“…as vezes a saudade é dolorida, mas é uma dor boa, é uma dor de quem viveu, é uma dor de quem tem pistas de amor na sua história!” (Ana Claudia Quintana Arantes)
Valéria Barrio Novo Gonçalves*
É comum ouvirmos as pessoas dizerem que estão com tanta saudade de algo ou de alguém que chega a doer. Mas será possível um sentimento causar dor física? Sim, as vezes a saudade é tão forte que causa um aperto no coração e uma sensação de perda de algo ou falta de algo que dói na alma.
Neste ano de 2020 que se encerrou, tivemos uma situação de pandemia que nos afastou abruptamente e sem planejamento de tudo e de todos. E num piscar de olhos nossas vidas mudaram forçadamente, ficamos confinados com alguns e distante de muitos. Ficamos longe do nosso local de trabalho, da escola, do convívio social, dos familiares, dos amigos e tivemos que nos adaptar a viver de um modo bem diferente.
Todos foram impactados, sem exceção, muitos perderam renda, bens, a liberdade de ir e vir, mas principalmente, muitas vidas foram perdidas…
Todas essas situações nos levam a sentir saudades e de certa forma algumas delas podem ser contornadas pela tecnologia, por novas formas de produzir, mas quando pensamos no luto, até chegar na saudade é um processo lento de reconstrução do vínculo de maneira simbólica.
Quando sentimos saudades, sentimos falta das emoções e das sensações que aquela pessoa ou aqueles momentos causam na gente, são essas sensações que nos levam a saudade.
A expressão utilizada “matar as saudades” é matar a falta que você sente de algo ou de alguém e quando o reencontro é possível, existe o alívio da saudade. Mas para muitos não haverá reencontro, a saudade não poderá ser destruída. Então é aí que passamos a reconstruir os vínculos por meio das nossas lembranças.
Memórias e desafios
É na nossa memória onde ficaram sinais de amor que a pessoa deixou e para reencontrar a emoção da sensação boa de estar com aquela pessoa devemos acessar esses sinais de amor. A reconstrução pode vir por fotos, vídeos, uma música, um perfume ou até mesmo no silêncio dentro de você. Estar em silêncio e buscar os sinais de amor nos conecta com o que foi bom, com a emoção e sensação de bem-estar causada por quem sentimos falta.
Mas essa situação também nos proporcionou momentos jamais imaginados. Nos tirou de uma rotina de estar de um lugar para outro, sem tempo de falar com as pessoas, de brincar com os filhos e muitas vezes de sequer aproveitar momentos em família.
E então ficamos em isolamento e nos deparamos com coisas que não eram comuns no nosso dia a dia… Casais juntos o dia todo, aulas das crianças por vídeo, reuniões, trabalho, faculdade, comemorações, tudo a distância!
Foi difícil, sim foi desafiador! Mas no meu caso, ao olhar para o ano que passou vejo que enfrentei muitas batalhas, mas também tive muitas conquistas, aprendi a perceber o valor de pequenos gestos, a sorrir com o olhar, a abraçar sem tocar e vivi momentos incríveis que não seriam possíveis em outras circunstâncias.
Estive presente e participei de tudo o que meu filho vivenciou, não foi fácil o confinamento, mas vivemos cada minuto juntos em família, vencemos e hoje se escrevo esse texto só me resta agradecer por tudo que vivi e por estar viva!
E sim, vou sentir saudades, pois ter a consciência de que o sofrimento não é inútil também é uma forma positiva de encarar a saudade e a existência de bons momentos em nossa trajetória nos lembram de que todos os dias representam uma chance de encontrarmos felicidade novamente.
Tenho a certeza de que se você olhar para traz e fizer uma reflexão também conseguirá sentir saudade de algum momento vivido em 2020 e com certeza muitas lições foram aprendidas. Reflita!
*Valéria Barrio Novo Gonçalves
Graduada em Administração de Empresas com Habilitação em Comércio Exterior e pós-graduada em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), sempre foi apaixonada pelo tema do envelhecimento. Pós-Graduanda em Gerontologia na Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), realizou cursos como de Estimulação Cognitiva para Idosos pela Associação Brasileira de Gerontologia (ABG).
Valéria, que estreou em junho como colunista do blog Nova Maturidade, é responsável pela Cuidare Santo Amaro, uma franquia de Cuidadores de Pessoas – idosos, adultos e crianças, com ou sem necessidades especiais. Para conhecer mais sobre a Cuidare Santo Amaro, entre em contato pelos telefones (11) 4281-2717 ou (11) 93435-1977 ou pelo e-mail santoamaro@cuidarebr.com.br.
A periodicidade da coluna é mensal. Confira também o texto de estreia de Valéria Barrio: Cuidados e cuidadores em meio á pandemia.
(Imagem principal de Engin Akyurt por Pixabay)