Um espanhol, um egípcio, um casal que há dois anos se uniu, ela então com 60 anos, e tantas outras pessoas em busca de novos conhecimentos e caminhos para envelhecer de forma plena. Este era o público que, na noite de ontem, lotou a sala da Unibes Cultural que recebeu a palestra “Qualidade e Curso da Vida”, da profa. dra. Ana Cristina Limongi, diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade e Atuária (FEA) da USP.
Conhecer um pouco da história das pessoas que acompanhavam o evento, me deixou encantada, acho que muito pelos quase 20 anos de jornalismo e pela nova fase que estou vivendo, buscando também um propósito, uma ressignificação da vida. São diferentes velhices, diferentes modos de encarar a vida, de lidar com a aposentadoria.
A palestrante abordou questões como as motivações que, segundo ela, surgem das necessidades e são sustentadas pelo desejo de ser e ter. Estas necessidades estão relacionadas ao ambiente e a cultura, cada um tem seus próprios interesses, sonhos e vontades, e convive com diferentes pressões sociais e organizacionais.
Outro ponto foram as competências do bem-estar, baseadas no conceito C.H.A – Conhecimento, Habilidades e Atitudes, alterado para C.H.A.V.E., incluindo Valores e Emoções. E nos fez pensar em nossos diferenciais; o que nos desafia; nos faz sentir competitivos; na importância de um trabalho que seja sustentável, gerando integração social, credibilidade, realização, e claro garantindo o pagamento das contas, mas principalmente trazendo autonomia e reconhecimento.
A professora destacou que é fundamental a gestão da qualidade de vida, de construirmos uma convivência saudável e sustentável, respeitando a diversidade racial, de gênero e ideológica, e as variações de idade e ocupações. E alertou para as falsas emoções trazidas por drogas lícitas e ilícitas, o consumismo, o autoritarismo, o poder sem legitimidade, a estética sem ética, no perigo de nos tornarmos uma caricatura de nós mesmos. E o que temos feito pela nossa qualidade de vida? Como finalizou a palestrante, e concordo plenamente, é preciso conhecer, compartilhar e viver bem.
Encontros
Não perca o próximo evento em junho, que terá como tema o capital financeiro. Acompanhe a agenda da Unibes e da USP Aberta a Terceira Idade (UATI). “A iniciativa da Unibes é excelente. A Unibes é um foco de irradiação de cultura e conhecimento. Já existia a parceria como o projeto USP Comunidade, e eu procurei o Bruno Assami (diretor- executivo da Unibes). A gente queria extrapolar um pouco, sair de dentro do campus”, destaca o prof. Egídio Lima Dórea, coordenador da UATI.
Os encontros gratuitos acontecem mensalmente há aproximadamente dois anos, trazendo temas da longevidade, como finitude, sexualidade, memória, álcool e drogas, mobilidade, arquitetura, direitos. “Este ano ainda falaremos sobre cuidados paliativos, espiritualidade, meditação, isolamento social, são todos temas que vem e vão, mas estão sempre sendo debatidos porque vão se mostrando cada vez mais importantes”, explica Dórea.
E os debates não são apenas para pessoas acima de 60 anos, são pertinentes para todas as idades. “Todos nós vamos envelhecer, esses problemas não são do agora. Se nós falarmos na questão de finitude, não é um problema de agora, todo mundo tem medo de morrer; a sexualidade na terceira idade é um tabu que existe há décadas e que se mantém. Um problema de todo mundo, porque todos nós envelhecemos”, conclui Dórea.
UATI
A USP Aberta à Terceira Idade (UATI) chega aos 25 anos neste ano, tendo oferecido neste primeiro semestre 5.300 vagas em mil cursos espalhados pelos campi da USP na capital e no interior do Estado. “O programa foi iniciado em 1993, pela professora Ecléa Bosi e antecipou em 10 anos o Estatuto do Idoso. O grande objetivo é oferecer oportunidade para estas pessoas já envelhecidas de frequentarem a universidade, adquirirem novos conhecimentos, e ter uma troca intergeracional”, conta o coordenador.
Os pilares do programa, segundo são abertura, ou seja, é preciso ter uma formação prévia para frequentar um curso da USP Aberta; gratuidade, e a intergeracionalidade, com a oferta de vagas em disciplinas regulares da graduação.
E há espaço para que um número ainda maior de idosos frequentem os campi da universidade. “Há diversas disciplinas que podem oferecer um maior numero de vagas para idosos e disciplinas que ainda não oferecem vagas, um conceito que a gente tenta sempre mudar”, defende Dória. Para ele, há uma ideia de que o idoso vai atrapalhar o andamento do curso, mas, pelo contrário, a troca enriquece todos os envolvidos. (Katia Brito)