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Setembro amarelo: é preciso falar sobre suicídio

Nem covarde, nem herói, quem decide pelo suicídio tem uma doença mental ou mais de uma em alguns casos. A prevenção ao suicídio merece um debate aberto e permanente, que ganha reforço neste mês com a campanha Setembro Amarelo. O dia 10 de setembro, inclusive, desde 2003, é o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. E a afirmação que abre este texto é da psicóloga Luciana Carvalho Rocha, especialista em Suicídio, Luto e Cuidados Paliativos, uma das palestrantes do Festival inFINITO, realizado no início de setembro em São Paulo (confira as matérias sobre o evento no link). Luciana contou no evento sobre o suicídio do marido e destacou a necessidade de “tirar o suicídio do armário”.

A campanha Setembro Amarelo é promovida desde 2015 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Centro de Valorização da Vida (CVV) e Conselho Federal de Medicina (CFM). A especialista alerta que a melhor prevenção ao suicídio é falar sobre os tabus e preconceitos que cercam o tema. Um alerta fundamental já que que dados do Ministério da Saúde revelam que a incidência de suicídios é maior entre idosos em comparação a outras faixas etárias.  

Luciana ressaltou a necessidade de falar sobre suicídio (Katia Brito)

Um termo que aprendi no Festival inFINITO foi posvenção. O apoio e ajuda aos sobreviventes, e não só quem perdeu alguém significativo, mas também as pessoas que tiveram a vida afetada de alguma forma por esta morte. Saiba mais no site do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio (acesse o link), idealizado e cofundado por Karen Scavacini, que também palestrou no evento. Luciana citou em sua palestra que para cada pessoa que se mata, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), seis pessoas são impactadas diretamente e em média pelo menos mais 20 pessoas indiretamente.  

Quebrando o tabu

O grande passo para enfrentar o problema é, sem dúvida, abrir os olhos para uma campanha permanente, que vá além do Setembro Amarelo. O suicídio é responsável por 32 mortes por dia no Brasil, o que totaliza 12 mil por ano. No mundo são mais de um milhão de pessoas que tiram a própria vida anualmente. Segundo Luciana, o suicídio é a segunda causa de morte entre adolescentes e responde por 20% dos acidentes de trânsito.

O silêncio sobre o suicídio, de acordo com a palestrante, vem pelo tabu, o estigma sobre quem pensa na morte e teme procurar ajuda de um profissional de saúde mental. E essa psicofobia, como chamou Luciana, também atinge daqueles que sobrevivem à perda de alguém por suicídio e tem vergonha de falar sobre isso. Por isso, a especialista defende que falar é a melhor prevenção do suicídio.

E como foi dito no início, estas pessoas que cometem suicídio têm doenças mentais, que podem ser depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e abuso/dependência de outras drogas, transtornos de personalidade ou esquizofrenia. Doenças que muitas vezes não são diagnosticado ou tratadas de forma adequada.

Iniciativas

Karen e Izidoro (nos extremos da imagem) participaram do painel ao lado de André Fischer, que falou sobre a questão LGBT, e Carla Hidalgo, sobre os reflexos da tentativa de suicídio na família e na escola (Katia Brito)

Além do Setembro Amarelo, há outras ações como a campanha online #EuEstou, que também conheci no Festival inFINITO. A iniciativa foi criada pelo youtuber PC Siqueira e o produtor M. M. Izidoro, e tem apoio de Karen, do Vita Alere. Izidoro e Karen participaram do painel “Suicídio e suas diversas faces: Vulnerabilidade e pontos de atenção”. A campanha conta com séries de vídeos com dicas sobre como buscar ajuda, identificar alguém que precise de apoio e depoimentos de sobreviventes e de pessoas que tentaram suicídio. Acompanhe no Instagram e no Facebook.

Major Diógenes idealizou o curso que muda a abordagem a tentativas de suicídio (Katia Brito)

Destaque também para o projeto do major Diógenes Munhoz do Corpo de Bombeiros para mudar a abordagem às tentativas de suicídio, substituindo o tradicional distrair e pegar. O curso de Abordagem Técnica a Tentativas de Suicídio, criado por ele, também foi apresentado no festival inFINITO. Profissionais são capacitados para um atendimento humanizado aos tentantes. Aproximação, silêncio, apresentação pessoal e diálogo conduzem a abordagem. O major em sua apresentação destacou que as pessoas abordadas por ele ao longo da carreira tinham algo em comum: nenhuma queria morrer.   

Apoio

Quer saber mais sobre o tema? Fazer do Setembro Amarelo uma campanha permanente? Uma fonte importante é a cartilha “Suicídio: Informando para prevenir” (acesse aqui). Produzida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Conselho Federal de Medicina (CFM), em 2014, a cartilha traz a definição de suicídio, os impactos no Brasil, as barreiras para detecção e prevenção, fatores de risco, abordagem, posvenção e a importância da rede de saúde.

E para quem precisa de ajuda, procure ajuda profissional de saúde (psicólogo ou psiquiatra) se achar necessário, sem medo. Você não está louco, só precisa de apoio. Se preferir, ligue no CVV pelo telefone 188. A ligação é gratuita de todo o país, ou pelo site. Para quem conhece alguém que precisa de ajuda, o CVV recomenda um diálogo aberto, respeitoso, empático e compreensivo. Escute sem julgamentos. (Katia Brito / Imagem principal de Gerd Altmann por Pixabay)

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