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Visão em dia e exercícios de força e equilíbrio ajudam a prevenir quedas

Se quando você pensa em medidas para prevenir quedas de idosos, a primeira imagem que vem a sua mente são reparos em calçadas e outras melhorias de acessibilidade, saiba que o problema é muito maior. Os cuidados com a saúde tem um papel mais importante, como destaca a Rosamaria Rodrigues Garcia, fisioterapeuta, especialista em gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e mestre e doutora em saúde pública.       

“Não adianta nada você ter toda uma cidade adaptada, perfeita para o idoso se locomover, se ele tiver uma catarata, se ele estiver sob efeito de um psicotrópico o tempo todo ou tiver uma fraqueza muscular muito importante. A gente sempre fala que uma cidade que seja adaptada, apropriada para o idoso, ela é apropriada para qualquer idade, mas a gente tem que entender que essas questões intrínsecas também vão ser bastante importantes, ainda que os ambientes estejam adaptados”, destaca Rosa, como é conhecida a diretora técnica da Gerência Especializada em Gerontologia do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) José Ermírio de Moraes.

Rosa ressalta que os riscos ambientais sempre vão existir e é importante que eles sejam reduzidos, principalmente, dentro da casa do idoso onde é maior a incidência de quedas. Porém, ela dá como exemplo da importância dos aspectos de saúde, chamados de fatores intrínsecos, com as instituições de longa permanência para idosos (ILPIs). “Na população institucionalizada, 50% cai pelo menos uma vez por ano, mas por que eles caem se o ambiente é adaptado? A gente fica muito atento a essa questão dos fatores intrínsecos e da intervenção para melhorar força, equilíbrio e corrigir alterações visuais, e não só centrar os esforços na adaptação ambiental”.

Medidas preventivas

Entre as principais medidas para prevenção de quedas, a especialista recomenda tentar eliminar ao máximo as alterações visuais. “Corrigir a catarata principalmente, controlar o glaucoma, evitar ao máximo o descontrole do diabetes para que não tenha uma retinopatia diabética (excesso de glicose que afeta os pequenos vasos da retina)”, explica. Outro ponto é a iluminação, evitando deixar as luzes apagadas e andar no escuro.

Outro fator crucial é a questão da força muscular e do equilíbrio: “Os idosos pelo próprio processo de envelhecimento, de senescência, vão perder massa muscular, força muscular, e existe uma tendência de instabilidade postural. Então é fundamental que ele se envolva nesses programas de fortalecimento muscular, de preferência treinamento resistido e exercícios de equilíbrio para melhorar esse quadro”.

Saúde Prevenção de Quedas Psicotrópicos
É recomendada a retirada gradual de psicotrópicos (Imagem de Christian Trick por Pixabay

O alerta é redobrado para o uso de psicotrópicos (drogas que atuam sobre a mente, como tranquilizantes). “É extremamente importante o desmame gradual e a retirada dos psicotrópicos na medida do possível. Claro que o médico que vai avaliar, mas é fundamental esse controle dos psicotrópicos. São medidas que a gente sabe que tem uma eficácia bastante interessante”, orienta Rosa.

Outro cuidado importante é com os calçados e com os pés com a higiene e corte de unhas. “A gente tem muitos e muitos idosos que andam de chinelo, de meia e chinelo, calçados soltos, e isso é um problema seríssimo porque ele pode tropeçar no próprio calcado e provocar uma queda grave. Outra coisa que é interessante nesse momento de pandemia são os cuidado com os pés. Já foi comprovado cientificamente que a unha comprida e as alterações tróficas dos pés são fatores de risco para quedas, assim como o próprio pé diabético”.

Pets

É preciso cuidado também para que os pets não sejam um risco. Para muitos idosos, principalmente neste período de pandemia, o animal é a única companhia (leia mais sobre idosos e pets aqui). “A gente não é contra de forma alguma do idoso ter o pet, mas a gente sempre orienta deixar o pet em outro cômodo enquanto se está fazendo uma atividade que requer muita movimentação, como, por exemplo, fazer comida, estender roupa, mexer no quintal”, destaca a fisioterapeuta. Uma medida de segurança para o idoso, que pode sofrer uma queda bem grave em situações como esta.  

No momento de brincar com o pet ou fazer um carinho, a recomendação é que os idosos estejam sentados e não de pé. Assim, se evita que um movimento rápido o animal possa ficar entre as pernas do idoso, fazendo com que tropece e provoque uma queda.

Medo de cair

Idoso temem novas quedas e a institucionalização (Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Para o idoso que já caiu, a queda pode ter uma consequência psíquica, deixando a pessoa com medo de cair. “Geralmente ela não é muito considerada justamente por ser uma consequência psíquica. A gente precisa levar em conta e identificar se esse medo está ajudando. O medo pode ser bom no sentido que vai me trazer um cuidado, uma atenção, uma precaução, agora quando esse medo paralisa, ou seja, o idoso deixa de fazer tudo, não sai de casa, mora no andar de baixo da casa por conta disso, ai sim é preocupante e a gente precisa atuar”, ressalta.

Outra consequência que afeta o psicológico da pessoa idosa é a institucionalização. “A família fica apreensiva com o idoso vai ficar sozinho porque ele está caindo e acha por bem institucionalizar o idoso. Ou então o idoso fratura um fêmur e a família não tem como prestar o cuidado, e esse idoso morava sozinho, acaba sendo institucionalizado”, destaca Rosa. Segundo ela, há uma série de desdobramentos em virtude das consequências da queda que podem gerar ou a incapacidade funcional que também é extremamente prejudicial para o idoso ou o próprio óbito, por isso que atenção deve ser muito grande. 

Importância

“A queda é talvez a síndrome geriátrica mais impactante e incapacitante na vida da pessoa idosa. Traz repercussões físicas, psíquicas, sociais, aumenta em muito o custo para família, para os serviços públicos e privados, de proteção social, para o governo como um todo. É importante a gente tornar essas ações de prevenção de quedas permanente”, afirma a especialista. Por isso, o dia 24 de junho foi instituído como Dia Mundial de Prevenção de Quedas.

Em tempos de pandemia, Rosa destaca que é preciso manter a prática de exercícios de força e equilíbrio, manter a mobilidade e a iluminação dentro de casa. Tudo para que o risco não seja ainda maior, diante da necessidade de procurar um atendimento médico. “Acho que a prevenção de quedas é fundamental também nesse momento que a gente está vivendo justamente por proteger o idoso de um possível contato com pessoas contaminadas pelo Covid”.

A prevenção de quedas, de acordo com Rosa, deve trabalhar a conscientização de todos os envolvidos, incluindo o idoso, cuidadores, familiares e profissionais de saúde, desde as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), até o atendimento de especialidades e hospitais. Leia no blog mais sobre o trabalho realizado por ela e a equipe do IPGG durante a Semana de Prevenção de Quedas, que este ano não aconteceu pois as atividades estão suspensa em razão da pandemia. Confira também no link a programação da Semana promovida pelo Sesc São Paulo. (Katia Brito / Imagem de Sabine van Erp por Pixabay

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