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Moradia 60+: arquitetura, projetos e tecnologia

“Moradia 60+: Presente e Futuro” foi o tema do seminário realizado no dia 12 de dezembro no auditório da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na USP. Pesquisadores, representantes do poder público e da iniciativa privada participaram do evento, promovido pela USP Aberta à Terceira Idade.

O primeiro palestrante foi o professor Egídio Dórea, coordenador da USP Aberta à Terceira Idade. Ele destacou a tendência de crescimento da população com 60 anos e também com acima de 80 anos. Até 2050, segundo ele, 64 países terão uma proporção de idosos tão grande quanto o Japão, o país mais envelhecido do mundo, tem hoje.

Este crescimento da população idosa se dá em meio a desigualdades. Na América Latina e Caribe, conforme dados apresentados pelo professor no “Moradia 60+”, 30% da população vive em condição de pobreza ou extrema pobreza. Aproximadamente uma em cada quatro pessoas vive em assentamentos informais.

Egídio Dórea Moradia 60+ na USP
Egídio Dórea abriu o seminário “Moradia 60+”

Outra importante questão é o número de idosos vivendo sozinhos que triplicou entre 1992 e 2012, passando de 11,4% para 24,9%. A maioria é de mulheres. E ainda o aumento da população idosa funcionalmente incapacitada, que demanda cuidados, sendo que um em cada dez cuidadores tem 75 anos ou mais. Para Egídio Dórea, quando o assunto é moradia, é preciso que o idoso viva onde for melhor para ele.

Pelo mundo

A pesquisadora e consultora em moradia para pessoa idosa, Inês Rioto, apresentou um panorama mundial das opções de moradia oferecidas ao idoso, destacando que nos países desenvolvidos esta questão é pensada desde os 55 anos. No “Moradia 60+”, Inês apresentou exemplos como as casas/moradias compartilhadas em Madri, na Espanha; as comunidades nos Estados Unidos e o complexo “Jikka”, no Japão, com residências no formato de tendas.  Veja mais clicando aqui.

Arquitetura e automação

A arquiteta Flavia Ranieri. da MYS Design Senior (conheça a empresa clicando aqui), abriu sua apresentação no seminário “Moradia 60+” com uma frase de Juliani Pallasma: “A missão da arquitetura é tornar visível como o mundo nos toca”. Segundo ela, a arquitetura voltada para o público 60+, leva em conta a cognição, comportamento, neurociência e design biofílico (criação de ambientes naturais que melhorem a saúde e bem-estar).

Uma arquitetura que deve levar em conta os sentidos, memória e mobilidade, trabalhando cor e luz (conforto e eficiência), sons (conforto acústico), cheiros (ventilação e qualidade do ar), texturas (toque), objetos (objetos e significados) e espaços (função e sensação). E os espaços, segundo Flávia, devem estimular a  conexão com o mundo, evitando a criação de nichos e guetos, e com os próprios idosos, que permitam que eles tenham escolhas e possam continuar se desenvolvendo.

Os projetos de Flávia são criados a partir dos conceitos da Gerontologia com base em características biológicas (saúde, com, por exemplo, academia, horta e piscina), psicológicas (segurança, com apoio home care, paisagismo e apartamento para hóspedes) e social (participação social com sala de convivência e espaço gourmet), e ainda incluindo a educação continuada, com ambientes de coworking e para cursos e treinamentos por exemplo.

Não existe um modelo ideal de moradia para o idoso, segundo Flavia. Ele deve escolher ao que melhor se adapta, e deve ser um local que propicie uma vida plena, onde se possa olhar para o passado, viver o presente e planejar o futuro. Depois dela quem falou foi Marcelo Pires, da AlarmBr, empresa que foi parceira da arquiteta na criação ambiente da Longevidade Expo+Fórum. Leia mais aqui.

Marcelo explicou que uma casa inteligente é aquela que conta com um sistema integrado que controla as principais funções, proporcionando segurança, conforto, eficiência energética, convivência e cuidado por meio da conectividade, interatividade e inteligência artificial. E a tendência é que haja uma rápida expansão do segmento, principalmente com o aumento da velocidade e da qualidade da internet.

