Os múltiplos aspectos do envelhecimento foram debatidos no I Seminário Internacional sobre o Envelhecimento da Pessoa com Deficiência Intelectual. Um grande público prestigiou o Seminário da Apae de São Paulo nos dias 19 e 20 de setembro, no Museu da Inclusão, no Memorial da América Latina, em São Paulo. O blog acompanhou o segundo dia de palestras. Um evento efetivamente inclusivo com todas as palestras com intérprete de Libras.
Leila Castro (leia a entrevista com ela aqui), especialista em envelhecimento da área de Ensino, Pesquisa e Inovação da Apae de São Paulo, conta que o trabalho começou há um ano quando foi desafiada a pensar sobre o que seria discutido. “Nós vemos tantas coisas para serem discutidas, principalmente a gente que acompanha o envelhecimento típico. No nosso caso a ideia foi pensar em um pouco de tudo. A gente não se aprofundou, por exemplo, no que gera uma demência. Entendemos que é preciso mostrar um panorama deste envelhecimento”, explica.
Um dos destaques do primeiro dia do Seminário da Apae de São Paulo foi a presença de Tamar Heller, professora e chefe do Departamento de Deficiência e Desenvolvimento Humano da Universidade de Illinois em Chicago. Ela abriu o Seminário Internacional com a palestra “Envelhecimento saudável em adultos com deficiência intelectual” e participou do painel “Comunidade, cuidados de longa duração e desafios no envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual”. Leila também esteve no primeiro painel, assim como Maria Eliane Catunda, Naira Lemos e Philip McCallion.
O dia inicial do Seminário da Apae de São Paulo foi encerrado com o painel “O futuro das pesquisas em envelhecimento e deficiência intelectual”. Participaram Yeda Duarte, coordenadora do estudo SABE (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), e pesquisadores da Espanha (Ramón Novell Alsina) e dos Estados Unidos (McCallion e Matthew Janicki).
“Falamos da família do cuidador, o primeiro painel foi muito focado nisso. O cuidador também precisa ser cuidado, quais são as suas necessidades. E esse cuidado a gente também trabalha com uma rede. Qual é a comunidade, como a comunidade se relaciona a isso tudo? Também trouxemos pesquisadores que estão já há algum tempo olhando esse segmento da deficiência intelectual”, avaliou Leila.
Segundo dia
O painel “Pesquisas desenvolvidas e contribuições no envelhecimento” abriu o segundo dia do Seminário da Apae de São Paulo. Laura Guilhoto, do Instituto de Ensino e Pesquisa da instituição, mediou a mesa. O painel contou com os pesquisadores brasileiros Michel Naslavsky, Orestes Forlenza, Luciana Mascarenhas Fonseca e Janari Pedroso. Este último da Universidade Federal do Pará apontou os desafios para obter financiamento para pesquisas e a alternativa nas articulações com outras institucionais.
O segundo painel do Seminário da Apae de São Paulo mediado por Karla Giacomin, trouxe um “Panorama e desafios de políticas públicas no envelhecimento”, com o exemplo americano abordado por Matthew Janicki, que é co-presidente do Grupo de Trabalho Nacional dos Estados Unidos sobre Deficiências Intelectuais e Práticas de Demência. Por lá, segundo ele, estuda-se como desenvolver moradias comunitárias para pessoas com demência, porém faltam especialistas para o diagnóstico e centros especializados em Síndrome de Down e demência.
A psicóloga e consultora Ana Rita de Paula abordou os marcos sociais e legais brasileiros, como o Estatuto do Idoso, de 2003, e a Política Nacional da Pessoa com Deficiência, de 2002. Em sua apresentação Ana Rita também ressaltou as interfaces entre a pessoa idosa e a pessoa com deficiência como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) que atende os dois públicos. Pessoas que também compartilham de abandono, preconceito e asilamento, o que, segundo ela, pode ocorrer dentro da própria casa.
Economia e cuidado
Ana Amélia Camarano palestrou no início da tarde do segundo dia do Seminário da Apae de São Paulo sobre “Economia do envelhecimento e cuidados de longa duração: uma visão do envelhecimento”. Economista e doutora em Estudos Populacionais, destacou o despreparo para o envelhecimento e o consequente aumento da população que demandará cuidados por mais tempo. Longevidade que impactará a economia, aumentando gastos públicos e privados com saúde, por exemplo.
O último painel foi “Mercado e Tendências no Envelhecimento”. Willians Fiori comandou a mesa com a participação da Mari Zulian, que falou sobre tecnologia assistiva. Também esteve presente a arquiteta Flavia Ranieri, que trabalha com soluções de desing para o público idoso e destacou soluções para ambientes. Sérgio Duque Estrada, da Aging 2.0 São Paulo, falou sobre a Chamada de Negócios da Longevidade (leia a matéria aqui), e Tassia Chiarelli, sobre empreendedorismo e oportunidades de negócios.
Conteúdo rico
Os painéis do Seminário da Apae de São Paulo trouxeram importantes temas. “Estas pessoas discutem o mercado do envelhecimento que vem crescendo muito. E para a pessoa com deficiência, que soluções a gente pode trazer? Nas outras mesas a gente trouxe discussões muito pautáveis em políticas. Quais são as políticas que a gente tem e o que a gente ainda precisa fazer. Onde conversa a política da pessoa idosa e a política da pessoa com deficiência? Nós trouxemos a realidade de outro país e a realidade brasileira para debater o que a gente já avançou e o que ainda não avançou”, destacou Leila Castro.
O fechamento coube a médica geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e consultora para a Organização Mundial de Saúde (OMS) na área de políticas para o envelhecimento, Karla Giacomin. Ela abordou “Políticas públicas e desdobramentos para um país que envelhece”. Como ela bem frisou e eu concordo, não faltam leis ou normas, mas sim garantias que os direitos se transformem em políticas públicas. E é necessário um esforço para a equidade e atendimento às diferentes velhices com adequações nos mais diversos setores, como saúde, educação, cultura, mobilidade.
O seminário para Leila foi uma forma de compartilhar o conhecimento construído pela Apae de São Paulo ao longo de todo trabalho voltado para o envelhecimento. “Nós estamos em um espaço que é de disseminação de conhecimento. E através de um seminário internacional damos de volta para a comunidade. Uma forma muito humilde de dizer vocês também merecem saber disso e façam o melhor em qualquer lugar. A gente também está aqui para contribuir com esse conhecimento”, finalizou. Saiba mais sobre o trabalho da Apae de São Paulo no site. (Katia Brito / Foto principal: Reprodução Facebook)