dos nossos objetivos era fazer esse conhecimento circular de verdade e acho que isso a gente cumpre automaticamente. Para além que ele seja acessível por todos e qualquer um, e poder desconstruir o que eu chamo de moralidades que cerca esses temas. A velhice não é esquecida na gerontologia, não é esquecida na geriatria, mas é esquecida, sim, do ponto de vista social, da política pública, do valor que cada profissional deveria dar e também das ferramentas que a gente deveria ter como profissional de saúde. A contribuição desse livro pode ser a qualificação da prática profissional, no sentido de sensibilização, da educação permanente e do preparo da nossa linguagem pra cuidar dessas pessoas, como um marco de resistência no debate destes corpos que envelhecem, adoecem e morrem por sua diversidade sexual e de gênero muitas vezes.

(Imagem principal: Amor foto criado por freepik – br.freepik.com)

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