Sociedade 5.0

O prof. dr. Chao Lung Wen falou no seminário “Moradia 60+” sobre as tecnologias na sociedade 5.0, que proporcionam automação humanizada para promover bem-estar: computação em nuvem, inteligência artificial (digital, termo que o professor prefere), telemedicina, impressão 3D, Internet das Coisas, energias renováveis, robótica e veículos autônomos.  

Chao Lung Wen Moradia 60+ USP
Chao Lung Wen falou sobre tecnologia e saúde

A “amazonificação” da saúde foi um dos temas abordados pelo professor associado da Faculdade de Medicina da USP e chefe da Telemedicina. A referência é a Amazon, que oferece uma clínica virtual para os funcionários, e outras grandes empresas que vem ganhando mercado também na área da saúde, transformando o paciente em consumidor que tem o maior controle sobre sua saúde.   

Porém, o professor alerta que a automatização personalizada precisa contar com o consentimento do paciente. Entre os novos enfoques necessários, citados por Chao Lung Wen, estão um hospital híbrido, com atendimento também digital, e casas inteligentes com automação e inteligência digital que promovam estilo de vida e bem-estar.

São José do Rio Preto

Candinha Azem trouxe a experiência da Associação Geronto-Geriátrica de São José do Rio Preto (Agerip), no interior do Estado de São Paulo. A ecovila, que hoje conta com tratamento de 100% do esgoto e coleta seletiva, foi criada em 1975 por um grupo de amigos. O objetivo principal é combater a solidão na maturidade e estimular a convivência.

As primeiras moradias foram construídas em 2009. Atualmente são mais de 500 associados com idade acima de 50 anos e aproximadamente 200 deles são moradores, distribuídos em suítes e chalés com total acessibilidade. Diariamente, os moradores participam de atividades físicas, sociais, cognitivas e culturais, e ao longo do ano há festas e bailes temáticos.

Os moradores da Agerip têm ainda o acompanhamento de assistente social e profissionais de saúde. Os demais funcionários recebem treinamento para lidar com as pessoas idosas. Um dos planos para o futuro é a construção de um hospital geriátrico que contribua para a formação de médicos e auxilie a cidade e a região. Saiba mais no site.

Ao final da apresentação de Candinha foi realizada uma mesa para responder perguntas da plateia, com a participação da integrante da Agerip, Flavia Ranieri, Inês Rioto, Marcelo Pires e Chao Lung Wen, como destaca a foto principal.

Empreendedores

Joseph Nigri Tecnisa Moradia 60+ USP
Joseph Nigri apresentou novo empreendimento

Joseph Nigri, CEO da Tecnisa, trouxe a visão do empreendedor para o “Moradia 60+”. A empresa, segundo ele, desde 2008, adota conceitos gerontológicos nos projetos. E para o executivo, a residência atual da pessoa com mais de 60 anos, hoje provavelmente não é o mais adequado às suas necessidades.

A Tecnisa prepara o lançamento de um empreendimento para o público 60+ de padrão mais alto. O objetivo é criar ambientes que sejam desejados pelos futuros moradores. A demanda detectada pela empresa foi de um empreendimento vertical com unidades de 45 a 55 metros quadrados, que mantenha o direito de ir e vir, mas que ofereça monitoramento e cuidado em saúde. Os serviços serão compartilhados para reduzir custos.

Edgard Viana, CEO da Brighton Investimento, apresentou o empreendimento que está sendo planejado pela empresa com diferentes opções de moradia, incluindo Instituição de Longa Permanência (veja mais no link). A ideia é que seja acessível com o custo do metro quadrado semelhante a de um apartamento usado na capital. E tenha suporte em saúde e permita o compartilhamento intelectual com outras gerações, atendendo jovens da comunidade do entorno.

Vida Longa

A última apresentação foi de Élcio Sigolo, da Secretaria de Estado da Habitação, sobre o programa Vida Longa. O blog acompanhou o lançamento no dia 1 de outubro, Dia Internacional do Idoso. Saiba mais no link. O evento terminou com uma mesa para responder perguntas da plateia, com a participação de Joseph Nigri, Edgard Viana e Élcio Sigolo. (Katia Brito)

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