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Meio ambiente e Direitos Humanos: sustentabilidade

Você conhece os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), agenda estabelecida por líderes mundiais na sede da Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) em 2015 para ser cumprida até 2030? São metas como erradicação da pobreza, igualdade de gênero, educação de qualidade, emprego digno, energia acessível e limpa. Esse foi um dos temas do seminário “Transformando nosso planeta”, realizado ontem no auditório do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), da USP, em comemoração ao Dia do Meio Ambiente, celebrado no dia 5 de junho.

Objetivos impactam o meio ambiente e questões sociais

Com bem questionou na abertura do evento, José Gregori, de 88 anos, que foi ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso e integra a Comissão de Direitos Humanos (CDH) da universidade: “o problema é saber se o gênero humano é a segunda pele da natureza, ou se a natureza é a segunda pele do gênero humano?”. O seminário foi promovido pela CDH, a Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) e o projeto Envelhecimento Ativo, todos da USP.

Gregori dedica sua vida a defesa dos Direitos Humanos

Sobretudo um otimista, Gregori, destacou que um dos temas da agenda dos Direitos Humanos é a defesa do meio ambiente. “Há muitas razões para apreensões, até para tristeza em relação a muita coisa que acontece no mundo, mas há outras que nos deixam animado. Essa preocupação que a humanidade tem em relação à natureza é uma coisa muito positiva”, ressaltou.

Para o professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, responsável pela Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP, Tércio Ambrizzi, que compôs a mesa com Gregori, a discussão é em que direção estamos transformando o planeta e salientou a importância da temática da poluição do ar ter sido escolhida neste ano para o Dia do Meio Ambiente.

Tércio Ambrizzi falou dos impactos do aquecimento global

“A temática esse ano é a poluição do ar e não podia ser melhor escolhida, porque implica em várias coisas. Tem impacto imediato na saúde e isto está associado às cidades gerando essa poluição. E também são os gases que geram impacto dentro da nossa atmosfera, contribuindo para o aquecimento global, que tem tido um impacto gigantesco na nossa vida”, explica Ambrizzi.

Entre os principais impactos, o professor destacou os extremos, como as modificações no ciclo hidrológico com períodos mais secos e de muitas chuvas, ondas de frio e de calor. “Estamos agora discutindo efetivamente quais são esses impactos, o que nós precisamos fazer. Nos dias atuais em que se discute se isso é ou não verdade, se torna muito relevante nos termos este tipo de atuação (seminário)”.

Embora a preocupação com as questões ambientais tenha  aumentado nos últimos anos, segundo Ambrizzi, a esperança é de uma mudança de mentalidade nas futuras gerações: “As pessoas estão sentindo mais próximo delas o que está ocorrendo, a poluição dos rios, poluição atmosférica, eventos extremos. Muitos já estão se perguntando o que é isso, como nós estamos contribuindo?  Precisamos forçar mais, principalmente através da educação, porque se nós que já estamos grandinhos não entendemos direito, seria muito importante que os nossos filhos, que os filhos dos filhos pudessem entender como é importante o nosso planeta”.

Prof. Goldemberg destacou a relação entre renda e a poluição

O “Meio Ambiente e poluição” foi abordado pelo professor dr. José Goldemberg, 91, que esta semana integrou o grupo de ex-ministros da Educação que assinaram um comunicado em defesa da autonomia universitária, manifestando a preocupação com as políticas para a educação do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Goldemberg foi ministro de Fernando Collor.

Em sua apresentação, Goldemberg destacou os impactos ambientais e sua relação com a renda e a violação dos Direitos Humanos, como em comunidades vulneráveis que mal tem acesso ao saneamento básico e água tratada. O ex-ministro alertou também para a poluição do ar provocada pelo uso crescente de combustíveis fósseis para o transporte e a crescente produção de resíduos e lixo eletrônico.

“Há razões sérias para nos preocuparmos com o problema da poluição, afetando os Direitos Humanos, provocando fome e dificuldade de acesso aos benefícios que a civilização nos trouxe”, afirmou no evento, destacando ainda os efeitos do aquecimento global e as mudanças na matriz energética brasileira.

Neste sábado, dia 8 de junho, se comemora o Dia dos Oceanos, que também foi um dos temas do evento. A profa. dra. Leandra Gonçalves, do Instituto Oceanográfico da USP, falou da papel de equilíbrio climático dos oceanos e a importância da biodiversidade marinha, especialmente o fitoplâncton, que contribui para a qualidade do ar enviando oxigênio para a atmosfera através da fotossíntese.

Leandra alertou para a invisibilidade dos problemas nos oceanos

Leandra apontou ainda a tendência do surgimento de megacidades costeiras, com as pessoas cada vez procurando o litoral como local de moradia, lazer e trabalho. Sua pergunta foi: “será que estas regiões estão preparadas para este contingente populacional?”. Outros problemas abordados por ela foram o lixo marinho, a existência de várias políticas voltadas para os oceanos que não conversam entre si, o baixo envolvimento da sociedade nestas questões, além das incertezas científicas em razão dos cortes de verbas para pesquisa.

Paulo Artaxo ressaltou a importância das florestas, com destaque para a Amazônia

O prof. dr. Paulo Artaxo abordou a temática das florestas. Segundo ele, há 19 satélites monitorando a saúde das florestas e o ciclo de carbono. E a redução do desmatamento é possível e viável com instrumentos políticos, como já ocorreu em anos anteriores, mas que agora segue na contramão com crescimento acelerado. Levantamentos apresentados por ele indicam que o Brasil está entre os três países que respondem por 85% do desmatamento no mundo. Para ele, as florestas tropicais são a chave para o futuro do planeta.

O impacto socioambiental na qualidade de vida foi abordo por Paulo Almeida

A agenda da sustentabilidade foi o último tema, com destaque para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O prof. dr. Paulo Almeida, da Comissão de Direitos Humanos e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), afirmou que é possível melhorar a qualidade de vida por meio de transformações socioambientais.

O decreto nº 8.892, de 27 de outubro de 2016, criou a Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com representantes da sociedade civil e de governos. Porém , segundo ele, uma pesquisa apontou que a maioria dos brasileiros desconhece os ODSs, reforçando a necessidade de engajamento social e ainda a superação das políticas limitadoras e regressivas. Ele finalizou sua apresentação com uma frase de Isaac Newton: “Construímos muros de mais e pontes de menos”. (Katia Brito)

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