Nova Maturidade

Pessoas com deficiência: desafios do envelhecer

Entre os dias 21 e 28 de agosto é comemorada a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla. Alguns grupos de pessoas com deficiência intelectual apresentam maior predisposição para manifestar características do envelhecimento precoce. A informação é de Claudia Lopes Carvalho, fonoaudióloga, integrante a equipe técnica da Fundação Dona Paulina de Souza Queiroz, que oferece atividades a voltadas a esse público.

De acordo com Claudia, que também é pesquisadora clínica com experiência na área de Deficiência Intelectual e Envelhecimento Humano, os adultos com maior vulnerabilidade social e de saúde tendem a envelhecer apresentando maior fragilidade. “Para que os sinais de envelhecimento sejam melhor avaliados é importante a presença de um familiar e/ou cuidador que conviva com a pessoa com deficiência intelectual, principalmente nos casos com maior comprometimento cognitivo e comunicativo”, explica.

A intervenção em pessoas com deficiência intelectual deve ser realizada ao longo de toda vida, segundo a fonoaudióloga: “No entanto, na vida adulta e na velhice é necessária uma intervenção que priorize as necessidades específicas da pessoa atendida. Pessoas com deficiência intelectual com doenças pré-existentes devem receber o tratamento médico e multidisciplinar adequado. Esta abordagem tende a minimizar o impacto do processo de envelhecimento e das doenças no dia a dia”.

Os programas de promoção de envelhecimento ativo são recomendados para todos, orienta Claudia, incluindo as ações educativas de preparação da sociedade para convivência social com idosos com deficiência intelectual. “A intervenção em saúde cognitiva, física e comunicativa tem sido um dos principais modelos de intervenção para este grupo populacional. Esta abordagem pode ser realizada no atendimento em grupo e individual”, destaca.

Duplo preconceito

Fundação Dona Paulina de Souza Queiroz

Pessoas com deficiência intelectual, de acordo com a pesquisadora, sofrem o duplo estigma: envelhecimento e deficiência, o que gera na pessoa com deficiência, familiares e cuidadores medos e estigmas sobre esta fase da vida. “Além do duplo estigma, a sociedade brasileira não convive muito bem com o tema velhice. Este tema será melhor compreendido quando unirmos forças e militarmos pela velhice sem preconceitos, dissociada da presença de doenças e incapacidades”.

O processo de envelhecimento, como bem destaca Claudia e também defende o blog Nova Maturidade, é uma fase da vida, assim como vemos a infância e a adolescência. “Sabemos que envelhecer tem seus percalços e desafios, mas qual fase da vida não tem?  Por isso, a educação para a velhice é tão importante. Precisamos cada vez mais ver o envelhecimento como uma dádiva e vivermos esta fase com planejamento e plenitude”, salienta.

A especialista afirma que existem inúmeras ações que podem ser realizadas, “mas quando olhamos para o grupo de adultos e idosos com deficiência intelectual, entendemos que existe uma demanda que requer um planejamento de intervenção diferenciada se comparada com a população sem deficiência”. Segundo ela, adultos e idosos com deficiência intelectual envelhecem com mais doenças e exclusão social.

Claudia defende que é preciso preparar as comunidades, os familiares/cuidadores e as instituições que convivem com pessoas com deficiência intelectual que envelhecem para que estas pessoas sejam orientadas no manejo da prestação de cuidados e na convivência.

“O bem viver com qualidade para pessoas com deficiência intelectual que envelhecem será possível quando pudermos atender às suas demandas de saúde e sociais, e juntos como sociedade, olharmos para estas pessoas sem preconceito e respeito pelas diferenças individuais”.

Cuidado e cuidadores

O conhecimento sobre o processo de envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual ainda é incipiente e pouco estudado no Brasil, de acordo com a pesquisadora: “O pouco entendimento e o estigma sobre a velhice também alcançam os familiares e os cuidadores.

Além das dificuldades de compreensão sobre este ciclo de vida, existe a negação da velhice por parte de alguns. Não é incomum percebermos no discurso de alguns familiares e cuidadores a permanência da imagem da pessoa com deficiência intelectual como sendo eternas crianças”.

Para facilitar o dia a dia dos familiares e cuidadores, Claudia recomenda a realização de orientações gerontológicas sobre este ciclo da vida e o compartilhamento de estratégias facilitadoras no manejo da prestação de cuidados. Outro ponto importante é “cuidar de quem cuida”, ou seja, os cuidadores precisam cuidar de si, enquanto estão cuidando dos outros.

Na Fundação Dona Paulina de Souza Queiroz, os cuidadores são acolhidos e cuidados desde o primeiro contato para realização da triagem. “Após a vinculação do familiar/cuidador na fundação, a equipe multidisciplinar está apta para acolher e realizar orientações específicas de acordo com a demanda individual e/ou em grupo. Novas ações multidisciplinares serão desenvolvidas, principalmente para o grupo de irmãos cuidadores direto e para os pais mais velhos”, conta Claudia.

Fundação Dona Paulina

 A Fundação Dona Paulina de Souza Queiroz oferece atividades a voltadas a pessoas com deficiência intelectual , como: arteterapia, terapia ocupacional, oficinas de trabalho, iniciação ao emprego, orientação vocacional, estimulação cognitiva, esporte e oficinas de cultura. Essas aulas são utilizadas como ferramenta de desenvolvimento pessoal, intelectual e humano.

A entidade foi oficialmente inaugurada em 19 de julho de 1939, atendendo 20 crianças com algum tipo de deficiência intelectual por benemérito de Dona Paulina de Souza Queiroz. Após desapropriação do local para modernização da cidade, a Fundação passou por alguns locais e parou as atividades. Mas nesse ano, voltou a funcionar na região do Campo Belo, na cidade de São Paulo.

A fundação, porém, segue no modelo híbrido, disponibilizando algumas atividades online. O local tem capacidade para atender até 140 pessoas com deficiência intelectual e TEA (Transtorno do Espectro Autista), que estão entrando em processo de envelhecimento.

(Imagens: Fundação Dona Paulina de Souza Queiroz / Divulgação)

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