Nos últimos anos depois da aposentadoria, Walter Pinheiro, de 62 anos, fez cursos de extensão em Marketing e Mercado Editorial, ambos na USP Aberta à Terceira Idade, e há dois anos integra a turma do Ler e Criar, na Universidade de Direito da USP, no Largo São Francisco. Sempre em busca de novas atividades, especialmente na área cultural, ele também iniciou um curso de desenho no Museu de Arte Contemporânea. “Estou curtindo demais, são vários módulos de artes visuais, desenho, fotografia, xilogravura”, conta.
Assim como ele, sua esposa Regina Silveira, 62, também participa de diversas atividades. Recentemente, eles fizeram parte da segunda turma do projeto Profissão Repórter 60+. “Nós participamos de um programa na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) chamado CriativA Idade e lá conhecemos várias pessoas. Uma dessas pessoas falou que tinha feito, disse falou que ia ter a segunda turma e nós nos inscrevemos”. Confira a matéria sobre o projeto no blog.
O interesse pela área cultural é antigo. Walter cursou Belas Artes, fez uma licenciatura curta de dois anos em Educação Artística, mas não seguiu a carreira. “Logo depois entrei na faculdade de tecnologia, porque já trabalhava na empresa de engenharia. Sou técnico em Edificações pelo Liceu de Artes e Ofícios”, conta.
Depois de 20 anos na área de construção civil, por volta dos 40 anos, ele mudou de profissão. “Não estava curtindo mais. Acho que você tem que fazer o que você curte, não é só questão do dinheiro. Através do meu irmão que é jornalista, eu fui atuar na área editorial. É uma experiência boa, conheci muita gente e participei de muitos projetos”, avalia.
Privilégio
Walter se considera um privilegiado. “Na área de construção, eu participei de projetos maravilhosos, como a reforma do Teatro Municipal de São Paulo, trabalhei no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), participei do projeto e construção de prédios laboratoriais, e na área editorial, eu trabalhei com várias publicações principalmente na área cientifica”, destaca. Ele era responsável pela busca de patrocínios de empresas para livros científicos escritos por médicos, e também atuei em revistas do segmento como a Scientific American Brasil.
Nesta nova fase da vida, os cursos têm como motivação não apenas o aprendizado, mas também conhecer novas pessoas. “É interessante essa convivência, porque se você não tiver esse tipo de atividade você vai ficar enrolado em casa, se não colocar alguns projetos na sua cabeça, e tentar”, incentiva. Outro ponto são as novas possibilidades. “Ás vezes você descobre coisas em você que nem imaginava. Isso é o bacana desses projetos, pode ser um curso de oficina de marcenaria, são atividades para se manter ativo”.
A busca de Walter hoje é por realização. “Eu falo pro pessoal: ‘eu não estou tentando mais trabalhar, eu estou buscando realização’. É fazer o que eu sempre gostei de fazer, pouco me importa se isso vai dar retorno, a questão é dar vazão a sua criatividade, sensibilidade”, salienta. Ele conta que apresentou um projeto para a ESPM que está sendo analisado. “Se der certo, maravilha, ótimo, se não der, não vou me sentir frustrado em nada. Eu não tenho mais essa necessidade de realização profissional. Depois que eu parei de trabalhar, comecei a ter uma vida mais tranquila”.
A preocupação em manter-se ativo, porém, não é compartilhada por todos os amigos. “Tenho um amigo que é diretor de teatro que se mantém na ativa. A atividade artística te dá mais possibilidade de continuar no mercado de trabalho. Tem alguns que procuram manter-se, e tem uns que aposentei, coloquei o pijama e acabou a história. Uma coisa que eu reparo nesses programas é que 80% são mulheres. A mulher quer participar mais, o homem já é mais acomodado”, ressalta, citando porém o exemplo do cunhado engenheiro de 78 anos, que depois que se aposentou aos 53, se tornou jardineiro. “Você tem que estar atento (as limitações da idade) para se cuidar, tem que fazer o que gosta da vida”, finaliza. (Katia Brito)