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Não é viver de passado, é se indignar com o presente

Ellen Moraes Senra*

Nas últimas semanas temos ouvido notícias apavorantes,  mas não falo da Covid-19 ou coronavírus: falo de algo muito mais letal e lamentável do que o vírus que assola o mundo nos últimos vezes. Estou aqui para falar de racismo.

Além de psicóloga e escritora, sou professora universitária, algo que me gera ainda mais orgulho da minha trajetória profissional, mas também uma forma legítima de aprender como as informações que passamos adiante são sempre interpretáveis.

Nesse semestre estou ministrando uma disciplina onde trato de relações étnico raciais, algo que na minha formação acadêmica não tive a felicidade te ter uma grade que englobasse a temática, o que só me motiva ainda mais a fazer meus alunos tecerem reflexões pertinentes.

Todavia, independentemente de onde me encontre falando do tema, como palestrante, como escritora ou como professora, sempre recebo feedbacks que insinuam que vivemos do passado dos pretos e nos esquecemos que muitos estamos alcançando posições melhores e ascendendo profissionalmente.

E, confesso, fico indignada quando nosso passado é negado, pois é ele que apoia casos que deveriam nos deixar embraveados, mas que acabam sendo tratados com uma normalidade assustadora.

O presente é de se indignar sim!

As notícias contam casos estarrecedores de mortes violentas e atrocidades que são realizadas como manifestações racistas, algumas ainda envolvendo o componente social, mas como o preto é preto em qualquer lugar, quando morremos viramos estatística.

Alguns se movimentam tentando chamar alguma atenção para o fato, mas o fato real é que vivemos em guerra, e nessa guerra temos o preconceito racial: o preto e aqueles que se abstêm com o discurso de não haver racismo ou de que problematizamos demais quando o assunto é uma injustiça cometida por um preto, pessoas essas que auxiliam ativamente na manutenção da sociedade racista sob a desculpa de que essa luta não é deles.

Essa luta é de todos nós e só deveria haver dois lados: racistas x antirracista.

E no segundo grupo deveria haver pessoas de todos os tons de pele, pois quando falamos de racismo, falamos de humanidade, empatia e assumir lugares sem sermos questionados pela cor da pele ou do local onde moramos.

Chega de sermos tratados como mercadoria, tendo nosso sangue derramado aleatoriamente para o bel prazer de qualquer “força” defensora da sociedade.

Não se trata de nosso passado, se trata de nossa indignação com o que ainda nos acontece diariamente, e estou aqui para dizer que estamos nos juntando e nos fortalecendo e que, a partir da consciência de coletividade e de força de uma maioria, estamos fazendo nossas vozes serem ouvidas e seguiremos fazendo mais, especialmente aquilo que leva para uma reflexão do que precisamos fazer para nos sobressair ainda mais.

Chega de imparcialidade, não há espaço para isso numa sociedade onde o racismo ainda impera e segue ganhando espaço.

Seguiremos nossa luta e viemos para conquistar o que nos é de direito. Vamos seguir!

*Ellen Moraes Senra

Racismo Ellen Moraes Senra

Psicóloga, palestrante, escritora e professora universitária, Ellen escreve livros para todas as faixas etárias, assim como também para o público negro, sempre com a proposta de que o diálogo, o autoconhecimento e o autoamor são as bases para a felicidade tanto consigo mesmo, quanto com as demais relações a serem construídas na vida.  

Dentre suas obras estão “Autoamor: um caminho para a autoestima e regulação emocional feminina”, “A psicologia e a essência da negritude” e “Feiurinha Sabe tudo”. Também é colunista do Jornal Empoderado, da Revista Statto e do Programa Em Destaque, com o quadro “Olhar para Si”. Saiba mais em @psicologaellensenra. (Imagens: Divulgação)

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