A primeira mesa de debates do V Congresso Municipal sobre Envelhecimento Ativo teve como tema Como construir um bairro amigo do idoso?, moderada por Áurea Soares Barroso, mestre em Gerontologia e Doutora em Serviço Social pela PUC-SP. A primeira palestra foi da profa. Yeda Duarte, coordenadora do Estudo SABE – Saúde, Bem-estar e Envelhecimento, que desde o ano 2000 faz o acompanhamento de idosos na cidade de São Paulo, com exceção desse ano de pandemia.
Os pesquisados são na maioria mulheres, com idade média de 74,3 anos. Segundo a professora, há uma relação entre a satisfação maior com a vida e o lugar onde a pessoa vive. Dos entrevistados, 27% afirmaram terem interesse mudar de bairro, devido à violência, ao desejo de ficar mais perto dos familiares e melhor acesso aos serviços de saúde, comércios e escolas. Porém, 76% se consideram mais felizes que as pessoas que o cercam.
Entre os principais aspectos negativos da vizinhança, de acordo com o Estudo SABE 2015-2017, estão o medo de cair por conta dos defeitos do passeio, ratos, ruído/barulho, preocupação ao atravessar a rua e lixo, entulho, mato alto e terrenos vazios.
Os positivos são a proximidade com mercados, feiras e outros pontos de alimentos frescos e a convivência respeitosa com crianças e jovens. Os entrevistados se dividem quando a pergunta é seu bairro é agradável para caminhar, correr ou andar de bicicleta? – 50,9% responderam que não e 49,1% sim.
Vila Clementino
O prof. Dr. Luiz Roberto Ramos (foto), diretor do Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp, palestrou sobre o projeto Bairro Amigo do Idoso da Vila Clementino. A iniciativa começou em 1991 no bairro que 21% de sua população formada por idosos, com bom poder aquisitivo, baixa taxa de analfabetismo e histórico baixo de depressão. O estudo teve início com 1.667 idosos com 65 anos ou mais, e desde 2006, segue 1.500 idosos com 60 anos ou mais.
O Centro de Estudos, segundo o professor, se tornou um lugar de escuta e promoção da saúde e qualidade de vida para a população idosa do bairro, que deveria ser replicado em outras localidades. Também destacou a importância da articulação e desenvolvimento de ações com a parceria da universidade, poder público e sociedade.
Brás e Mooca
A profa. dra. Bibiana Graeff apresentou o trabalho feito em conjunto com as profas. dras. Maria Luisa Bestetti e Marisa Accioly, as três da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Realizado entre 2015 e 2018, “A estratégia do Bairro Amigo do Idoso aplicada aos bairros do Brás e da Mooca: ambiência e construção da cidade para o envelhecimento ativo” contou também com a participação de alunos, professores e profissionais do setor público, privado e terceiro setor. O grupo tem inclusive uma página no Facebook.
A pesquisa apontou aspectos positivos da vizinhança na Mooca como segurança, oportunidades de voluntariado e participação em grupos da terceira idade. Enquanto no Brás, foram apontados problemas como insegurança, lixo nas ruas, atenção maior ao comércio e falta de atividades para a pessoa idosa. Entre as solicitações comuns, mais áreas verdes, manutenção das calçadas, custo da moradia (condomínios na Mooca e aluguéis no Brás), discriminação no acesso ao trabalho remunerado e falta de respeito no transporte público.
Os desafios enfrentados pelo grupo foram o engajamento da sociedade civil e das populações mais vulneráveis, especialmente pessoas em situação de rua, além da articulação setorial e a perenidade de ações com as mudanças na gestão do poder público. Por outro lado, houve importantes conquistas como instalação da faixa de pedestre em frente à Unidade de Referência da Saúde do Idoso (URSI) na Mooca) e a criação de oficinas de teatro para pessoas mais velhas na SP Teatro.
E diante da demanda por mais áreas verdes, o grupo elaborou um projeto arquitetônico para a transformação de um terreno situado no Brás em área verde de convívio intergeracional. A partir de uma ideia de moradores o espaço recebeu o nome de “Espaço Arnesto do Brás: Bairro Amigo da Pessoa Idosa”.
Por meio de votação, os moradores decidiram submeter o projeto, assinado pela arquiteta Carol Pudenzi, à Chamada Cívica, processo seletivo para financiamento de projetos através de emenda parlamentar do vereador José Police Neto (PSD) e, em julho, foi um dos selecionados.
São Paulo
O encerramento da mesa coube à Sandra Gomes, responsável há três anos pela Coordenação de Políticas para a Pessoa Idosa, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Em dezembro de 2017, a cidade assinou o Termo de Adesão ao Programa Cidade Amiga do Idoso, do governo estadual. Em 2018, conquistou o Selo Inicial e no ano passado, o Selo Intermediário.
A cidade agora trabalha pelo Selo Pleno em 2020 com a criação do Fundo Municipal do Idoso e a aplicação do Instrumento de Diagnóstico do Envelhecimento Ativo (IDEA/Idoso), que no contexto da pandemia está sendo feito de forma digital com uso de WhatsApp. Além de capacitação e treinamento, o debate será dividido em grupos formados por seis idosos, um coordenador e um relator.
Para garantir a representatividade e atenção às demandas, afinal são muitas as velhices, a proposta inclui a revisão de realinhamento da metodologia com os representantes da população idosa dos seguintes segmentos: LGBT, imigrante, igualdade racial, população em situação de rua, mulheres, pessoa com deficiência, sociedade civil, fóruns do idoso, unidades básica de saúde e núcleos de convivência do idoso.
Sandra também citou os Indicadores Sociodemográficos da População Idosa Residente na Cidade de São Paulo (leia mais no blog), lançado no dia 11 de fevereiro pela Coordenação, que servem como norteadores para embasar políticas públicas. E como afirmou nada faz sentido se não levarmos conhecimento e empoderamento à pessoa idosa.
A coordenadora finalizou sua apresentação com uma frase da filósofa Hannah Arendt: “A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos. Onde há política pública, há espaço público e onde há espaço público, há diálogo e onde há diálogo, há direitos”.
Congresso
Acompanhe no blog mais destaque do evento como a abertura e a palestra magna de Alexandre Kalache. Leia mais aqui. As apresentações dos palestrantes estão disponíveis no site do evento. Acesse – https://www.envelhecimentoativo.net.br/palestrantes. (Katia Brito)