A saúde bucal dos idosos impacta diretamente em diversos aspectos da saúde. O alerta é do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP). Por isso, o acompanhamento do cirurgião-dentista especializado em odontogeriatria é fundamental para manter o bem-estar e longevidade, pois envelhecer é um processo natural da vida e a prevenção de doenças bucais é fundamental.
As principais recomendações são cuidar da higienização bucal, fazer visitas regulares ao cirurgião-dentista e manter uma vida saudável praticando exercícios físicos. Para a cirurgiã-dentista dra. Tânia e Silva Pulicano Larceda, mestre em prótese dentária, especialista em odontogeriatria e membro da Câmara Técnica de Odontogeriatria do CROSP, fazer essa reserva fisiológica faz toda a diferença.
“A chamada ‘aposentadoria fisiológica’ é aquilo que eu guardei, todas as minhas reservas, tanto em termos físicos, emocionais e sociais (como meus relacionamentos) para que eu envelheça bem. Então, por exemplo, se eu cuidei bem dos meus dentes, se fiz exercícios físicos, a tendência é que eu vá envelhecer com dentes e com mais autonomia. Quanto mais atividades eu fizer, melhor será meu envelhecimento, especialmente em relação àquele que não se preveniu ou que não fez essa reserva fisiológica”.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 41% dos brasileiros com mais de 60 anos perderam todos os dentes, o que afeta a alimentação e a qualidade de vida das pessoas idosas.
Prevenção
Segundo a cirurgiã-dentista, para prevenir a perda de dentes é importante reforçar uma boa higiene bucal, fazer uma escovação correta, o uso de fio dental, bem como realizar visitas regulares ao cirurgião-dentista. “Às vezes, o paciente não tem cárie, mas tem doença periodontal, que é uma doença silenciosa que pode comprometer a gengiva e os ossos, levando até mesmo à perda dos dentes”, explica.
Para prevenir essas doenças, a especialista orienta que é necessário que o paciente tenha boas condições físicas e cognitivas para executar a tarefa de fazer uma boa higiene. Assim, caso ele tenha qualquer tipo de comprometimento de suas funções, seja por alguma redução motora adquirida ou deficiência por conta de condições neurológicas, entre outros fatores, ele precisará do auxílio de terceiros para fazê-lo.
A especialista esclarece que o odontogeriatra é uma espécie de gerenciador do tratamento do paciente idoso, podendo se encarregar parcial ou totalmente do plano de ação escolhido.
Medicamentos
Outro aspecto ligado à saúde bucal dos idosos tem a ver com os medicamentos utilizados. Por isso, segundo a odontogeriatra, é de extrema importância fazer uma boa anamnese para se conhecer todos os remédios que esse paciente toma e seus possíveis efeitos. Segundo ela, muitas medicações, por exemplo, podem causar hipossalivação, que é diminuição da saliva.
“A saliva é um fator de proteção e é superimportante. É comum que ela diminua um pouco com a idade, mas existem algumas situações em que se pode identificar uma diminuição da saliva diretamente ligada à questão da medicação. O uso de alguns antidepressivos, por exemplo, pode acarretar nessa diminuição salivar. Contudo, esse paciente precisa desse tratamento, então temos que encontrar outras soluções e alternativas. Em algumas situações, é possível conversar com o médico e substituir um medicamento por outro”, explicou.
Para amenizar esse quadro de hipossalivação, Dra. Tânia recomenda maior ingestão de água e ainda diz que, dependendo do caso, pode ser indicado o uso de salivas artificiais e adesivos para pacientes que fazem uso de próteses dentárias.
Em outros casos de hipossalivação, o paciente pode ter alguma comorbidade e não saber, como é o caso de um diabetes descompensado, assim como a halitose. Ao perceber isso, o profissional encaminha esse paciente a um especialista para que o diabetes seja controlado. “É uma via de mão dupla. O nosso trabalho muitas vezes é em conjunto com uma equipe transdisciplinar”, diz a cirurgiã-dentista.
Consultas regulares
A prevenção da saúde bucal é uma das formas de se garantir uma maior qualidade de vida. Para isso, é essencial manter as consultas regulares com o cirurgião-dentista, pois ele classificará o estágio de gravidade desse paciente e indicará qual o seu período certo de retorno.
A dra. Tânia explica mais sobre esse assunto. “A gente classifica o paciente em alto, médio e baixo risco de cárie ou doença periodontal. Então, o risco que esse paciente tem define a frequência dele no consultório, que pode ser maior ou menor. Se o paciente for saudável, com autonomia e independente, a gente pode ver essa pessoa com menor frequência. Agora, se esse paciente tem alguma dependência, dificuldade motora ou cognitiva, esse intervalo precisa ser diminuído para evitar que ele chegue no consultório necessitando de tratamento urgente. Então, tudo o que eu puder fazer de preventivo, tanto no sentido de cárie e doenças periodontais quanto na identificação precoce de lesões bucais pré-cancerígenas, por exemplo, é superimportante”.
Ela complementa que usa ferramentas no consultório para fazer testes de rastreio e, assim, identificar também se o paciente tem algum déficit cognitivo ou depressão, o que pode alterar o planejamento do tratamento.
Tratamento bucal
O tratamento pode ser feito em clínicas odontológicas adaptadas ou em home care (atendimento residencial), explica dra. Tânia. “Alguns pacientes atendemos no consultório, outros a gente atende home care. Tem o paciente dependente, o parcialmente dependente e o totalmente dependente. O meu consultório, por exemplo, é adaptado com acessibilidade e pensado de acordo com o tipo de paciente que eu vou receber”.
Para os pacientes que têm cuidadores, é necessário que o cuidador seja orientado sobre como manter a saúde bucal, além de sempre estar atento a lesões na boca para reportar ao cirurgião-dentista. Vale ressaltar que a capacidade de mastigação mantida ou restaurada melhora a nutrição e o estado físico da pessoa idosa.
(Fonte: www.crosp.org.br)