Acreditando no poder transformador da moda, Vilma Queiroz, mulher preta, 50+ e plus size que conseguiu realizar seus sonhos após a aposentadoria realiza o evento “Pretinhas na Moda”, que terá sua primeira edição no dia 23 de novembro, a partir das 11 horas, na Fábrica de Cultura Nova Cachoeirinha, na Zona Norte da cidade de São Paulo. A iniciativa abre portas para empreendedoras mulheres negras que atuam no mercado de moda e para mulheres que desejam desfilar. A entrada é gratuita.
Além da Feira de Economia Criativa com empreendedoras pretas que atuam no mercado de moda, o “Pretinhas na Moda” destaca oficinas e palestras com mulheres pretas mostrando suas potencialidades e ensinando outras pessoas a empreenderem em uma mercado tão competitivo como o da moda, evidenciando e reverenciando a ancestralidade e os saberes de todos os tempos.
No Brasil, 40% dos adultos negros são empreendedores, com negócios que movimentam R$ 1,7 trilhão, segundo a Pesquisa Afroempreendedorismo Brasil, realizada em 2021. Entre os objetivos do evento, está incentivar e orientar empreendedoras negras no mundo da moda – as que já atuam no mercado e principalmente aquelas que desejam empreender na área – e a programação totalmente gratuita destaca palestras e oficinas – todas ministradas por mulheres pretas que são referência em seus segmentos.
A realização do evento é do Ministério da Cultura e Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústrias Criativas com recursos da Lei Paulo Gustavo. A produção e direção é de Vilma Queiroz Produções Culturais e Renata Poskus Eventos e Comunicação. Saiba mais no perfil do Instagram @pretinhasoficial
Moda
O relatório “Mulheres na Confecção – Estudo sobre gênero e condições de trabalho na Indústria da Moda” do Ministério Público do Trabalho aponta que 98% de toda a produção nacional é feita por micro e pequenas empresas. Destaque também para o fato que profissionais negros recebem salários 18,5% menores que profissionais brancos.
Mulheres fazem o motor da indústria da moda girar: 75% da força de trabalho em toda cadeia têxtil é formada por mulheres e das respondentes da pesquisa do relatório “Mulheres na Confecção” 44,9% das brasileiras entrevistadas se autodeclaram pardas e 15,2% negras, enquanto entre as migrantes e refugiadas entrevistadas 7% se autodeclaram indígenas.
A moda ainda é muito excludente, segundo Vilma, que após os 50 anos conseguiu realizar alguns de seus sonhos no segmento e hoje desfila em eventos importantes como a Casa de Criadores. Ela aprendeu a costurar aos 12 anos, além de técnicas de patchwork, crochê e tricô.
“Sou negra, 50+ e plus size e por muito tempo não me sentia representada pela moda. Eu já amava moda, tinha o sonho de atuar no mercado de moda, mas não sonhava em ser modelo quando jovem. Aos 47 anos, participei do evento Dia de Modelo Plus Size, da Renata Poskus, gostei muito do resultado, da autoestima, de me ver representada por mim que investi em um curso para modelos plus size”, conta Vilma.
A moda não deve ser algo padrão, segundo Vilma. “É identidade social, representatividade e temos que ter nesse universo pessoas de diversas faixas etárias principalmente 50+, corpos diversos e maior visibilidade a pessoas negras. Hoje realizo eventos de empoderamento feminino negro para que mulheres pretas de todas as idades alcancem seus sonhos, pois sonhar, lutar, acreditar e ter possibilidade é a força que impulsiona as mulheres negras na sociedade”, destacou.
Trajetória
Vilma é filha de uma analfabeta e um mestre de obras. “Sempre gostei de estudar e sabia que precisava me dedicar com afinco aos estudos para poder sonhar e realizar meus sonhos como o de ser professora para ensinar minha mãe a ler e escrever. Ela vendia Avon, essas coisas, quando eu era criança e ajudava a separar os produtos de cada cliente já que estudava e sabia ler”.
Ela começou a trabalhar aos 14 anos, depois se tornou professora e se especializou em educação inclusiva com foco em pessoas com deficiência. Vilma lembra que em sua família era comum a terem como exemplo, incentivando outros familiares a seguirem com os estudos.
Representatividade
A jornalista Glória Maria, primeira repórter negra a aparecer na televisão, inspirou Vilma a correr atrás dos seus sonhos, incluindo o de viajar pelo mundo e de trabalhar com moda, com uma moda que a representasse já que a jornalista tinha um estilo próprio e respeitava também sua ancestralidade.
“A Glória Maria aparecia na TV, fazendo matérias em diversas partes do mundo e sempre desejei conhecer o mundo. Eu me inspirei nela e fui aproveitando cada oportunidade que surgia em minha vida. Sempre tive desafios, mas sabia que para uma mulher negra chegar a realizar seus sonhos era necessário acreditar, enfrentar desafios e abraçar todas as oportunidades”, conta Vilma.
Programação “Pretinhas na Moda”
Oficina “Saiba criar brincos e acessórios com materiais sustentáveis”, das 10 horas ao meio-dia
Suely Rezende, mulher preta, cadeirante e 60+, ensinará como criar brincos e acessórios reaproveitando materiais como tecidos, caixas de leite, garrafas PET, entre outros materiais que seriam descartados e recebem uma nova chance através da criatividade e do reaproveitamento dos materiais. Ela se reinventou sua própria história depois do diagnóstico de uma doença neurológica autoimune que interrompeu sua carreira de enfermeira especialista em UTI e professora de enfermagem.
Palestra “Empreenda! Saiba como criar e tirar do papel a sua marca de moda”, das 13 às 15 horas
Ministrada por Cynthia Mariah, designer de moda na marca que leva seu próprio nome e que em 2024 completa 20 anos de existência e resistência. Ela é professora de moda do Senac e cofundadora do Núcleo de Pesquisas de modas africanas e afro-diaspóricas. Nesta oficina, ela explicará às potenciais microempreendedoras sobre os desafios da criação de uma marca própria e explicará as importantes etapas dessa construção, com muita responsabilidade e criatividade. Das 13 às 15 horas.
Oficina: “Do lixo ao luxo: aprenda a criar novas roupas usando a arte do upcycling”, das 15 às 17 horas
Upcycling é a arte de transformar uma peça antiga, que muitas vezes seria destinada ao lixo, em uma nova peça, gastando pouco dinheiro e empregando muita criatividade com a reutilização de materiais. Assim como na oficina de bijuterias, também é uma aliada à sustentabilidade ambiental. A arte-educadora é a africana de Benin, Japhette Ozias, que escolheu o Brasil para viver e a área da moda como profissão.
Palestra “Moda é arte e ser modelo é ser artista”, das 17 às 19 horas
A arte-educadora Gabrielle Kathleen, a Babi Paula, preta e gorda, sabe bem dos desafios do mundo da moda. Ela que já desfilou em importantes eventos como Casa de Criadores e São Paulo Fashion Week, falará sobre sua carreira, desafios, conquistas, dará dicas de como iniciar na profissão e, para completar, dará aula de passarela.
Fashion Show Pretinhas na Moda, das 19 às 19h30
Na passarela cada uma das marcas expositoras na Feira de Economia Criativa Pretinhas na Moda apresentará um look de sua coleção que será desfilado por mulheres pretas, cis, trans, PcDs, escolhidas através de edital do Pretinhas na Moda. O evento contará com show da cantora e pandeirista Camila Arruda.